segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Maçonaria, os problemas se repetem.

 




Choque de gerações, novos tempos, entre outros assuntos que envolvem mudanças na Maçonaria costumam gerar bastante polêmica.

No entanto, este artigo se propõe a demonstrar que nem tudo é o que parece e que, muitas vezes, aquilo que é interpretado como um problema da modernidade, na realidade, não tem nada de novo.

Antes da Era da Informação, a Maçonaria brasileira no geral, bem como uma grande quantidade de lojas em particular, viviam numa espécie de bolha de realidade, isoladas do restante do mundo e da história maçônica em uma série de coisas. Afinal, manuscritos, livros e até mesmo conversas com o resto do mundo ficavam restritos a uns poucos.

Mas a realidade atual é outra. E, através de dez exemplos reais, este artigo demonstrará que muitas vezes aquilo que é percebido como uma mudança ruim, na realidade, nada mais é do que um fenômeno antigo.

 

1) RITUAL CANIBALIZADO?

 

Algum tempo atrás  um irmão me ligou e dizia-se chateado com os desdobramentos do Rito Escocês Antigo e Aceito no Grande.Segundo ele, o ritual havia sido canibalizado e havia uma insatisfação geral na loja com seu conteúdo. Cogitavam até trocar de Potência.

Pedi pra ver o ritual e pude constatar que diversos dos enxertos que foram feitos ao rito nas últimas décadas haviam sido removidos. De modo que aquele era um dos rituais mais próximos do ritual francês de 1829 em prática aqui no Brasil. Quando esclareci isso a meu amigo, ele demonstrou enorme surpresa.

Não importa se alguém é contra ou a favor da revisão dos rituais e eliminação dos enxertos. Fato é que, muitas vezes, os rituais revisados podem se basear numa prática mais antiga. Não se pode considerar que isso seja uma inovação!

 

2) SEM ENTRADA RITUALÍSTICA

 

Numa crítica em 2019/2020 às sessões virtuais, presenciei alguns irmãos dizendo que não poderiam considerar aquilo como sessão porque não havia como ter entrada ritualística em uma sessão virtual.

Independente da posição que alguém tenha sobre sessões virtuais, ocorre que entrada ritualística não é prevista em diversos ritos ou trabalhos. Alguns ritos, entre outros, preveem que os trabalhos comecem com os irmãos já em loja.

Mesmo no Rito Escocês Antigo e Aceito, a entrada ritualística não consta nos primeiros rituais. O que não quer dizer que ela seja ruim. Apenas, não se define Maçonaria a partir desse fato.

 

3) CONTRA O ESPÍRITO DA COISA?

 

Outra crítica às reuniões virtuais diz que conceder graus de forma virtual quebraria o espírito da coisa, já que não teríamos ritualística e a passagem se resumiria a uma mera leitura.

A crítica a isso ser um processo sem graça e bem inferior à teatralidade e às cerimônias das sessões não deixa de ser bastante válida. O problema é que novamente isso é apontado como um problema moderno.

Se alguém atentar para os rituais originais de Charleston do REAA, produzidos no começo do século 19, verá que a ritualística era extremamente simples e os graus eram quase que essencialmente leitura.

A teatralização e maior elaboração das cerimônias foi algo que começou a ser desenvolvido meados do século 19 em diante.

 

4) USO DE NOVAS TECNOLOGIAS

 

Outro problema apontado como recente seria o uso de novas tecnologias.

Porém, uma gravura datando de cerca de 1900, no acervo do museu do Rito Escocês do Supremo do Norte dos EUA (Alexandria-Virginia) mostra um retroprojetor sendo usado em loja para ilustrar o conceito dos graus.

Em outras palavras, a Maçonaria já incorpora novas tecnologias a favor de suas sessões há mais de 120 anos!

 

5) A MAÇONARIA AGORA ACEITA MULHERES?

 

Recentemente, a Grande Loja Unida da Inglaterra postou uma foto conjunta com a Maçonaria feminina.

A foto gerou vários comentários raivosos de maçons brasileiros mas, o que chamou a atenção foram alguns comentários reclamando da ‘modernidade’ no aceite de mulheres na Maçonaria, o que uns classificavam como traição, outros como comércio, uns tantos ainda como o presságio apocalíptico do fim da Maçonaria.

Ocorre, porém, que existem duas Grandes Lojas femininas na Inglaterra com quem a GLUI tem amizade: a Honourable Fraternity of Ancient Freemasons, que foi fundada em 1913, e a Order of Freemasonry for Women, que se tornou estritamente feminina na década de 1920.

Como se pode ver, a Maçonaria feminina na Inglaterra tem literalmente mais de um século. Além de décadas de amizade com a GLUI. Ou seja, não se trata de uma questão recente. Mas ainda são, as mulheres de um lado, e homens de outro. As coisas se dão por r tratados políticos, só isso. O Landmark 18 não foi extinto. Atentem a isso.

 

6) ESTÃO DESRESPEITANDO OS LANDMARKS?

 

Analogamente, não é incomum ver maçons alegando que algo vai contra os Landmarks quando veem coisas que lhes causam estranheza. E qual não é o espanto de muitos ao saber que os landmarks de Mackey, criados em 1858, nunca foram adotados como critério pela Inglaterra, que é quem mais dá as cartas em termos de regularidade maçônica no mundo e tem seus próprios Princípios de Regularidade, nem são adotados como padrão universal pelas Grandes Lojas norte-americanas.

Isso sem contar que, ao longo do século 19, vários compilados de landmarks foram propostos por autores diferentes. Nenhum deles foi adotado de forma universal.

Discussões, portanto, revolvendo em torno de coisas que destoam os landmarks de Mackey também não podem ser tratadas como inovações.

 

7) REVISIONISMO?

 

Não são poucos os que vociferam contra irmãos que se levantam para denunciar as ideias e alegações fantasiosas de autores como Rizzardo da Camino, Jorge Adoum, Jean-Marie Ragon, entre outros. Alegam que fazer tal coisa seria matar a alma da Maçonaria.

Mas, novamente, essa questão está longe de ser uma atitude revisionista moderna.

Muito pelo contrário, a própria loja Quatuor Coronati 2076, da Grande Loja Unida da Inglaterra, foi fundada exatamente porque os maçons ingleses já questionavam desde, pelo menos, meados século 19, as ideias fantasiosas propagadas por alguns sobre as origens e desenvolvimentos da Maçonaria.

E os registros históricos da Quatuor Coronati indicam que a loja questionava ideias lendárias propagadas por ninguém menos do que o próprio James Anderson, autor das famosas constituições que carregam seu nome.

Ou seja, a Maçonaria nunca teve um autor como sagrado ou acima de qualquer crítica, e sempre teve pessoas que criticaram a romantização de suas origens.

 

8) MAÇONS NÃO ESTUDAM MAIS?

 

Igualmente é comum ver irmãos reclamando que nos tempos deles os estudos eram sérios e supostamente muito mais conhecedores de Maçonaria do que atualmente, como se os tempos atuais fossem piores.

No entanto, em 1875, Albert Mackey fez a seguinte reclamação:

 

“No entanto, nada é mais comum do que encontrar maçons que estão em trevas totais sobre tudo o que se relaciona com a Maçonaria. Eles são ignorantes de sua história – eles não sabem se é uma produção de cogumelos hoje, ou se remonta a idades remotas em sua origem. Eles não têm compreensão do significado esotérico de seus símbolos ou suas cerimônias, e dificilmente estão familiarizados com seus modos de reconhecimento. E, no entanto, nada é mais comum do que encontrar tais pseudo-sábios de posse de altos graus e às vezes honrados com assuntos elevados na ordem, presentes nas reuniões de lojas e capítulos, intermediando com o processo, tomando uma parte ativa em todas as discussões e teimosamente mantendo opiniões heterodoxas em oposição ao juízo de irmãos de maior conhecimento.” (Reading Masons and Masons Who Do Not Read)[1]

 

Ou seja, o problema de haver uma grande quantidade de maçons ignorantes, e pior, ostentando altos graus, cargos administrativos, etc. não é exatamente um problema novo.

 

9) AVENTAIS

 

Outra discussão que recentemente presenciei dizia respeito ao Rito Escocês Antigo e Aceito nas Potências da COMAB. Alguns irmãos reclamavam que a COMAB teria “suprimido as rosetas” em prol do típico M. B. no avental de Mestre.

Outros ainda discutiam o padrão dos aventais de Mestre Instalado. Novamente, acusando alguns de quererem inovar.

Ocorre, porém, que um manual dos graus franceses publicado em 1820, em Paris, descreve o ritual de Mestre como tendo justamente o M. B. utilizado pela COMAB.

E, pra piorar, temos o fato de que Instalação é algo inexistente na origem do Rito Escocês Antigo e Aceito, tendo sido incorporada ao rito aqui no Brasil e em outros países. Ou seja, na origem, o REAA não tinha avental de Mestre Instalado, de modo que não importa o padrão, já que não há um padrão original a ser seguido.

 

10) EGRÉGORA

 

Outra preocupação muito constante entre alguns irmãos é que determinadas posturas corporais ou pequenos desvios ritualísticos possam comprometer a egrégora da loja. Reclamam que as novas gerações não atentam para coisas que poderiam supostamente quebrá-la.

Sem entrar no mérito da questão de se egrégora existe ou não, fato é que até pouco tempo atrás não se ouvia falar tal termo em Maçonaria. E ele certamente não figura em nenhum ritual histórico da Maçonaria nos seus principais ritos e sistemas.

Ou seja, ironicamente, o conceito de egrégora é, em si, a inovação, não os desvios que poderiam supostamente comprometê-la!

 

Considerações finais

 

A lista poderia continuar, com dezenas de outros exemplos, mas os dez acima já são mais do que suficientes para ilustrar o ponto.

Como se pode perceber, uma parte considerável dos incômodos levantados por alguns irmãos com as supostas mudanças ou inovações dos tempos atuais ou das novas gerações estão muito longe de ser assim. Pelo contrário, às vezes representam até mesmo um resgate de práticas mais antigas.

É importante compreender que a postura do “porque sim” ou do “sempre fizemos desse jeito nesta loja”, para justificar ideias ou práticas, não sobrevivem à possibilidade de escrutínio que a Era da Informação nos trouxe, em que fontes podem ser checadas e informações outrora tidas como verdadeiras podem ser facilmente invalidadas.

A Maçonaria não corre, portanto, risco de extinção por esse processo. Nem é justo atribuir tais coisas, como alguns fazem, ao “danoso espírito inovador.”

Ela poderá uma dia acabar, por causa da “ignorância” dos Irmãos.

domingo, 28 de novembro de 2021

Hipocrisia em uma Loja Maçônica





 “Uma coisa é o que as pessoas dizem, outra coisa é o que pensam, e outra totalmente diferente é o que elas fazem”

Anônimo

Por algum motivo desconhecido, a nossa sociedade moderna nos ensina e nos molda para sermos hipócritas. E para compreendermos melhor esta ideia vamos primeiro definir o que significa hipocrisia.

A palavra hipocrisia vem do latim hypocrisis, uma expressão usada para se referir ao fingimento que faz parte da arte de atuar. Com o tempo, passou a designar pessoas que fingem comportamentos na vida real. Hoje, é considerado hipócrita aquele que demonstra uma coisa quando, na realidade, pensa e sente de maneira totalmente diferente.

Hipocrisia é quando o seu Venerável Mestre não te trata com devido respeito, e quando você decide (pedir o quite placet) e largar o Loja do dia pra noite e deixa-lo na mão, ele ainda pensará que você é o culpado, por tê-lo deixado a Loja na mão.

Hipocrisia é quando os Irmãos  preferem ficar sentados apenas criticando e reclamando ao invés de levantar, ir lá, e resolver a situação de vez.

Hipocrisia é Irmãos acharem um absurdo as pessoas fazem coisas consideradas "erradas" na  frente dos filhos, entretanto não enxerga nada de errado quando outros Irmãos consomem tabaco e álcool ou brigam com a cunhada  na frente dos mesmos.

Hipocrisia é irmão trair a sua mulher feito doido, e quando ela quiser sair somente com as amigas você ter um ataque de "bode louco".

Hipocrisia é Irmão pertencer a um grupo radical de algum partido político "X" , e quando outro Irmão pergunta por que o partido "Y" em questão ainda não resolveu os problemas da União, eles te respondem: “Ah, mas não é bem assim, blá, blá, blá”.

Hipocrisia são os Irmãos que acham uma falta de respeito, Irmãos  vaiarem ou criticarem  o político fulano de tal,  durante uma cerimônia ou fala na TV, entretanto, não pensam ser uma falta de respeito á forma como eles e seus afiliados tratam diariamente os cidadãos da Nação.

E quando estamos nos referindo especificamente a Maçonaria no Brasil, as maiores hipocrisias estão ligadas diretamente aos "deuses do Olimpo". Por exemplo, as Potências Maçônicas são desunidas, competem entre si e se não dizer, quase se matam, pela hegemonia do poder. Temos inúmeros exemplos desde 1927 com a grande cisão e fundação das Grandes Lojas e por último em 2018 com a cisão em São Paulo, do GOSP e GOB-SP. Como sempre, eles apenas “taparam o sol com a peneira”. E em um determinado dia alguém levanta com a coragem de acionar uma bomba, e arranca o pino, e pronto a explosão está feita. E nós os "vassalos" ajuntamos os cacos, como sempre.

E o mais interessante é que não é somente os mandatários das Potências  que são hipócritas. Os Irmãos  em geral aprenderam muito bem esta atitude. Perceba que os Irmãos ficam só no "Petit Comité", sempre tramando em Loja,  nunca decidiram protestar por nada, aceitam tudo, acham graça de tudo, balançam a cabeça de bode para tudo. Entretanto, diariamente quando as contas chegam nas Loja, descem o pau em tudo e em todos. Mas voltam a cabeça para seus cascos, como tartarugas marinhas. Ou avestruzes na terra.

São os verdadeiros hipócritas e anônimos, pois batem e escondem as mãos.

Para qualquer lado que olharmos atentamente enxergaremos hipocrisia. Os Irmãos ficam chocados com os problemas e as inadimplências em Loja , porém, não dão a mínima para os outros Irmãos que estão desempregados, falidos, doentes e até que morreram. Nada fazem de verdade por ninguém, só falam como papagaio no poleiro e  só olham para seus umbigos, seus carros, seus aventais, pins e anéis de ouro.

E se as maiores hipocrisias estão ligadas diretamente a nossa amada Maçonaria, podes ter certeza de que em segundo lugar vem á hipocrisia dos Irmãos. Faça você mesmo o teste. Um dia fique sem pagar a Loja, ou tente pedir uma ajuda a outros irmãos. Podes ter certeza de que na maioria das vezes, ninguém seguirá os ensinamentos que seus Mestres tentaram lhes ensinar. E lhe darão as costas!

Precisamos elevar templos à virtude e cavar masmorras aos vícios. Precisamos combater a hipocrisia na Maçonaria. Devemos combater a vaidade e o ufanismos maçônico, dos aventais coloridos e dos pavões. Devemos ser discretos, fortes, influentes, para sermos melhores que nossos irmãos do passado.

Começando por deixarmos de sermos "hipócritas"!

Denilson Forato - M.I. 


domingo, 24 de outubro de 2021

*A DIFÍCIL MISSÃO DO RELACIONAMENTO FRATERNO*



“O que vindes aqui fazer, meu irmão?”

- “Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e fazer novos progressos dentro da maçonaria”.

Ah, como é profunda essa resposta e como iremos perceber o quão difícil será nossa missão!

É claro que a missão maçônica é realizada sem pressas e sem prazos definidos e, certamente, em muitos casos partiremos para o Oriente Eterno sem termos completado a nossa tarefa.

Alguns irmãos terão menos dificuldades do que outros, mas todos, sem exceção, passaremos por terríveis crises internas na lapidação da nossa Pedra Bruta.

O maior ou menor grau de desgaste emocional vai depender da nossa estrutura psicológica, do nosso grau de maior ou menor vaidade, da nossa formação familiar e até mesmo cultural.

Enfim, eis os mistérios da maçonaria, os quais somente serão interpretados da melhor maneira possível à medida que vamos percorrendo os estreitos e tortuosos caminhos que nos levam sempre para frente e para o alto, ao encontro da luz que nos permitirá perseguirmos a busca da perfeição.

Enfim, nada é fácil dentro da nossa ordem, pois lidamos com as sutilezas dos mais profundos e intangíveis sentimentos humanos.

Talvez por isso que muitos de nós acabamos por abandonar nossos ideais nas primeiras paradas nas estações do trem da vida.

É preciso dedicação obstinada e a certeza de que, persistindo, deixaremos com que a maçonaria entre em nossos corações antes de entrarmos nela.

Quantas vezes um Irmão vem nos dizer algo para nos ajudar e acabamos por interpretá-lo de maneira errada e nos exasperamos...

Pergunto-me sempre, por que isso ocorre?

Embora ainda não encontrasse a chave para essa indagação, entendo que talvez a forma com que o Irmão nos aborda, o estado de espírito em que nos encontramos naquele instante, o ambiente, enfim, tudo isso deve contribuir para uma boa ou uma má aceitação.

E, se isso tiver algum fundamento, como poderemos contribuir para amenizar tais situações?

Estaria na rispidez da voz do Irmão?

Estaria na falta de “sintonia” entre ambos em relação aos assuntos e objetivos pessoais e da sua Loja?

Estariam nos pré-conceitos do irmão ouvinte que poderia julgar-se “acima das opiniões” daquele irmão interlocutor?

Ou poderia ser uma somatória de tudo isso, aliado ao fato de que nós, Irmãos, não temos nenhuma afinidade fora da Loja, não nos encontramos em família, não nos visitamos ou não nos falamos mesmo que rapidamente no mundo profano?

Sim, porque muitas das vezes não achamos um tempinho, por menor que seja, para ligar ao Irmão, para passar no seu local de trabalho, para tomarmos um cafezinho juntos.

Bem que gostaríamos, mas nos falta tempo...

É mais fácil para nós conseguirmos essa desculpa.

Sim, desculpa, por que tempo a gente poderia conseguir, vai depender do grau de prioridade que colocarmos.

Irmãos devem procurar proteger Irmãos!!!

Mesmo que haja divergências de opiniões entre si.

Mas precisamos saber que um não deixará o outro em apuros.

E nem o colocará em situações difíceis. Nunca.

Mas é comum nos flagrarmos falando mal de irmão, com duras críticas.

E o que é pior, na ausência do Irmão.

É preciso termos consciência de que devemos mudar nossos procedimentos.

Enfim, meus Irmãos, sou da opinião que devemos exercitar sempre a lição primaz de nossa Ordem, Lapidar a Pedra Bruta, praticando a tolerância fraterna e termos consciência de que todos nós podemos falhar uns com os outros, mas devemos pensar que uma crítica dita por um irmão deve ser olhada sempre pelo lado positivo, pois, como nos ensina o pavimento mosaico, há sempre duas maneiras de interpretarmos tudo.

Vamos ficar com o lado bom.

Pensemos a respeito...

Que o Grande Arquiteto do Universo nos ilumine e abra as nossas mentes e os nossos corações, nos permitindo encontrar nossa luz interior e que ela possa florescer em benefício da humanidade.

Ir.Denilson Forato


domingo, 10 de outubro de 2021

POSTURA EM LOJA

 Tudo na vida é feito de bom senso. Posturas desmazeladas em Loja devem ser evitadas para não afrontar o costume composto de educação e respeito aos Trabalhos de uma Loja Maçônica. 


Uma Oficina em trabalho está aperfeiçoando de modo especulativo o “Homem” como elemento primário da Obra Maior. Uma edificação afastada do zelo dos seus construtores estará fadada ao esquecimento, ou simbolizando a obscuridade e o erro.

De maneira geral na Maçonaria brasileira adota-se uma postura demasiadamente exagerada, ou o tipo “filhos de Maria”. O bom senso nos ensina que nem tanto ao santo e nem tanto ao diabo. 

Um obreiro em Loja deve tomar assento elegantemente, porém de forma confortável sem se escarrapachar no assento, e nem mesmo cruzar as pernas. Deve se manter na medida do possível numa postura ereta, podendo cruzar as mãos sobre o avental ou manter os braços estendidos sobre as coxas. 

Também deve se evitar apoiar os cotovelos sobre os membros inferiores denotando-se um aspecto de cansaço e fracasso. Enfim, senta-se normalmente, procurando manter a sola dos pés apoiados no chão.

Outro costume de péssima geometria é o de se mascar chicletes, e ficar desembrulhando balas durante a Sessão. Da mesma forma são os famosos “cochichos” que só tendem a desrespeitar o trabalho daqueles que personificam a Sabedoria, a Força e a Beleza. 

Pior ainda é esse maldito hábito de “tocar trombetas” e fazer proselitismo por se “achar” melhor que os outros pelo simples fato de se possuir qualquer grau acima do de Mestre. Isso é pura vaidade, nada tem a ver como a prática simbólica e fere diretamente a humildade como uma das vigas mestras que sustentam a Sublime Instituição.

VESTIMENTA MAÇÔNICA

 

VESTIMENTA MAÇÔNICA
(traje maçônico)

Basicamente, a uniformização da indumentária visa à harmonização do ambiente e das pessoas, gerando um clima psicológico favorável à integração e ao controle. As diversas organizações uniformizam as pessoas na busca da disciplina, do controle e da integração. É o caso das Forças Armadas, dos Estudantes, das Polícias Militares, das grandes corporações de operários, etc. 

No caso da Maçonaria, a uniformização tem os mesmos benefícios já citados, além de naturalmente, os aspectos, que se somam e que dizem respeito, ao uso da cor preta. Na prática dos trabalhos em nossos Templos, buscamos dentre outras coisas, esotericamente, captarem energias cósmicas, ou fluidos positivos ou forças astrais superiores para nosso fortalecimento espiritual. Da física temos o conceito de que o preto não é cor, mas sim um estado de ausência de cores. As superfícies pretas são as mais absorventes de energias de qualquer natureza.

Então, a indumentária preta nos tornará um receptor mais receptivo e mais que isso, nos tornará também um acumulador, uma espécie de condensador deste tipo de energia. Por outro lado, a couraça formada pela nossa roupa preta, faz com que as eventuais energias negativas que eventualmente possam entrar no Templo conosco, não sejam transmitidas aos nossos Irmãos. Por isso o Maçom veste-se de roupas pretas para participar dos trabalhos em Loja.

A indumentária recomendada para as Sessões Magnas é o terno preto, com camisa branca e gravata preta ou branca. Para as Sessões Econômicas, admite-se o uso do Balandrau, que deve ser comprido e preto, complementado pelo uso obrigatório de calças, meias e sapatos pretos.

A comodidade que oferece ao usuário fez com que o Balandrau se difundisse rapidamente, mas é preciso salientar, ele deve ser comprido e ficar a um palmo do chão, pois é uma veste talar, ou seja, que vai até ao calcanhar. Desta forma, também não são indumentárias maçônicas as “mini-saias” que alguns Irmãos usam como se fosse um Balandrau.

Importante observar que, tanto do ponto de vista lingüístico como do ponto de vista maçônico, preto e escuro não são sinônimos, conforme muitos querem. E, em assim sendo, toda indumentária que não seja preta, embora escura, não é maçonicamente adequada.

Alguns autores são de opinião de que o rigor do traje preto deve ser exigência para as Sessões Magnas, podendo ser livre quanto à cor nas Sessões Econômicas, mas mesmo assim todos são unânimes de que é indispensável o uso do paletó e da gravata.

Cabe ao Venerável Mestre decidir, dentro dos princípios do bom senso e da tolerância em torno das exceções, caso algum Irmão visitante em viagem ou mesmo de algum Irmão do quadro, que por alguma razão plenamente justificável, se apresentar ao trabalho com roupa de outra cor.

O Balandrau Maçônico e seu uso em loja

Embora, na opinião de muitos, não seja esta uma discussão tão importante, é, de fato, uma questão interna de Loja que sempre causa alguns transtornos nas Sessões Maçônicas, entre aqueles que condenam o uso do balandrau e aqueles que o defendem. Para alguns Irmãos, o traje maçônico correto é o terno escuro, de preferência preto ou azul-marinho, especialmente em sessões magnas, sendo tolerado o uso do balandrau.

Outros sustentam a ideia de que tanto em Sessões Magnas, quanto Ordinárias, pode-se usar apenas o balandrau. 
Discussões à parte, para mim o mais importante é o Maçom participar da Sessão com todo o seu coração, imbuído da seriedade que o momento exige. É como diz o ditado “o hábito não faz o monge”.

BALANDRAU [lat. balandrana; it. palandrano] - Capa em feitio de batina, feita de tecido leve e preto.

Embora alguns autores afirmam que o balandrau não é veste maçônica, na realidade o seu uso remonta à primeira das associações organizadas de ofício, a dos Collegia Fabrorum, criada no séc. IV a.C., em Roma.

Quando as legiões romanas saíam para as suas conquistas bélicas, os collegiati acompanhavam os legionários, para reconstruírem o que fosse destruído pela ação guerreira, usando, nesses deslocamentos, uma túnica negra; da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos maçons medievais, quando viajavam para outras cidades, feudos, ou países, usavam um balandrau negro. Assim, o balandrau, que é veste talar – deve ir até os talões, ou calcanhar -, foi uma das primeiras vestes maçônicas.

Teve inicialmente o seu uso ligado às funções do 1° Experto, durante os trabalhos de Iniciação em que atendia o profano na Câmara de Reflexões e na cena de S. João. Acreditamos que o nosso clima tropical, a comodidade que o mesmo oferece ao usuário e especialmente o seu baixo custo fizeram com que se difundisse entre nós.

Segundo Nicola Aslan, a presença do Balandrau remonta à última metade do séc. XIX, tendo sido introduzida na Ordem Maçônica pelos Irmãos que faziam parte, ao mesmo tempo, de irmandades católicas e de Lojas Maçônicas, e que foram, sem dúvida, o motivo da famigerada Questão Religiosa, nascida no Brasil por volta de 1872. Rizzardo Da Camino, escreve:

“O Balandrau surgiu no Brasil com o movimento libertário da Independência, quando os maçons se reuniam sigilosamente, à noite; designando o local, que em cada noite era diverso, os maçons percorriam seu caminho, envoltos em balandraus, munidos de capuz, com a finalidade de penetrando na escuridão permanecerem ‘ocultos’, nas sombras para preservar a identidade”.

Fica aqui, pois esclarecido que o emprego do Balandrau é aceitável e freqüente, na Maçonaria Brasileira, desde que comprido até os pés, mangas largas, de cor preta, fechada até o pescoço e sem qualquer insígnia nele bordada. Mas lembrando sempre: que a consciência do homem está no seu interior e não na roupa.

O negro significa ausência de cor, empresta as sessões um clima pesado de luto; igualando a todos, não haverá distinção para analisar qualquer personalidade; todos emergem em um oceano de neutralidade. Que lições podem tirar desse costume maçônico? Que a parte externa de nós próprios, em certas oportunidades mostra-se em trevas ansiando todos por uma luz.

Lendo alguns artigos de autores maçônicos da atualidade, percebemos que há até entre eles algumas idéias que, se não chegam a se contradizerem, mostram algumas diferenças de pensamento, principalmente em relação ao uso do balandrau em Loja.

Este trabalho visa trazer algum esclarecimento sobre o tema aos meus irmãos da Loja Maçônica Asilo da Virtude, Loja essa que me proporcionou enxergar a luz maçônica e da qual tanto me orgulho. Tentarei ir por partes e peço um pouco de paciência, caso venha extrapolar um pouco o tempo, que eu sei ser de 15 minutos.

A vestimenta maçônica (traje maçônico)

Quando se fala em traje maçônico, logo se pensa em paletó, gravata, sapato preto. Entretanto, temos de levar em consideração que o traje maçônico mesmo é o Avental, sem o qual o obreiro é considerado nu, na acepção de Castellani. Temos de concordar com isto, pois embora a cor da vestimenta (calça, gravata, etc) possa ser diferente para cada Rito ou mesmo dependendo de cada país, o Avental, como diz Jaime Pusch, é a insígnia obrigatória do maçom em loja, não podendo sem ele participar dos trabalhos.

Não há muito que discutir sobre traje maçônico, pois como diz Castellani: “discutir traje em loja é o mesmo que discutir o sexo dos anjos”, devido às variações sofridas nos trajes masculinos através dos tempos, inclusive de povo para povo; em algumas partes do mundo, principalmente em regiões quentes dos estados unidos, os maçons vão às sessões até em mangas de camisa, mas não se esquecem do avental; no Brasil, o traje, antigamente, era previsto nos Rituais (Séc. XIX e início do Séc. XX) como indicação e não imposição, devido à diversidade de ritos.

Posteriormente é que a exigência do traje foi colocada na legislação das obediências, padronizando conforme o rito majoritário no Brasil (REAA); a palavra “terno”, gramaticalmente falando, quer dizer um traje que se compõe tradicionalmente de um trio de peças de roupa: calça, colete e paletó.

Os mais antigos talvez se lembrem que era assim que os homens algumas décadas atrás se vestiam, completando este trio com o uso do chapéu e da bengala. Posteriormente, o colete foi abolido, talvez devido ao clima tropical do Brasil. O terno tornou-se, então, um parelho, ou seja, um par, constituído da calça e do paletó, equivocadamente chamado atualmente de terno.

Grande é a controvérsia do uso ou não de terno ou na ausência deste, o balandrau. No Brasil, e só no Brasil, convencionou-se o uso deste, e de acordo com os estatutos de várias obediências o balandrau é “tolerado” em Sessões Ordinárias.

Traje maçônico segundo o RGF-GOB

O RGF do GOB traz em seu Art. 110 que “Os Maçons presentes às sessões magnas estarão trajados de acordo com o seu Rito, com gravata na cor por ele estabelecida, terno preto ou azul marinho, camisa branca, sapatos e meias pretos, podendo portar somente suas insígnias e condecorações relativas aos graus simbólicos”.

“§ 1º – Nas demais sessões, se o rito permitir, admite-se o uso do balandrau preto, com gola fechada, comprimento até o tornozelo e mangas compridas, sem qualquer símbolo ou insígnia estampado”.

O traje maçônico no RGF é definido em relação às sessões magnas, admitindo-se o balandrau nas outras sessões, de forma eventual. Faço aqui os seguintes questionamentos: Por que se exigiu de forma mais clara somente em relação às Sessões Magnas?

A palavra terno diz respeito ao trio paletó, colete e calça, como sempre foi tradicionalmente e gramaticalmente, ou somente ao paletó e calça, já que a palavra terno quer dizer ternário, trio? A palavra eventual significa um acontecimento incerto, casual, fortuito; o verbete eventualmente no RGF tem o mesmo significado? Se tiver, o balandrau pode ser admitido casualmente, em quantidade incerta? Não deveria conter o RGF uma exclusão de proibição do balandrau em sessão magna, já que é usado pelo experto nas iniciações?

Antes de concluir, quero falar um pouco do que é o balandrau, motivo maior deste trabalho.

Definição, origem e uso do balandrau na Maçonaria

Balandrau – do latim medieval balandrana, designa a antiga vestimenta com capuz e mangas largas, abotoada na frente; e designa também, certo tipo de roupa usada por membros de confrarias, geralmente em cerimônias religiosas. Assim, o balandrau não é exclusividade maçônica.

Embora alguns autores insistam em afirmar que o balandrau não é veste maçônica, o seu uso, na realidade remonta a primeira das associações de ofício organizadas (Maçonaria Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. Quando as legiões romanas saiam para as suas conquistas bélicas, os Collegiati acompanhavam os legionários para reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando nesses deslocamentos uma túnica negra.

Da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos Franco-Maçons medievais (Séc XIV e XV), quando viajavam pela Europa Ocidental, usavam o balandrau negro. Segundo outros autores, o uso do balandrau teve início nas funções do Primeiro Experto, durante os trabalhos de iniciação em que atendia o profano na Câmara de Reflexões.

Para outros, como Jaime Pusch e Rizzardo Da Camino, o balandrau foi inicialmente restritivo à Câmara do Meio, no Grau de Mestre de alguns ritos, mas que depois foi aceito, nos outros graus.

Percebemos, através deste pequeno relato, que o balandrau está presente na história da Maçonaria desde o princípio, pois era uma forma de igualar os participantes e proteger suas identidades através do capuz, principalmente da perseguição da inquisição.

Hoje, a vestimenta é tolerada pelas altas autoridades das potências maçônicas e muitas lojas adotam o balandrau como vestimenta oficial para as Sessões Ordinárias, deixando o terno somente para as Sessões Magnas. Isto acontece muito nas cidades grandes, principalmente em função da distância casa-trabalho-loja maçônica. Outras lojas admitem o uso do balandrau somente para visitantes, desde que seja do mesmo rito da loja visitada.

Algumas conclusões sobre o tema em questão

Diante do que foi exposto cheguei a algumas conclusões que, de antemão, afirmo serem bem pessoais. Não peço a ninguém que concorde comigo, mas que respeite a minha forma de pensar como pretendo respeitar o pensamento alheio. Vamos a elas:

• A verdadeira veste maçônica é o Avental. Sem ele o Obreiro é considerado nu, não podendo participar dos Trabalhos.

• Sob o Avental deve haver, porém uma roupa sóbria e decente, sendo o balandrau uma forma de igualar e uniformizar o traje. O uso do balandrau iguala e nivela os maçons em loja. Nada de exigência de ternos, cores de gravata etc. A igualdade na vestimenta demonstra um desapego a toda e qualquer vaidade humana – tão combatida pela Maçonaria – e nivela os IIr.’. em Loja, por uma única veste.

• Em um ponto, os Irmãos têm opiniões coincidentes: o balandrau é veste talar, deve ir até os calcanhares, e pode ser considerado um dos primeiros trajes maçônicos, sendo plenamente justificado o seu uso em Loja;

• Terno quer dizer um traje que se compõe de calça, colete e paletó. Assim, a maioria dos maçons atuais está irregular em loja, já que usamos somente calça e paletó, duas peças, a que se dá o nome de parelho (par);

• Deve haver um equívoco no RGF do GOB no que diz respeito ao terno, usando este termo no sentido do já citado parelho;

• Se observarmos nosso padrão climático e o tecido mais leve, me parece ser o balandrau uma boa ou, talvez, a melhor e mais justificada alternativa.

O balandrau tira de nós a aparência de riqueza, do saber, da ambição, da vaidade; iguala-nos e nos mostra que, independentemente de qualquer posição profana, somos todos iguais, todos IIr.’. em todos os momentos;

• Concluindo este trabalho, queremos dizer que, de acordo com a vontade da Loja, ou talvez de sua diretoria, e também de acordo com o RGF, procurarei ao máximo comparecer às sessões em nossa Loja de parelho ou, como nós mesmos denominamos o conjunto calça e paletó, de terno, para que assim possa haver mais harmonia nos trabalhos, já que o meu balandrau parece incomodar sobremaneira a Diretoria de nossa Loja;

• O mais importante em uma Sessão Maçônica é o clima fraternal criado a partir de emanações de energia dos Irmãos; – em nossas reuniões, dentro do Templo, muitas são as vibrações emanadas de todos os nossos Irmãos, sejam eles Oficiais ou não. Principalmente durante a abertura do Templo, temos a formação da Egrégora. Este é um momento em que todos nós emitimos radiações, e ao usarmos a veste preta, estaremos absorvendo todas essas energias, reativando os nossos Chacras, ou nossos centros de forças, de emissão e recebimento de energia;

• Quando usamos terno preto ou o balandrau, permanecem descobertos nossos Chacras: frontal, laríngeo e coronário. Assim poderemos emitir, receber e refletir vibrações diretamente em nossos centros de força, pois estes estarão descobertos. Em contrapartida, nosso Chacras mais sensíveis estarão protegidos de enviar vibrações negativas durante os trabalhos.

• E a questão maior que deixo hoje para todos nós é justamente esta: Estamos, de fato, emanando bons fluidos? Estamos de fato vivenciando o amor fraternal? Cada um responda por si e a si mesmo somente, que é o mais importante.

Usos e Costumes em Lojas Maçônicas

Este trabalho tem por objetivo analisar a prerrogativa da liberdade e colocação em prática de Usos e Costumes em Lojas Maçônicas. Justifica-se por ser algo pertinente a estas Lojas, bem como ao fato de que seu entendimento pode ter interpretações diversas. A adoção de alguns Costumes em Lojas pode ocasionar questionamentos diferentes, dependendo muitas vezes de observações pessoais e vantajosas para quem as pratica.

O questionamento destas práticas, em sua pretensão, coloca uma interpretação do conceito e definição em uma maior profundidade, sempre tendo por objetivo acrescentar, ajudar e evoluir cada vez mais em uma busca justa e perfeita. Por que se adotam práticas em Lojas que, em outras do mesmo Rito, estes costumes são abominados e não adotados?

Sabemos que na história, por circunstâncias diversas, Usos e Costumes tornam-se regras. Nas Lojas Maçônicas não foi diferente, pois com o passar dos tempos algumas coisas adotadas, e por serem usuais rotineiramente, tornaram-se regras oficiais. Além de que, com o passar dos anos, regras são alteradas devido à evolução dos tempos e adaptações aos momentos de vida dos segmentos envolvidos. Estas mudanças, quando necessárias, é que devem ser melhores analisadas. Esta análise deve ser feita, necessariamente, em caráter oficial para que não resida o grande descompasso na liberalidade de adoção de práticas que poderão se tornar regras. Urge decisões de instâncias oficiais, normatizando situações adotadas diferentemente por motivos circunstanciais.

Algumas interpretações, devem se aproximar de um consenso, tendo em vista que o objetivo é único.

A liberdade para as mudanças necessárias de regras em Lojas Maçônicas, e isto está autorizado em Manuais com ressalvas, deve permear a análise profunda e histórica do Rito e adotar-se algumas regras particulares, acobertados pela liberalidade do Rito quanto aos seus Usos e Costumes estão descaracterizando-o. Mesmo que esteja bem claro que a atualidade de certas práticas não deve perder o contexto histórico do fato.

Apesar de ser uma premissa básica o entendimento do Rito, na sua primeira e decisiva finalidade, este entendimento fica em segundo plano quando se interpreta de forma errada o que está escrito. Está lá no Manual de Instruções do Rito  – Grau de Aprendiz Maçom: O termo Rito incute nas pessoas o hábito cerimonial. O termo Rito se aplica no sentido de regra, ordem, método, orientação, diretriz, uso e conotações, que impregnam a conduta humana de compromisso com um sentimento preconizado.  Em Maçonaria a aplicação de Usos e Costumes deve ter sempre a observância atenta de suas componentes, entre elas sua temporalidade, não devendo ser confundida, pois, com a tentativa de modificações a serem introduzidas nas regras e normas ritualísticas e administrativas devidamente regularizadas. Exige-se que essas práticas contenham sua habitualidade em grande lapso de tempo, ou seja, observe certa antiguidade.

Reforçar este entendimento apenas traz consigo os elementos que devem ser analisados, entendidos e praticados em Lojas. Quando da adoção de certas normas particulares de costumes em Lojas algumas coisas devem ser levadas em considerações: regras, normas, tradições, culturas, evolução da vida física, temporalidade e outras. Devemos considerar aquilo que nos faz diferentes dos demais, isto é, a tradição, a temporalidade quanto ao seu estágio inicial para que não percamos com o passar dos tempos algumas características que nos fazem diferentes.

Adotar-se certas práticas dentro de uma Loja que são confortáveis ou menos trabalhosas, atitudes estas amparadas em liberalidade dos Usos e Costumes, é afastar-se do caminho da persistência que deve ter um Maçom quanto ao seu esforço físico na busca de uma evolução.

Adotar-se atitudes particulares e, transferi-las para o âmbito de uma Loja é descaracterizar aquele esforço que se deve ter, mesmo que seja penoso, na busca de uma evolução. Não se deve adotar alguns Usos e Costumes em uma Loja porque uma maioria de irmãos achou que deveria ser assim, pois entender que uma maioria é soberana é diferente de uma unanimidade. Adotar algumas coisas pela sua praticidade é incorrer no erro dos que buscam apenas coisas pensando em si próprio e não na busca do coletivo.

Usos e Costumes não devem ser desculpas para adoção de interesses de pequenos grupos. Adaptações devem ser seguidas com relação a sua temporalidade, contudo, de tal modo que nunca fujam daquelas normas preconizadas às suas características básicas.

A adoção de Usos e Costumes, com a retórica baseada em uma simples análise de evoluções apenas ligadas ao calendário de que o mundo evoluiu, passa necessariamente pela análise de suas características iniciais de que a finalidade da evolução do homem em todos os seus aspectos é única e adaptações corriqueiras não devem ser manipuladas apenas visando o conforto dos que as propugnam, pois senão incorre-se no erro de que a evolução dos tempos os transforma em iguais na sua caracterização.

Entender que qualquer evolução pode ser benéfica, necessariamente, não quer dizer que se deve adotá-las, pois decisões de pequenos grupos podem trazer erros em sua concepção. O processo de implantação de regras e normas, necessariamente, têm características próprias e objetivos bem definidos quanto a sua diferenciação. Tentar a aproximação do unânime, quanto à evolução do tempo, e aos seus circundantes que navegam no acaso sem responsabilidades algumas, pode os tornar comuns e descaracterizar aquele grupo de pessoas que buscam, incessantemente, a evolução.

Notam-se em algumas Lojas pequenos grupos tentando adotar práticas que descaracterizam a Maçonaria na sua essência básica, com a simples desculpa que o mundo evoluiu. Nestes casos específicos, numa análise mais profunda, verificam-se adoções de práticas particulares com relação aos rituais que são feitos, sem a preocupação da preservação de uma tradição.

É necessário um entendimento e praticidade mais profunda do que significa Usos e Costumes, mesmo que para isto, tenha-se que adotar certas regras impositivas de fiscalização que podem ser adotadas até mesmo dentro dos referidos grupos.

“Reforma Amiable”

 


Q∴Irm∴ e estudioso M∴M, sinta-se honrado em ter em mãos mais uma obra-prima para os praticantes e amantes do Rito Moderno ou Rito de Fundação da Maçonaria Especulativa.
Em 2018 fizemos a tradução para o português do Regulateur du Maçon com os manuscritos de 1783 que demonstravam a origem do Rito Moderno conforme as práticas da Grande Loja de Londres e Westminster.
Em 2019 tivemos acesso aos manuscritos de 1786 que Roettiers de Montaleau sintetizou em 9 graus traduzindo-os.

Finalmente, nada mais do que justo realizarmos a tradução do Ritual Laico dos graus simbólicos de 1887 que foi adotado no Brasil em sessão do dia 23/06/1892, através do decreto n° 109 de 30/07/1892 do Grão-Mestre Irm∴ Antonio Joaquim de Macedo Soares. Ritual que até hoje é praticado por quase todas as lojas que adotaram o Rito Moderno, porém com diversas alterações. Esta reforma ocorreu após a reforma Murat onde expressava uma imposição dogmática alinhada com o 2º Império Francês e com a Constituição da Grande Loja Unida da Inglaterra de 1815. Após a queda do 2º Império Francês e instaurado o regime republicano de 1870 a 1940 ocorreu como consequência uma nova maneira de pensar o que traduz nestes 3 graus simbólicos desta reforma.

Notem o nível de perguntas que as lojas realizavam com o Recipiendário em 1887 através das suas viagens!
Esperamos que com este nível de conhecimento, possamos em um futuro próximo desenvolver um Rito Moderno Brasil onde a essência do Rito Moderno seja recuperada e a sua prática pura e padronizada.

A Moral, Paixão e Razão, segundo o Iluminista David Hume

 Or. Jaraguá do Sul, 15 de julho de 2018.

Essa peça tem como base a filosofia empírica de David Hume, filósofo escocês, nascido em Edimburgo em 1711, onde faleceu em 1776, e foi influenciado por Descartes e Locke, dois outros filósofos iluministas, representantes do empirismo,  e seus precursores.

A Paixão e a Razão são temas de debate da Maçonaria, pelo menos daqueles que se preocupam com o estudo da filosofia, com a interpretação dos símbolos e sua real aplicação na sociedade pelo exemplo de suas ações, que é o objetivo do construtor social. Debate-se ou estuda-se, melhor dizendo, o uso da razão, que deve se sobrepor à paixão, expressa no telhamento, quando respondemos ao que viemos ali fazer: “Vencer minhas paixões, submeter minhas vontades e fazer novos progressos na Maçonaria”. Essa resposta é dada em todos os telhamentos dos ritos de origem francesa, pelo menos, que já foram, sem dúvidas, desde sua origem, influenciados pelo Iluminismo, empírico ou racionalista, na busca da Verdade a que nos propusemos. Essa verdade é justamente o significado do simbolismo, ou a revelação das virtudes inerentes a cada alegoria.

O Empirismo, escola da qual Hume foi prócer, afirmava que o conhecimento viria da experiência vivida e do que se aprende do mundo externo, usando os sentidos e pela introspecção, avaliação do mundo subjetivo, descartando as afirmativas reveladas pelo misticismo ou baseados em suposições a priori (a princípio), mesmo quando aparentemente lógicas.

No seu livro, Tratado da Natureza Humana, talvez sua maior obra, dividida em três tomos, Livro do Entendimento, Livro das Paixões e Livro da Moral, ensina que as paixões ou sentimentos, advêm das ideias e das impressões.  Essas impressões dividem-se em impressões originais vindas dos sentidos, e as secundárias, consequencias das originais.

As impressões originais são internas, primitivas, sentimentos inatos ao físico humano, que geram dores ou prazeres e sempre se renovam. As paixões são secundárias, posto que se derivam da percepção, do que se vê, do que se sabe, da incerteza, e Hume as classificam como diretas (o pesar ou sofrimento, medo, desejo, alegria, aversão), que são as primeiras reações,  ou indiretas (amor, ódio, orgulho, humildade) resultantes das diretas, ou seja, as consequencias daquelas.

Para Hume, a Moral não nasce da Razão, mas da Paixão, porque as decisões morais afetam as ações humanas, ao passo que a razão não as afeta. Afirma que as ações de um individuo são afetadas somente quando o objeto dessa ação é de seu interesse, ou seja, é moral aquilo que me agrada, com o que simpatizo ou imoral aquilo que me prejudica, me causa dor. Se não for de seu interesse, não é moral, ou pouco importa se é ou não.  E só se interessa por aquilo que lhe cause dor ou prazer.

Explica-se. A moral é o que me agrada, e me agrada o que me dá prazer. Ele acreditava ainda que a Razão deveria servir para organizar ou encaminhar as paixões, ou seja, ser sua “escrava”.

Fácil exemplificar, é imoral falar mal de uma pessoa, ainda mais desconhecida ou de fora de seu circulo de amigos ou familiares. Mas, se eu falo mal de um político e vc simpatizar com a ideia, você considera uma atitude moralmente aceita, ainda que eu esteja caluniando, injuriando ou difamando esse político. Todavia, se ele for da sua simpatia, vai me considerar imoral pela difamação, injúria ou calúnia.

Como a moral, portanto, tem uma influência sobre as ações e os afetos, segue-se que não pode ser derivada da razão, porque a razão sozinha, como já provamos, nunca poderia ter tal influência. A moral desperta paixões, e produz ou impede ações. A razão por si só, é inteiramente impotente quanto a esse aspecto. As regras da moral, portanto, não são conclusões de nossa razão. (Hume, 2001, p.497) Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método, in http://www.consciencia.org/david-hume-e-o-entendimento-humano-em-relacao-a-moral

A experiência vivida pelo individuo é que fará a diferença de avaliação moral. Há paixão no julgamento de um e na avaliação do outro, não há Razão.

Se usar a Razão não vai injuriar, caluniar ou difamar, mas analisar os pontos prós e os pontos contra, e deixar a dúvida sobre a sentença para que a Justiça ou cada individuo julgue a questão.  Por isso, a moral é determinada pela paixão e causa os conflitos, porque cada um tem uma bagagem, uma experiência vivida para formar suas ideias e sentimentos.

Na Maçonaria, encontramos pontos em comum com o Empirismo de Hume, quando se fala em Moral, Paixão e Razão. O rito Moderno prega o uso da Razão, também entendido como senso comum aqui, como meio de pacificação entre os indivíduos e de lógica para se atingir o conhecimento ou a Verdade. Usa-se, nele, o método científico da experimentação, da percepção pesquisa do conhecimento já obtido, abrindo-se mão dos conhecimentos ou Verdades absolutas, advindos do misticismo ou de deduções principiológicas. O entendimento das virtudes a serem postas em prática pela sociedade, através do exemplo do maçom, são obtidas pelo estudo racional do que é conhecido e do que se pesquisa e não do “conhecimento místico” ou partido de um princípio esotérico ou mesmo lógico, que não seja comprovado.

Mas estariam os homens, ainda que iniciados, prontos para o uso da Razão? Não! Nem de longe. Somos pura paixão e, ainda que tenhamos como princípio virmos à Maçonaria aprender a dominar as paixões, mostra-se que elas ainda nos dominam. Estamos presos a tradições, usos e costumes dos tempos pré-iluministas, da era do obscurantismo, temos medo da punição divina e nos escondemos atrás de livros religiosos para compensar nosso atrevimento em sermos iniciados em uma ordem “profana” aos olhos daqueles que pregam a Verdade Absoluta a partir do desconhecido.

Seguindo o mestre Hume ainda, as paixões são motivadas pela dor ou pelo prazer que sentimos, e um desses prazeres (ou dor) é a Vaidade. Ela principia a paixão, assim como o ódio, o amor, o apego à materialidade (cargos, títulos, graus em alta numeração). Estamos ligados por demais a esses prazeres e dores.

Conclui-se, então, que o domínio das paixões está no conhecimento das virtudes, que são sentimentos que geram prazer em igual ou maior intensidade do que os prazeres advindos dos vícios, que deveriam causar somente dores. Ao ensinarmos a uma criança esses valores, das virtudes, estamos educando-a a vencer os vícios.

A paixão é inevitável, posto que tem origem em nossos sentidos, portanto, o papel do individuo é vencer a paixão na medida do possível, do conhecimento sobre as virtudes, e praticá-la, experimentá-la, vivenciá-la e assim nos acostumarmos a ela.

Essa é a aplicação da Razão como serva da paixão, conduzi-la para que seja lastreada nas virtudes.

E desta forma, construímos uma nova moral, papel que cabe à Maçonaria estar à frente, ou seja, dos maçons, que aprenderam a dominar suas paixões com a razão e evidenciarem as virtudes como padrão de comportamento.

Se não for esse o papel da Maçonaria, então, temos que retornar ao início da caminhada e novamente pedir a Luz.

 

Marco Antonio Piva de Lima
MI – g. 9
ARLS Fraternidade Acadêmica Ciência e Artes, 3685, RM
Jaraguá do Sul – SC