domingo, 12 de maio de 2013

SIGILO E SEGREDO MAÇÔNICO




Hoje à noite, à meia noite em ponto (hora em que se fecham as Lojas), após assistir e participar de uma magnífica sessão maçônica na nossa pequena a aconchegante Loja onde fomos brindados com visitantes, fui abordado por minha mulher que perguntava como foi a reunião. Evidentemente, pus-me a contar que hoje houve harmonia e a grata visita de um irmão que nos é muito caro que provavelmente venha a se filiar. 

Contei que tudo passou bem, havia eu feito uma exposição sobre o avental maçônico e recebido lições sobre as funções do primeiro e segundo vigilante do visitante que palestrou conosco. Minha mulher é interessada nos assuntos que me digam respeito porque, é óbvio, dizem respeito à família. Esse envolvimento é extremamente reconfortante para mim que não raras vezes ponho-me a doar o parco tempo de lazer íntimo para o estudo da literatura maçônica. Tal narrativa de cunho pessoal é conveniente para trazer à lume uma discussão por demais oportuna e interessante para os nossos irmãos , que se pré-dispõe a abandonar alguns mitos para abraçar o sentido mais primitivo da Maçonaria. Assim sendo, insta demarcar as balizas entre sigilo maçônico, discrição maçônica e segredo absoluto. 

Todos os iniciados maçons juram solenemente manter os mistérios da Ordem sob o mais absoluto silêncio, fazendo assim um voto característico das ordens regulares. Contudo, é preciso urgentemente destacar que a temática maçônica nunca foi e nem permanece sendo sigilosa. Ao contrário, os assuntos que gravitam sobre os graus simbólicos e filosóficos não resistem à pesquisa sistemática na Internet e em bibliotecas mais privilegiadas, porquanto ou a Maçonaria emprestou de tradições antigas os seus paradigmas ou, ao contrário, doou seu próprio ensinamento para o mundo. Portanto, a simbólica maçônica não é sigilosa, não estando sobre o manto do juramento que realizamos. 

Aliás, afora a trolha e o avental, não há simbólica propriamente maçônica, tendo a Arte Real tomado de empréstimo símbolos, ritos e formas de outras culturas, desde o século XVIII, culminando na grande transformação havida no século XIX. O uso do compasso como instrumento de retidão já era conhecido, assim como a medição da vida terrena com o compasso. Colunas, romãs, acácias, pisos, painés, zodíaco, malhetes, jóias, iniciação, elevação e tantas outras práticas corriqueiras de nossos trabalhos simbólicos, tudo o mais não se pode atribuir à Maçonaria Operativa, pois de lá somente temos a figura da trolha e o uso do avental de pele, com o couro para fora e o pêlo para dentro, a fim de proteger o peito, quadril e pernas dos materiais brutos com os quais os pedreiros trabalhavam. Assim sendo, é muito comum qualquer estudioso de "arquétipos junguianos" não só compreender de pronto os signos maçônicos como também dar palestras a maçons muito experientes e instruidos. Basta a coordenação da leitura das escrituras bíblicas, a ciência relativa da cultura judaica, egípcia e bastante estofo histórico, para que nada seja novidade ao pesquisador. 

Não é por outra razão que ficamos bastante confortáveis ao levar às algumas  Lojas, alunos do ensino fundamental e médio, quando ministrávamos aula de História Geral e do Brasil. Para compreender algumas particularidades das épocas em foco, era especialmente conveniente que meus alunos tomassem ciência do clima, do local, das impressões totalmente particulares que a Maçonaria inspirou naqueles momentos vitais da História da Humanidade e do Brasil. Jamais tivemos que falar uma palavra sequer sobre símbolos. Bastava perguntar a um aluno de sétima série: "para você, o que o Sol simboliza nesse Templo?". E lá vinha a resposta certeira - vitalidade, virilidade, força, renovação, nascimento, renovação, transformação. E, mais adiante, perguntava a um aluno da oitava série: "para você, o que a Lua representa aqui?". De pronto, sapecava a resposta surpreendentemente exata - é o contrário do Sol, significa fertilidade, escuridão, reflexão, fecundidade, inércia, feminilidade. Isto é, meus alunos sabiam o que o inconsciente coletivo informava ao homem e à mulher ocidental. Aliás, meus irmãos, no mundo de imagens, os símbolos ganharam novo sentido e imperam com mais força que nunca. É muito natural que o homem médio saiba exatamente o que inspira um símbolo aplicado em determinadas circunstâncias.

Por isso mesmo, defendemos que já é hora de pôr fim à "mítica maçônica" de que os símbolos e assuntos internos são eminentemente secretos, sendo perjuro aquele que os revelar a terceiros. Mito é mito e não resiste à análise aprofundada. É claro que não propomos aqui que o Templo Maçônico vire local de visitação pública ou de palestras abertas com alunos de ensino fundamental, médio ou superior. Contudo, aquele antigo "tabu" de que tudo relacionado à Arte Real é, em si secreto, deve acabar. Muito ao contrário - os maçons devem ser os primeiros a mergulharem no universo da simbologia que os especialistas da área dominam com ciência e estudo compenetrado. Recomendam-se palestras com psicólogos a fim de perquirir a origem, as interpretações e o emprego de símbolos milenares. Recomenda-se, de outra banda, reserva quanto aos comentários gratuitos de assuntos maçônicos em público. Mas não por "dever de sigilo", mas pela discrição que informa que o maçom não deve se exibir ou fazer da Maçonaria um status social. O mistério, segundo os estudiosos de psicologia, serve para instigar, fomentar a curiosidade humana, fazendo com que o espírito de aventura e pesquisa possa conduzir à valorização do conhecimento oculto por qualquer razão. Para escritores maçônicos (Kurt Probber, Castelanni, Luiz Gonzaga, Assis Carvalho, Bolcher), a prática do mistério induz o maçom a resgatar valores simples, tornando-os tão caros. É justamente por isso que os graus superiores são particularmente interessantes, nessa altura.


  
Feito esse comentário sobre a questão simbólica, importa saber o que realmente é sigiloso. Por secreto, recoberto pelo juramento constante da iniciação, elevação e exaltação para qualquer patamar maçônico, está a liturgia e os sinais característicos de cada grau e apenas isso. A qualquer maçom ativo ou adormecido, é terminantemente vedado repassar ao público a aos seus parentes mais próximos a palavra sagrada, a palavra de passe, a marcha, os sinais de identificação, as batidas do grau, e demais aspectos litúrgicos e sinalizadores do grau. Não porque, mediante pesquisa, um terceiro não possa obter as informações, mas em respeito absoluto à palavra empenhada à Ordem que jurou defender e resguardar. É justamente por isso que devemos a todo o custo "desmistificar" assuntos maçônicos mais básicos, proporcionando aos que nos cercam, pais e filhos queridos, a possibilidade de nos conhecer melhor, evitando inclusive esses preconceitos mais simplistas de ramos reformadores contemporâneos do cristianismo.

Julgamos que está bem delineada a diferença entre "sigilo maçônico" e "discrição maçônica". Por aquela, tomamos como paradigmas insuperáveis, blindados pelo juramento inquebrável, onde o iniciado jamais deixará de pertencer à Ordem. As palavras, sinais e toques unem eternamente o neófito à Arte Real, ainda que adormeça ou debande completamente. Por isso mesmo, até mesmo os "reformados", irmãos que desacreditaram da Maçonaria para abraçar correntes religiosas sectárias que incriminam a Ordem com imputações satânicas, até mesmo esses mantém-se regulares para com o Templo que frequentaram, não transmitindo temerariamente tais segredos. Vê-se que os livros que pretendem dispersar os mistérios da Maçonaria, geralmente foram escritos por ignorantes nos assuntos reservados da Arte Real, ora errando sobre as afirmações, ora confundindo graus, sinais, palavras, usos e costumes com a liturgia propriamente. 

Finalmente, a discrição maçônica é sempre bem-vinda, mas não inviabiliza a instrução de terceiros nos signos maçônicos. Sessões brancas são, no meu ponto de vista, bastante recomendáveis para proporcionar uma partilha dos conhecimentos maçônicos com a sociedade. A comemoração dos dias festivos e datas religiosas, além de outras atividades em conjunto dentro do Templo, devem ser estimuladas. É preciso chamar a família, os amigos, os colegas de serviço, agregando-os todos no Templo e formando uma nova e interessante Egrégora. A postura discreta, reservada do maçom enquanto maçom somente o valoriza, mas não é preciso "mistificar" a discrição, confundindo-a com o sigilo maçônico. 


  
Como a Maçonaria do séc XXI pretende fundar (re-fundar) um novo centro de gravidade maçônica no Brasil, é preciso ajudar com cimento fresco, renovador, ao mesmo tempo em que reserva-se tijolos firmes, sólidos, inquebráveis. Flexíveis devemos ser até onde os nossos compromissos nos permitem; tolerância deve ser a nossa meta última como indivíduos e maçons; compromisso com os mistérios que são o combustível de nossa própria transformação interior não pode ser objeto de barganha. O que é segredo deve continuar sendo: o que não é, não precisa ser tratado como tal. Vamos envolver toda a comunidade que nos circula, fincando o compasso numa Loja Maçônica!

Recebam todos o meu tríplice e fraternal abraço!

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