
A tradição judaica não é dominada por muitos escritores maçônicos que,
por isto mesmo, cometem muitos pecados de interpretação no tocante à sua
influência na maçonaria. Antes de apontar a influência judaica na maçonaria
seria interessante fixar alguns traços da cultura judaica, comumente
desprezados, para não se incorrer em erros lamentáveis. Veja-se, por exemplo,
as colunas do Templo de Salomão que estão citadas em Reis I, 7, 21: “Ergueu as
colunas diante do pórtico do santuário; ergueu a coluna do lado direito, à qual
deu o nome de J; ergueu a coluna da esquerda e chamou-a B”. Quando se pergunta
a um professor de hebraico o que significa BOAZ , ele discorrerá sobre o
significado e a tradução desta palavra. Se perguntarmos, ao mesmo professor, o
que significa BOOZ, muito empregada pelos maçons franceses e repetida pelos
brasileiros e que é uma corrupção de BOAZ, ele não saberá, obviamente, o
significado da palavra, pois ela não tem nada a ver com o hebraico. Quanta
discussão inútil se evitaria se se pudesse resolver a questão filologicamente.
Os caracteres da escrita hebraica não possuem vogais. Normalmente são
substituídos por sinais (massoréticos) que agem como vogais. Assim, se um judeu
religioso escrevesse o nome de Deus em hebraico, no alfabeto ocidental soaria
algo como: D–s ou N-ss- S-nh-r, tomando todo o cuidado para não tomar o santo
nome em vão. Os judeus pronunciam o nome de Deus de várias maneiras: El, Eloim,
El Shadai, Adonai etc. Contudo, o nome inefável de Deus [desnecessário dizer
que o hebraico se lê da direita para a esquerda] raríssimamente é grafado
(quando o é, normalmente para uso em pesquisa etimológica sobre a origem do
Nome) ou pronunciado (sendo que, nestas pouquíssimas vezes, não é propriamente
pronunciado e, sim, soletrado com as letras hebraicas: iod, hei, vav e hei).
Em inglês, o nome inefável é transliterado como YHVH (Javé em Português, como
se verá a seguir). A Bíblia de Jerusalém grafa como Javé e/ou Iahweh.
A tradição judaica afirma que a atual pronúncia do Nome é um segredo para
sempre perdido desde a destruição do Templo e é considerado impróprio tentar
pronunciar o Nome. Quando o Nome ocorre em caracteres hebraicos deve ser usada
uma palavra substituta, ou seja Adonai.
Outro traço importante na cultura religiosa hebraica é o termo Bíblia.
Claro que Bíblia é o têrmo português para a palavra hebraica Tanach . Tanach ou
Tanack é um acrônimo construído pelas três seções da Bíblia: a Torah , ou seja
a Lei, o Nevi’im , ou seja os Profetas e o Kesuvim ou Ketuvim , ou seja os
Escritos ou os Hagiógrafos. Na versão moderna, constituem os 39 livros
(considerando-se Samuel I e II e Reis I e II como livros separados) da
Escritura Hebraica que, obviamente, os judeus não chamam de Velho Testamento.
Aquilo que os cristãos chamam de Velho Testamento e Novo Testamento, os judeus
chamam de Escritura Hebraica e Escritura Cristã. O cânon hebraico difere do
cânon cristão por desconsiderar os livros escritos em grego e os suplementos
gregos de Ester e Daniel. Para uma breve recordação, o cânon hebraico lista os
seguintes livros:
Pentateuco: 1- Gênesis, 2- Êxodo, 3- Levítico, 4- Números, 5-
Deuteronômio;
Profetas: [anteriores] 6- Josué, 7- Juízes, 8- Samuel (I e II), 9- Reis (I e II), [posteriores]10- Isaías, 11- Jeremias, 12- Ezequiel, 13- ‘Os Doze’ profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;
Hagiógrafos: 14- Salmos, 15- Jó, 16- Provérbios, 17- Rute, 18- Cântico dos Cânticos, 19- Eclesiastes (Coelet), 20- Lamentações, 21-Ester, 22- Daniel, 23- Esdras, 24- Neemias e 25- Crônicas.
Profetas: [anteriores] 6- Josué, 7- Juízes, 8- Samuel (I e II), 9- Reis (I e II), [posteriores]10- Isaías, 11- Jeremias, 12- Ezequiel, 13- ‘Os Doze’ profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;
Hagiógrafos: 14- Salmos, 15- Jó, 16- Provérbios, 17- Rute, 18- Cântico dos Cânticos, 19- Eclesiastes (Coelet), 20- Lamentações, 21-Ester, 22- Daniel, 23- Esdras, 24- Neemias e 25- Crônicas.
Aqui surge uma questão que agora pode ser respondida com maior
conhecimento de causa. Quando um candidato maçônico judeu presta um juramento,
a Torah deve ser posta no altar como Livro da Lei? Não. A Torah é somente uma
parte da Bíblia judaica. Colocar a Torah no altar seria o equivalente para os
cristãos de se colocar somente os quatro Evangelhos no altar, sem as Epístolas,
o Apocalipse etc. O Livro dos Profetas e os Hagiográfos assumem um importante
papel na adoração judaica e no entendimento da lei judaica. A Torah é a mais
importante seção da Bíblia, e é particularmente venerada, mas não é toda a
Escritura.
Seria, então, o caso de se colocar o Talmud no altar para os candidatos
judeus? Aqui, convém esclarecer que o Talmud é um livro de interpretação legal.
O Talmud também ensina uma grande parte sobre o pensamento judeu e a crença
religiosa, mas ele não é a Sagrada Escritura. As obras de Santo Agostinho e de
São Tomás de Aquino desempenham o mesmo papel numa relação similar com a Bíblia
dos cristãos, contudo, também não são as Escrituras.
Surge agora uma outra pergunta. Os judeus usam chapéu em Loja? Aqui convém distinguir entre o chapéu propriamente dito e quipá (kipah), uma espécie de solidéu. O solidéu (solis Deo = só a Deus) designa o pequeno barrete, geralmente feito de fazenda mole e flexível, o qual se ajusta à cabeça, com que os padres cobrem a coroa ou pouco mais e que deve ser tirado ante o sacrário. A cobertura da cabeça é preconizada em diversos ritos maçônicos (apesar da prática não ser uniforme) para os Mestres em qualquer Sessão, ou para todos os Obreiros, ou apenas para os Mestres em Sessão do terceiro grau. Geralmente, tal cobertura é necessária e feita com o chapéu negro desabado, podendo-se, todavia, utilizar o solidéu (que é o quipá hebraico) em Sessões do terceiro grau ou de Pompas Fúnebres.
Surge agora uma outra pergunta. Os judeus usam chapéu em Loja? Aqui convém distinguir entre o chapéu propriamente dito e quipá (kipah), uma espécie de solidéu. O solidéu (solis Deo = só a Deus) designa o pequeno barrete, geralmente feito de fazenda mole e flexível, o qual se ajusta à cabeça, com que os padres cobrem a coroa ou pouco mais e que deve ser tirado ante o sacrário. A cobertura da cabeça é preconizada em diversos ritos maçônicos (apesar da prática não ser uniforme) para os Mestres em qualquer Sessão, ou para todos os Obreiros, ou apenas para os Mestres em Sessão do terceiro grau. Geralmente, tal cobertura é necessária e feita com o chapéu negro desabado, podendo-se, todavia, utilizar o solidéu (que é o quipá hebraico) em Sessões do terceiro grau ou de Pompas Fúnebres.
O judaísmo adota a prática oriental de cobrir a cabeça durante as orações
como um sinal de respeito, enquanto nos países ocidentais a prática é
totalmente ao contrário: descobre-se a cabeça exatamente pela mesma razão.
Algumas Obediências Maçônicas decidiram que o quipá (iarmulque [yarmulke],
barrete, tiara etc.) não é um chapéu no sentido maçônico, mas um elemento do
vestuário. O R∴E∴E∴A∴adota a opinião que o barrete do rito não deve ser
removido, por exemplo, durante a saudação da bandeira. Deve ser considerado,
também em maçonaria, o barrete frígio, que era um pequeno boné de feltro, de
forma cônica e com um pequeno rebordo, com o qual, na Antiguidade, o senhor cobria
a cabeça do escravo na cerimônia de libertação e que era tomado como emblema de
liberdade; graças a isso, ele é, em alguns ritos, um símbolo maçônico, já que a
maçonaria sempre foi libertária.
Existem traços comuns entre os rituais, símbolos e palavras maçônicos e
judaicos. Um dos landmarques judaicos é a crença num Deus que criou tudo na
nossa existência e que nos deu uma Lei para ser seguida, incluindo, ipso facto,
os preceitos morais de relacionamento humano. A crença em Deus, a prece, a
imortalidade da alma, a caridade, o agir respeitosamente entre os seus
semelhantes fazem parte integrante do ideário maçônico – pelo menos da
maçonaria teísta – como também do judaísmo, e por que não dizer de todas as
grandes religiões do mundo (o budismo seria um caso à parte).
O judaísmo ensina que a Lei de Deus está contida na Torah, a parte
principal da bíblia judaica que contém os 5 primeiros livros de toda a Bíblia,
como visto anteriormente, ou seja, o Pentateuco dos cristãos. A tradição
judaica ensina que a Torah é a eterna lei dada por Deus e é completa, nunca
será mudada até mesmo por Deus e, obviamente, nunca poderá ser alterada por
qualquer mortal. Já aqui surge naturalmente uma comparação com os landmarques
maçônicos que preceituam não estar no poder de qualquer homem-maçom ou corpo
maçônico fazer inovações na estrutura básica da maçonaria. Nos tempos modernos,
ambas assertivas podem cheirar politicamente incorretas, apresentando um odor
dogmático que repulsa as mentes liberais e tolerantes no limiar do terceiro
milênio, mas convém salientar que isto se refere aos fundamentos que deverão
permanecer intocados. Tanto que um dos livros clássicos de Pike se intitula
Moral e Dogma. Assim, maçonaria e judaísmo, tais como os padrões éticos das
outras grandes religiões, ensinam que devemos nos autodisciplinar e manter
nossas paixões em constante guarda. O disciplinamento ritualístico, seja nas
sinagogas seja nas lojas maçônicas, auxilia a desenvolver esta habilidade.
Outra similitude poderá, também, ser encontrada na cerimônia da
circuncisão e do Bar Mitzvah. Logo após o nascimento de todo judeu homem, ele é
circuncisado pelo rabino, ou seja, é feito o corte no prepúcio do pênis do
bebê, numa cerimônia familiar como um sinal ancestral de aliança entre Deus e o
patriarca Abraão. Treze anos depois, já adolescente, o mesmo judeu macho
participa do Bar Mitzvah que consiste em aprender a recitar preces e passagens
bíblicas em hebraico e a participar em rituais judaicos quando, enfim, adquire
todos os direitos e deveres do homem judeu. Todos os maçons já fizeram, aqui, a
comparação com a iniciação maçônica do profano e a exaltação ao grau de mestre
quando se adquire a plenitude maçônica…
No tocante à liberdade individual, maçonaria e judaísmo emulam para ver
quem apresenta maior performance de respeito e apoio. Tal fato, contudo, não é
exclusivo dos dois, pois o cristianismo apresenta, também, considerações
profundas sobre o livre-arbítrio, mas não é o caso de ser aqui discutido. O
judaísmo ensina que todo ser humano é capaz do bem e do mal e tenta ajudar o
fiel a usar o livre-arbítrio para escolher o caminho eticamente correto. A
maçonaria ensina que aqueles que são moralmente capazes podem encontrar a “luz”
na maçonaria se eles desejarem isto por suas próprias vontades livres. Os
maçons franceses, principalmente os do Grande Oriente de França, chegaram ao
ponto de colocar como um dos seus lemas a liberdade absoluta de pensamento. O
conceito de exercitar a vontade livre para aceitar a lei e a reparação pelas
transgressões passadas é o que preconiza o Rosh Hashanah e o Yom Kippur. Os
judeus acreditam que dez dias no início do novo ano judeu devem ser usados para
reparar os pecados passados e buscar a resolução firme de evitar o pecado no
futuro. De modo análogo, a maçonaria ensina que todo homem deve lutar para
crescer moralmente e livrar-se de todo preconceito. Não é a toa que a disputa
entre a maçonaria francesa e a inglesa se dá entre a liberdade absoluta de
pensamento, preconizada pelos franceses, contra o teísmo inglês, que forçou a
própria reformulação da Constituição de Anderson, quinze anos após a sua promulgação.
A luz é um importante símbolo tanto no judaísmo como na maçonaria. “Pois
o preceito é uma lâmpada, e a instrução é uma luz”, Prov. 6, 23. Um dos grandes
feriados judaicos é o Chanukah ou seja o Festival das Luzes, comemorando a
vitória do povo de Israel sobre aqueles que tinham feito da prática da religião
um crime punível pela morte, ali pelo ano 165 a. E. V. (Os judeus substituem o
antes de Cristo e o depois de Cristo pelo antes e depois da Era Vulgar). A luz
é um dos mais densos símbolos na maçonaria, pois representa (para os maçons de
linha inglesa) o espírito divino, a liberdade religiosa, designando (para os
maçons de linha francesa) a ilustração, o esclarecimento, o que esclarece o
espírito, a claridade intelectual. A Luz, para o maçom, não é a material, mas a
do intelecto, da razão, é a meta máxima do iniciado maçom, que, vindo das
trevas do Ocidente, caminha em direção ao Oriente, onde reina o Sol. Castellani
diz que graças a essa busca da Verdade, do Conhecimento e da Razão, é que os
maçons autodenominam-se Filhos da Luz; e talvez não tenha sido por acaso que a
Maçonaria, em sua forma atual, a dos Aceitos, nasceu no “Século das Luzes”, o
século XVIII.
Outro símbolo compartilhado é o tão decantado Templo de Salomão. Figura
como uma parte central na religião judaica, não só por ser o rei Salomão uma
das maiores figuras do panteão de Israel, como o Templo representar o zênite da
religião judaica. Na maçonaria, juntou-se a figura de Salomão, à da construção
do Templo, pois os maçons são, simbolicamente, antes de tudo, construtores,
pedreiros, geômetras e arquitetos. Os rituais maçônicos estão prenhes de lendas
sobre a construção do Templo de Salomão. Para os maçons existem três Salomões:
o Salomão maçônico, o bíblico e o histórico.
Outro traço cultural comum seria a obediência para com a autoridade. Max
Weber propôs três tipos de autoridade: a tradicional, a carismática e a
racional-legal. A primeira adstrita às sociedades antigas, a segunda referente
aos surtos de carisma que a humanidade vive de tempos em tempos e a terceira,
apanágio da modernidade. A tradição judaica ensina uma obediência respeitosa
para com os pais e os rabinos. A maçonaria ensina, desde a Constituição de
Anderson de 1723, o respeito para com a autoridade legitimamente constituída.
(Este preceito é cristalino na maçonaria de cunho anglo-saxão, já os latinos,
no embate contra o trono e a cruz…).
Deste modo, para aprender é necessário sentar-se nos bancos escolares.
Assim, também na maçonaria, nota-se uma preocupação constante, cada vez maior,
com o desenvolvimento intelectual dos seus epígonos, no fundo, não só como um
meio de melhorar a sua escola de fraternidade e civismo como também para
perpetuar os seus ideais e permanecer como uma das mais ricas tradições do
mundo moderno.
Fonte:
Revista Universo Maçônico- 2014 – Adaptação Ir.’. Denílson Forato- MI - Secretário
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