terça-feira, 3 de novembro de 2015

Maçonaria no mundo atual!




Diante do que vem acontecendo no Brasil e no mundo, vocês devem estar se perguntando:

˗ O que a Maçonaria pode fazer para ajudar?

Percebemos que o desapontamento de muitos vem ao encontro do nosso desalento diante da pouca adesão às iniciativas propostas pelas Lojas e Potências. Mas ninguém ousar perguntar o porquê dessas coisas. Por que a baixa frequência nas Lojas? Por que o elevado índice de Irmãos que abandonam a Ordem entre os Graus de Aprendiz e Companheiro? Por que o desinteresse pelo estudo? Por que tantas dissensões internas, divisões de Lojas pequenas em outras menores ainda; Lojas adormecidas ou com colunas abatidas? Será que estamos aqui apenas para prover a continuidade física da Maçonaria, quero dizer ˗ abastecer sua subsistência financeira? Pois então: chegamos ao Século XXI com menos de 5% dos maçons falando e decidindo tudo, o tempo todo, enquanto 95% ficam só ouvindo, de "bico fechado".

Por outro lado, todos já perceberam que existem muitos projetos ˗ a maioria deles de natureza caritativa e beneficente ˗ que seguem em frente com maior ou menor sucesso... São projetos muito aquém da nossa capacidade.

O fato é que não existe uma pessoa chamada "a Maçonaria", ou seja ˗ ao dobrar uma esquina ninguém irá topar com uma veneranda senhora chamada "a Maçonaria", que tem  respostas para tudo e soluções para todas calamidades do mundo de hoje. No máximo, vocês encontrarão, por aí afora, pessoas posando para fotos, sorrindo com todos os dentes, como se tudo estivesse muito bem e nosso futuro plenamente assegurado só por terem recebido um Grau a mais, decorado alguns jargões e repetido gestos e sinais (na maioria das vezes de forma canhestra e equivocada).

˗ Se Maçonaria somos cada um de nós, o que precisamos fazer para ajudar?

Agora sim, a pergunta está colocada de forma correta!
A Maçonaria é cada um de nós e PODEMOS começar, aqui e agora, uma fileira avançada para alterarmos o atual estado de coisas. Depende de três fatores: a) convicção; b) lideranças nascida nas bases; c) o voto livre e universal (no mundo profano e nas instâncias da Ordem).

Antes de mais nada, precisamos estar cientes de que nossas centenárias instituições não acompanharam a evolução e as exigências do moderno pensamento participativo. Pelo prisma da história e da sociologia, verificamos que a Maçonaria brasileira ainda pensa nos moldes da República Velha do Marechal Deodoro (1889 a 1930), mas age como a monarquia dos Primeiro e Segundo  Reinados (1822-1889), inspirada nas falácias da família Andrada de  José Bonifácio . Apesar de nossa Ordem ter sido mortalmente golpeada pelo Ditador Getúlio Vargas dec. de 30 (após isso não foi a mesma) sobrevivem ainda os saudosistas da promíscua relação entre a Maçonaria e os palácios dos governantes. Metade de nossa energia é gasta na vã tentativa de se influenciarem as Câmaras, o Senado e o Congresso Nacional (a outra metade é gasta naquilo que Marco Morel chamou de "autofagia maçônica": lutas, dissensões e disputas fratricidas entre Lojas e Potências). Prega-se a democracia, mas nossa mobilidade interna permanece autocrática e emperrada: são estruturas de poder construída "de cima para baixo", com feudos sucessórios, privilégios de castas, etc.

Se a Arte Real levou mais de seiscentos anos para construir um sistema de igualdade, liberdade e fraternidade, por que ainda existem desigualdades de direitos entre nós e o rígido contorno de autocracia constitucional paternalista? Por ser mais cômodo? Só mesmo a preguiça (de pensar) e o conformismo impede que nos tornemos uma instituição mais vibrante e participativa. A plena adesão aos projetos maçônicos só será possível quando o escopo de nossos projetos nascer da vontade das bases (do povo maçônico). Vale a pena lerem "O Contrato Social" de Jean-Jacques Rousseau (1762) para entenderem a diferença entre "vontade da maioria" e "vontade geral". Estamos com 253 anos de atraso nesta questão .

Sobre a Ética e a Moral

Como na monarquia (da qual sobrevivem entre nós eternas viúvas), o amplo conceito de ÉTICA é substituído pela ideia de MORALIDADE que é mais estrita. Permanecemos mais ocupados com "o que é virtude, senhor?" e "o que é o vício, senhor?" ˗ questões estritamente morais ˗ do que em promovermos uma ampla discussão sobre  "o que é ético, senhor?"
Ética e moral são coisas diferentes, apesar de a maioria dos maçons as considerarem a mesma coisa. Moral é a conduta dirigida por normas; a ética é o móvel (motivo) da conduta humana. O mundo profano é mais preocupado em estabelecer princípios de moralidade do que promover os imutáveis elementos da ética. A Maçonaria brasileira tem seguido esse mesmo caminho, ocupando-se mais com a lei escrita (câmaras e assembleias legislativas maçônicas) e com os mecanismos de punição (câmaras e tribunais judiciários maçônicos). Enquanto isso, a formação integral do Novo Homem (Éticaethos em grego: valores ou conjunto de pensamento e ação que visa o bem comum) é deixada para segundo plano, substituindo-a pela repetitiva instrução ritualística que, divorciada da síntese dos costumes, vem se tornando estéril (salvadas raríssimas e honrosas exceções).

Lembrem-se destas máximas: nem tudo que é legal (moral) é ético. "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém" (1 Coríntios 6:12).  "Pro Jure ipse contra legem" (pelo direito, ainda que contra a lei).

Exemplos atuais

(I) O fato de alguém possuir uma arma para se defender não, a priori, é amoral nem antiético. Mas fazer propaganda ou receber dinheiro de lobistas dos fabricantes de armas para aprovar leis de armamento da sociedade é antiético do ponto de vista maçônico, pois nossa Ordem é, por definição:
"... a união consciente de homens livres e iguais, ligados por deveres de fraternidade, para esclarecer a humanidade e prepará-la para a emancipação progressista e pacífica." [...] "somos denominados Obreiros da Paz"; [...] "a Maçonaria é na Terra, a única instituição capaz de levar o homem ao domínio da paz, , da ordem e da felicidade", etc. (preceitos do REAA).

(II) Quando os profanos se candidatam à Maçonaria, um longo questionário e sindicâncias buscam assegurar às Lojas de que estamos admitindo em nosso convívio íntimo homens livres e de bons costumes. A expressão "de bons costumes" traz como consequência muito mais do que se pode imaginar à primeira vista. Pensem nisso..., pois o conceito envolve a questão familiar e a vida profissional. O maçom tem que se manter comprometidos com a instituição familiar que é o fundamento da sociedade, do Estado e, por consequência, da Maçonaria. Não há meio-termo neste particular. Não vem ao caso se, ao longo da vida, um Irmão encontre situações difíceis, conflitos e desafios na vida familiar. Importa, isto sim, se sua postura permanece justa e perfeita em relação aos valores familiares e aos ditames da natureza. Talvez ainda não tenhamos pensado nisso, mas há milhares de maçons e profanos que tomam tais questões em consideração, especialmente quando dirigem o olhar para os que dirigem ou se colocam à frente dos diversos movimentos em nossa Ordem.

(III) Da mesma forma, se exigimos dos candidatos condições materiais para fazerem face aos deveres financeiros da vida maçônica, deve-se também ˗ e como muito maiores motivos ˗ atentar para situações precárias de Irmãos que, em determinado momento, não conseguem administrar eficazmente suas vidas. Ninguém está livre de um revés financeiro e, na medida do que é justo e possível, temos o dever de soerguer esses Irmãos; mas daí a confiar-lhes níveis de liderança ou o fardo de administrarem ou instruir as Lojas e outros segmentos de nossa Ordem, vai uma grande distância, pois além de não ajudá-los, os sobrecarregaríamos ainda mais.  

 (IV) Paralelamente a isso, é necessário que fiquemos atentos àqueles que se intitulam "Irmãos" ˗ pois assim pediram nosso voto ˗ mas, ao contrário do que esperávamos deles, passaram a defender princípios contrários à ética maçônica. Sem pretender julgá-los, a responsabilidade de existirem esses tipos na "fauna maçônica" repousa na péssima ˗ ou nenhuma ˗ instrução que tiveram sobre Maçonaria, talvez pela pressa com que passaram pelas Lojas em busca de voto. "Pelos seus frutos os conhecereis. É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?"

(V) Por fim, ao analisarmos o que cada um de nós pode fazer para ajudar, temos a questão da representatividade, em cidadania e na Maçonaria. Há muitos maçons entre os políticos e em todas as instâncias do Poder Judiciário. Esses Irmãos devem exercer suas funções livres de quaisquer pressões, sejam de ordem pessoal, religiosas, financeiras ou econômicas. Mais ainda, não podem nem devem se submeter a estipulações de grupos maçônicos, pois do contrário estariam limitando suas ações constitucionais a favor de todo o povo.
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