quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

EGO – A PRESERVAÇÃO DA INDIVIDUALIDADE




TUDO QUANTO HÁ SÓ REALMENTE EXISTE NO UM.


            No desenvolvimento dos seres há uma etapa que é a da individuação seguida de personalização quando então o ser assume o auto-conceito. É exatamente na personalização que se faz sentir o ego. Um animal não tem ego, muitos dizem que sim porque ele já tem um sentido de auto-preservação. Acreditamos que sim, mesmo num ser dos mais elementares na escala biológica já se notam reflexos de auto-defesa e isso é, em tese, é uma forma de auto-preservação, portanto um esboço do ego; algo que representa uma forma de defesa contra a extinção do estado de ser.
Um ser só pode ser se conservar com tal – e não como Ser – se preservar a individualidade.
O sentido de preservação só se define plenamente ao nível da personalização, aquele em que o ser toma ciência de si, e posso dizer “eu sou”. Estabelecida a individualidade o ser a partir daí tem que defender a todo custo esse sentimento, o sentimento do “eu sou”, consequentemente do “é meu”. Para isso ele lança mão de incontáveis mecanismos de defesa que são chamados de “ego”. Assim nascem os mecanismos de defesa da individualidade, o ego.
Diz Castaneda, citando Dom Juan: “Tendo perdido a esperança de algum dia voltarà fonte de tudo, o homem  comum busca conforto em seu egoísmo
Como fruto da ignorância da natureza una, ocorre o sentimento de separação, do que resulta a idéia de “isso é meu” e “isso é teu”. Todos os chamados males humanos têm como origem essa a idéia de que existe uma separação – seres – e consequentemente a necessidade da preservação. Portanto essa separação é que dá origem a tudo àquilo que chamam de natureza satânica. Todos os atos humanos considerados pecaminosos – satânicos – indubitavelmente são frutos do ego, são mecanismos de proteção do ego. Assim são consideradas obras do demônio muitas qualidades negativas, sendo as principais: ciúme, o orgulho, a inveja; além do apego com todas as suas conseqüências.
Para que a separação seja mantida tem que haver fortes meio de proteção, de isolamento. Assim, indubitavelmente o ego tem que ser forte e para isso surgem o desejo de conquista, as lutas pelo poder, consequentemente as guerras, e tudo o mais que compõe a natureza considerada negativa dos seres.
O que é o ciúme, por exemplo? – O desejo de não perder aquilo que possui, de reter para si, de manter para o eu e não deixar que otu se aposse. Sem essa separação ele não pode existir porque tudo é do eu.
ciúme está diretamente ligado ao egoísmo, que reflete o desejo da não perda. Mas, se for bem analisada tal perda é uma ilusão, porque coisa alguma é real no Mundo Imanente. O egoísta é um almofariz de ilusão. Objectivo, a prevalência do eu sobre o tu é uma fantasia da mente, mas que é efetivamente mantida no Mundo Imanente. Mas manter a separação, e tudo o que mantém a separação, é mesmo que adquirir algo de um mercador de ilusão, pois é alimentar a ilusão da separatividade.
Deus não pode ter ciúme, porque não existe de quem te-lo; pela condição de Único Ele não tem rival. Não pode haver ciúme sem que haja rival. Por esse raciocínio chegamos à conclusão de que ciúme não é de Deus, não diz respeito à Unicidade e sim a diversidade. Pelo Princípio da Polaridade, se algo não pertence a um pólo inexoravelmente pertence ao outro, desde que não existe um terceiro. Portanto se ciúme não é de Deus, logo ele deve ser do pólo oposto, de Satanás. 
Deus não tem ciúme porque Ele não tem medo de perder por não ter como perder para alguém se este não existe. Ciúme tem como objeto a algo que é considerado do outro, mas como isso é possível em nível de Deus se não existe outro além Dele? Indaga-se então: Perder para quem se verdadeiramente só existe o Ele.
Por meio dessas conjecturas, facilmente podemos ver que ciúme é do lado da divisibilidade e não da unicidade – Deus –. Se ele não é do pólo de Deus tem que ser do seu oposto, de satanás. O mesmo pode ser dito do orgulho e da inveja.
 Assim como acontece com referência ao ciúme, também a inveja, reflete separatividade, reflete meios de atuação do ego, portanto aquilo que é do Ser de todos passe a ser de uma fração. Isso reflete a condição satânica. Deus sendo único não pode ter inveja. Inveja de quem? – Logo a inveja tem que ser do seu oposto.
inveja é, portanto, o oposto do ciúme; ciúme é o desejo de querer aquilo que julga não ser seu, enquanto a inveja é o sentimento de ter aquilo que considera não ser seu; ser de outro, ou seja, uma demonstração do empenho do eu vir a ter o que é do tu. Isso quer dizer: oteu vir a ser incorporado ao meu.

O mesmo pode ser dito do apego e de todas as suas conseqüências. O apego até pode ser considerado como a raiz da quase totalidade daquilo que chamam de males. Como Deus pode ter apego se tudo é Dele. Apego envolve a possibilidade de perder para algo ou para alguém. E se não existe algo ou alguém além de Deus, então como pode existir apego? Se o apego não é manifestação direta de Deus, então tem que ser do oposto.

vingança é um aspecto do egoísmo, quando alguma coisa é tomada pelo tu, o eu[3], em seu aspecto ego reage. Se o ser nada tivesse a perder jamais ele teria do que se vingar. O Ser (Eu Maior) que tudo tem não perde coisa alguma e, sendo assim, não tendo perdas não tem do que se vingar. Por isso temos dito muitas vezes que um Deus vingativo, punitivo, não existe. Para haver punição tem que haver algum motivo que se prende a uma perda, quer ela seja material, quer sentimental, etc. Os seres por se julgarem separados têm ilusão de perda e é disso que pode ocorrer a vingança, que não deixa de ser uma forma de punição.

Seguindo esse mesmo raciocínio se pode concluir que tudo aquilo que as religiões consideram pecado, coisas ou estados diabólicas, têm assentamento no ego. Sem o ego coisa alguma ligada à separação que mantém o ser afastado a do Ser, ou seja, o homem separado de Deus pode existir. Guerras, conquistas, lutas pela posse, traições, torturas, e miríades de frutos nefastos que delas resultam podem haver.

Na natureza dos seres existe uma dupla polaridade, a demoníaca e a divina. A força demoníaca é a força de separação. Ela não existe “fora” da pessoa, é um aspecto dela mesma; enquanto a Força Divina é a de união que também reside nela. A de separação é quem gera os mecanismos do ego, é a que alimenta a sua preservação dando origem a um estado de ilusão. É ilusão porque realmente a separação não existe, apenas existe a sensação de que existe gerado pela Mente. Mas podemos compreender que, mesmo em se tratando de uma ilusão, a força de separação é tremendamente poderosa; basta que se sinta que mesmo ela não sendo capaz de causar verdadeiramente uma ruptura na Unicidade, ainda assim é suficiente para substituí-la por uma ilusão.
 Todas as chamadas manifestações satânicas são basicamente mecanismos do ego, isso quer dizer que “satanás interior” na verdade existe apenas como ego.
 O maior terror que os seres têm é de perder a sua aparente individualidade, mas isso acontece porque eles ignoram a sua verdadeira natureza, a natureza de Ser Uno. Como é o ego quem fornece os meios de manter a separatividade, então ele é cultivado com tremendo empenho pelos seres. Eles defendem o ego a qualquer preço por ver nele o elemento de manutenção da individualidade. Mesmo que jamais alguém haja pensado sobre isso, ainda assim ele normalmente age de conformidade. O ser faz com que o ego tenha cada vez mais força, alimenta-o através do orgulho, ciúme, inveja e outros. Por um lado tudo isso é um mecanismo do ego que visa proteger a individualidade.
ego é o reflexo satânico da existência imanente, e não pode haver libertação sem que haja a sua eliminação, comente assim é que os seres só poderão voltar a integrar o Ser. Isso só ocorre com a cientificação. Jesus disse: “Conhece a verdade e ela te libertará”. Conhecendo a verdade sobre os meios de atuação da força diabólica se torna mais fácil a libertação. Sabendo que tudo se manifesta sob a forma de ego, é imperioso que a pessoa se liberte dele eliminando os seus ardis.
A individualidade, de certo modo, é uma cria do ego, algo terrivelmente dominador, e o que é curioso, ele é alimentado pela própria vítima, pelo ser. Mas, a resistência contra a perda da individualidade pela eliminação do ego é tremenda. Assim se pode entender como é terrivelmente poderosa a força satânica. A condição de ser é mera ilusão, ou seja, é produto da limitação da percepção. Tudo nele é limitado, deformado e imperfeito, mas mesmo assim a pessoa persiste em querer continuar, a fazer de tudo para continuar sendo ser, resistindo a sua verdadeira natureza de Ser, perfeita, ilimitada e indeformada.
A mais autêntica face de satanás no nível de ser é, sem dúvidas, o ego. Mesmo para os que admitem que ele exista a par da pessoa, ainda assim o seu mecanismo é exatamente o ego.
Uma das formas de luta contra o ego, por certo, é o mantra: Om Sai Ham (Sou Deus), sou o Ser e não um ser.   

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