O que é Cabala?
Cabala
é o esoterismo judaico. Existe o esotérico e o exotérico. O exotérico é
o conhecimento ensinado ao povo, enquanto o esotérico é o conhecimento
oculto no exotérico, restrito aos escolhidos, aos iniciados.
Trata-se
de um sistema de simbologia e numerologia de origem judaica que
teoricamente serve para desvendar os segredos ocultos na Torá.
Apesar
dos cabalistas acreditarem que a Cabala foi transmitida pelo próprio
Deus a Moisés, vários historiadores concordam que sua origem é nórdica,
baseada na lenda de Odin. Por coincidência, a Capela de Roslin,
considerada por muitos como um verdadeiro Templo Maçônico do século XV,
possui a lenda de Odin com sua árvore sagrada ilustrada na chamada
“Coluna do Aprendiz”.
O
alfabeto hebraico possui 22 letras, enquanto a Cabala possui 22
caminhos que ligam às 10 esferas (sefirás) que formam sua estrutura,
comumente chamada de “árvore da vida”. A árvore da vida é de uma certa
maneira formada por triângulos, quadrados e círculos, três formas
geométricas muito comuns na Maçonaria.
Qual sua relação com a Maçonaria?
Muitos
são os trabalhos, estudos e livros relacionando a Cabala com a
Maçonaria, alguns chegam a inventar que existe a Cabala Operativa e a
Cabala Especulativa, para aproximá-la ainda mais das raízes da
Maçonaria. Porém, nenhum autor faz o favor de citar um fato ou documento
histórico que liga a Cabala à Maçonaria ou mostrar onde há Cabala na
Maçonaria. Tudo é muito vago ou, como alguns preferem, está tudo
“oculto”, “entre linhas”.
A
verdade é que a Cabala se popularizou entre os intelectuais do século
XVIII e XIX. E se poderiam haver ensinamentos ocultos na Torah, muitos
acreditavam que também poderia haver na Bíblia, nos rituais antigos,
etc. A busca pelo oculto se tornou obsessão para a classe intelectual
dessa época, aproveitando a onda de decadência da Igreja e das
Monarquias e o fortalecimento da massa crítica da sociedade. Nessa
época, Maçonaria era moda na Europa e várias outras sociedades secretas
brotavam nas cidades, prometendo conhecimento oculto. Somente na
Maçonaria Francesa, mais de 1.000 graus maçônicos surgiram dentro de
dezenas de Ritos, todos com supostas origens honrosas como Egito Antigo,
Palestina, Templários, celtas, Antiga Grécia e outras. O conteúdo e
costumes nascidos da Maçonaria Operativa tentavam sobreviver em meio a
essa avalanche de novas histórias, crenças, símbolos e práticas, todas
novas, mas se auto-intitulando como “antigas”.
Os
“criadores” dos Ritos e rituais chamados “Superiores” necessitavam de
conteúdo para criar tantos graus. Ora, a Maçonaria sempre teve uma
relação com o Templo de Salomão, com uma Palavra Perdida. Não há
misticismo mais próximo disso do que a Cabala, a moda do momento! A
origem judaica e a busca por um conhecimento que se perdeu nas brumas do
tempo e pode estar oculto é um prato cheio para aqueles sedentos por
conteúdo para enxertar na criação de dezenas de novos graus de um
sistema.
Dessa
forma, a Cabala foi introduzida na Maçonaria quando da criação dos
Ritos Maçônicos, entre eles, o Rito de Heredom, sistema de 25 graus, que
deu origem ao Rito Escocês.
Sua presença mais evidente está no Templo do Rito Escocês: o Templo e suas mesas e altar seguem a famosa Árvore da Vida.
Nos
templos originais do REAA, o trono do 2º Vigilante fica no lado
ocidental da Coluna do Sul, paralelo ao trono do 1º Vigilante, assim
como ainda é mantido nos Graus Superiores do REAA. A mudança do 2º
Vigilante para o centro da Coluna do Sul, como podemos observar nas
Lojas Simbólicas atuais, somente ocorreu pela influência dos templos
ingleses e do Rito de York.
Observando
o formato original do Templo do REAA, o mesmo formato em que a Loja de
Perfeição é organizada, vê-se claramente a formação da Árvore da Vida:
O
Átrio, onde os candidatos aguardam para serem iniciados, é onde se
inicia a senda maçônica. É o ponto intermediário, que separa o profano
do sagrado. Em seguida há a Porta do Templo, no Ocidente, que dá acesso á
Luz, a partir de onde se inicia o trabalho. Os tronos dos dois
Vigilantes seguem paralelos, em suas extremidades, representando o VM no
governo de suas Colunas. Tem-se o Altar dos Juramentos no Centro.
Observe que o Altar é o único ponto da Árvore em que todos os outros
pontos têm caminho direto, menos o Átrio de onde só há acesso ao Altar
após atravessar a Porta. Isso mostra que todos estão ligados por meio do
GADU, representado pelo Livro da Lei no Altar. Seguindo, vê-se as mesas
do Chanceler e o Tesoureiro, paralelas. A partir daí, inicia-se o
Oriente, onde se vê as mesas do Secretário e do Orador nas laterais e,
por fim, a cabeça da Árvore da Vida, ponto mais alto da Sabedoria da
Cabala, o trono do Venerável Mestre.
Essa
herança da Cabala se faz presente nos Templos do Rito Escocês e demais
Ritos de origem francesa. Já nos templos ingleses (Rituais ingleses
modernos, pós 1813) e nos templos americanos (Rito de York, a partir de
1797), não se vê tal característica, visto os templos serem mais
próximos do chamado “Antigo Ofício”, ou seja, dos costumes da Maçonaria
Operativa, exatamente por não terem sofrido essa influência “ocultista”
ou “esotérica” que a maçonaria da Europa Latina (França, Portugal,
Espanha e Itália) sofreu.
A Maçonaria Simbólica brasileira,
por desconhecimento, promoveu com o passar dos tempos diversas
adaptações em seus templos do REAA, desfigurando a Árvore da Vida pela
influência de outros Ritos e Rituais. Porém, a mesma encontra-se
preservada através dos Graus Superiores, ainda inviolados.
Por que não há registros explícitos disso?
Porque os criadores e líderes dos
Ritos na época buscavam a atração e aceitação de seus adeptos através
de afirmações de que o Rito surgiu de uma expedição de Napoleão ao
Egito, ou dos escritos de um antigo Imperador, ou de um pergaminho
protegido por um cavaleiro templário que sobreviveu à Inquisição. Era
mais interessante do que confessar que se tratava de um trabalho um
pouco mais recente, fruto de uma miscelânea de história, parábola,
símbolos, com uma pitada de Cabala e outros misticismos.
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