
Sendo
a segunda geração de maçons na família, o jovem Aprendiz tinha grandes ambições
na ordem: chegar a Companheiro, e com uma quebra ou outra de interstício,
chegar ao terceiro grau, e depois ao Veneralato. Iniciado em uma loja
antiga, povoada por dezenas de irmãos, estava dominado pela pressa e a vaidade.
Depois
de um tempo, ele conseguiu convencer os irmãos, e ser eleito Venerável Mestre.
No dia de sua posse, quase todos comemoravam. Seu pai, um dos mais maçons
antigos da loja, chamou-lhe num canto, ele disse: “Volto repetir-lhe: Dominar o
rito e conhecer as leis não o torna um maçom de verdade”. É preciso aprender a
viver como um maçom fora do templo. Agora suas responsabilidades aumentaram
muito, e terá que dar conta delas.
O
Jovem Venerável deu pouca importância ás palavras do pai-irmão. Ao invés de
refletir sobre elas, afastou-se e foi comemorar com outros. Imaturo, não
conseguia compreender a sabedoria por trás daquela as advertências.
Passados
alguns meses, passou-se a sentir as mudanças na loja: As decisões eram tomadas
unilateralmente; Ameaças e desentendimentos entre os obreiros, aprendizes eram
mal tratados, muitas disputas e intolerância. A loja estava em desequilíbrio,
os irmãos já não se entendiam mais, e muitos percebiam que as belas palavras
que eram ditas em loja, não expressavam a realidade caótica que viviam ali. Os
ideais mais sublimes da ordem, estavam ameaçados. Por isso, muitos irmãos
contrariados, se afastaram. Outros, porém, continuavam lá, na esperança de que
a harmonia voltasse a reinar entre eles.
Seu
pai fez tantas tentativas inócuas para mostrar-lhe que algo de muito errado
havia em seu agir em loja, que cansou-se de falar, e decidiu tomar
uma medida drástica: chamou-o na empresa e sentenciou: “de hoje em diante, não
terás mais cargo de diretor, serás demitido, para, se assim desejar, ser
readmitido como responsável pelo almoxarifado da empresa! Além disso,
passara a pagar o aluguel do apartamento em que mora, afinal, ele ainda está em
meu nome. Também terá que devolver o carro que a empresa lhe cede por conta do
cargo que tinha, e não poderá mais entrar em minha casa sem antes se fazer
anunciar. “
O
jovem se surpreendeu. Nunca vira seu pai falar daquele jeito. Sem entender por
que ele estava sendo tão duro, irritou-se com o que acabara de ouvir, e saiu
repentinamente da sala da presidência. Sabia que seu velho e bondoso pai, não
iria levar adiante aquelas ideias, que de tão cruéis, nem pareciam ser suas.
Mas
ele cumpriu cada palavra do que havia dito naquele dia, e em poucos meses, o
rapaz estava em péssima situação financeira. Não podia manter os luxos com os
quais estava acostumado. Os problemas foram pesando cada vez mais em seus
ombros. Desanimado, em loja ele já não era mais o mesmo Venerável arrogante e intransigente.
Chegava às sessões aborrecido e preocupado, e as vezes já nem ia mais.
Um
dia, ele decidiu engolir o orgulho procurar seu pai, com o qual não trocava uma
única palavra no mundo profano, desde que fora rebaixado na empresa.
Cumprindo
sua exigência, ele ligou antes para sua secretária, e pediu que esta marcasse
uma audiência entre ele e o pai. Dias depois, seu pai decidiu atende-lo: “seja
breve por que tenho uma reunião em meia hora” triste, e sem reconhecer a figura
doce e compreensiva do pai naquelas palavras ásperas, ele baixou a cabeça e
falou: “Como pode tratar seu próprio filho com tanto desprezo? Se é por causa
de meu cargo de Venerável Mestre, eu irei renunciar à ele!” O velho maçom
sentou-se. Olhou para fora da janela de sua enorme sala, suspirou como se
querendo manter as forças para continuar com a dureza que a circunstância
pedia. Fitou-o nos olhos, e falou: “não podes renunciar ao cargo de Venerável
Mestre. Afinal, comprometeu-se com os irmãos e com todas as enormes
responsabilidades que o cargo traz. E se deseja ter de volta sua função na
empresa, saiba que que irei me guiar por sua atuação nele,
para saber se realmente serás um chefe justo quando herdar de mim, o
comando da empresa. Afinal, o Maçom deve ser no mundo profano, o que
comprometeu-se a ser no templo: um homem justo, livre e de bons costumes. Um
homem disposto a enterrar seus vícios e exaltar suas virtudes!
O
jovem, sentou-se. De alguma maneira, aquelas palavras de seu pai, ditas de
forma severa, o tinham despertado do torpor que a vaidade causara-lhe. Passou a
refletir com maior clareza sobre enorme responsabilidade que havia
adquirido ao tornar-se Venerável Mestre. Conclui que o egoismo cegara-lhe a
mente. Entendeu como o orgulho o havia afastado dos conselhos dos mais sábios.
Cabisbaixo, ele pediu que o pai lhe entregasse um ritual de aprendiz, que
costumava guardar em sua gaveta. “Mas você já memorizou-o página por página”,
retrucou-lhe. “Eu sei, mas há coisas ai que não enxerguei, preciso ler
novamente.” E com o ritual de baixo do braço, ele saiu.
Meses
depois, sem que fosse preciso a renúncia do Venerável Mestre, a harmonia
voltou a reinar em loja. Finalmente, o jovem Venerável, entendeu que não
ocupava seu cargo na loja para ser servido e admirado, mas para servir aos
sublimes ideais da ordem. Contam os irmãos que o conheceram, que depois de sua
mudança, tornou-se um dos melhores Veneráveis que sua Augusta E
Respeitável Loja Simbólica já teve.
Reflexão:
Quando ocupamos um cargo em loja, seja de Venerável ou outro qualquer, e mesmo
quando não ocupamos cargo algum, devemos estar desprovidos de vaidade e
arrogância. Lembremos que todo e qualquer maçom deve servir aos ideais da ordem
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Que o amor à família e aos irmãos, o
auto aperfeiçoamento e o auxílio à humanidade, são seus compromissos
perenes.
Ainda
existem "Mestres" precisando ler novamente o ritual de Aprendiz!!!
------------------------------------------
Desconheço
o autor, mas conheço muito bem a história, a ficção e a realidade.
Parabéns Irmão,muito bom mesmo.
ResponderExcluir