Minha mãe me ensinou desde criança
uma lição: “Nunca crie expectativas altas demais, porque se o resultado for
mediano, você vai se decepcionar. Já se sua expectativa for baixa e o resultado
for mediano, você ficará feliz”. A lição de minha mãe nada mais é do que um
mecanismo para evitar a decepção. O desapontamento. A frustração. E o maior
deles seria não esperar demais de nada nem de ninguém. Eu acreditei nisso por
muitos anos. Mas hoje vejo que ela estava errada. E já explico o porquê.
Quando uma pessoa passa a
frequentar uma Loja Maçônica, ela cria uma expectativa. Esperamos que na Maçonaria
“a pessoa” seja diferente. Vemos no Venerável Mestre a figura do representante
do G.’.A.’.D.’.U.’. E esperamos do irmão e dos líderes maçônicos,nada menos do
que o melhor. Um comportamento exemplar. Amor transbordante. Só que o tempo
passa e a gente descobre que membros e líderes de maçonaria são seres humanos
absolutamente normais: erram, pisam na bola, desiludem, às vezes até maltratam.
Como nosso nível de expectativa era
altíssimo, a decepção com palavras ou atitudes dentro da maçônaria provoca uma
frustração colossal. Não suportamos que um irmão ou uma autoridade errem como nós erramos. Ficamos magoados.
Feridos. Machucados. E, atendendo ao instinto de defesa do animal humano ante o
predador, fugimos.
Ao fugir, uns se desviam e
apostatam da postura maçônica. Outros mantém vivo o amor pelo G.’.A.’.D.’.U.’.
e caem na ilusão de que se viverem sua fé numa comunidade alternativa não terão
essas decepções, tadinhos. Tornam-se o que passou a se chamar de “desiLojados”.
Esses decepcionados creem que fugindo do templo conseguirão fugir da decepção
com os irmãos. Só que paredes, tijolo e argamassa não carregam em si o
potencial de decepcionar: pessoas carregam. Por isso, os “desiLojados”, dá um tiro no próprio pé, por se iludir com a
falsa promessa de uma segurança fora dos templos. Mas o tempo vai passar e ele
vai descobrir que a decepção e a frustração acompanharão quem convive com
gente.
É por isso que tantos “desiLojados” têm retornado às Lojas :
descobriram que fora dos templos maçônicos pessoas continuam sendo pessoas. Que
se decepcionaram do mesmo jeito. Que a frustração é igualzinha. E é por isso
que afirmo que a moda dos “desiLojados” vai passar. Pois pode levar algum
tempo, mas eles também serão feridos fora dos templos – e isso já está
acontecendo, e muito. Hoje eles não enxergam. Mas espere uma ou duas décadas e
você verá o balanço do pêndulo levá-lo para o outro lado.
O caminho é compreender que o ser
humano, dentro ou fora de um templo maçônico, erra. Decepciona. Frustra. Magoa.
Machuca. E lidar com essa verdade. Hoje eu sei que serei em algum momento
traspassado por palavras e atitudes de irmãos. Pois são maçons, mas também são humanos
que pecam,pisam na bola, magoam e são falhos. Sabendo disso, não agirei como
chorão, fazendo mimimi ante uma decepção: agirei como inteligente emocional e
compreendendo a falibilidade humana. Compreendendo que a Loja Maçônica é corpo.
E quando o pé dói e faz todo o corpo sofrer, a mão não tem culpa, mas ela não
vai se extrair do corpo para se livrar do pé que a faz sofrer. A mão irá
cuidar, tratar, tolerar o pé.
E é isso o que temos de fazer: se
alguém na Loja Maçônica te decepciona, magoa, fere, se “desiLojar” não resolverá
absolutamente nada. Pois você largou o pé doente para lá, não tratou dele e
ainda foi embora, deixando o corpo maneta. E vai se juntar a um corpo
“alternativo”, a uma “comunidade”, a um grupo “adenominacional” onde haverá
outros pés doentes que te farão sofrer, mais dia, menos dia. Ou seja, troca-se
seis por meia-dúzia.
De imediato, se “desiLojar” parece
ser a solução celestial para quem se decepciona dentro da Loja organizada. Em
médio e longo prazos, tal pessoa descobrirá que isso não resolve nada. É apenas
o mesmo com um verniz diferente. E os que se desijojam para não se frustrar
(por achar que agora estão numa comunidade onde já se espera que se errem e ninguém cobra nada de ninguém – e por isso o
nível de expectativa é baixo), viverão a frustração em dobro. Pois chegará o
dia em que, em seu desiLojamento , serão decepcionados, magoados, feridos. Pois
se chamar “adenominacional” não fará ninguém ser menos errante ou
decepcionante.
Não busque lugares para viver onde
sua expectativa seja baixa. Aprenda a viver com a frustração. Pois ela é
inevitável. Pessoas ferem. DesiLojados são pessoas. Meu irmão “desiLojado”, vou
te contar um segredo: você se frustrará na comunidade em que vive. É um questão
de tempo. Quando (e não “se”) isso acontecer, espero que você já tenha
entendido que se decepcionar com o irmão faz parte da jornada maçônica.
A questão não é ser ferido ou não.
A questão é: o que fazer quando isso acontecer. Fugir? Espernear? Criar dissensões?
Ou ficar e colaborar? Suportar os outros em amor? Cuidar de quem decepciona?
Ajudar o pé a sarar e caminhar bem? Mas isso dá trabalho, né? O mais fácil é
pegar nossa trouxinha e nos mudarmos para outro modelo de vida maçônica, nos
enganando que ali não nos decepcionaremos só porque não tem um irmão daquele “jeito”
que tinha na Loja anterior.
Aprenda, querido irmão: onde houver
gente você se decepcionará. O modelo é só a casca. Para não se frustrar com o
ser humano, a única alternativa é fugir do convívio e se trancar num mosteiro
ou numa caverna. Mas cuidado. Lembre-se que, ao fazer isso, você estará
carregando junto consigo… você mesmo. E você tem um gigantesco potencial de
decepcionar a si mesmo, de frustrar a si mesmo, de magoar a si mesmo, de ferir
a si mesmo. Imagine então o potencial que você tem de machucar o próximo. E
cogite a possibilidade de que o problema não esteja no templo, nos irmãos, no
modelo de Loja e Maçonaria : esteja em seu próprio coração de pedra bruta. Sim,
querido: você pode ser o problema. E peço ao G.’.A.’.D.’.U.’. que você consiga
conviver com a pessoa decepcionante, frustrante e magoadora que você é. Como eu
sou.
Ir.’.Denilson forato M.’.I.’.