sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Não se faz Maçonaria com Antigamente



Estava eu lendo o blog de um mui especial amigo meu, quando fui surpreendido com um anúncio por meio do Google. O anunciante era um site cujo domínio era formado pelas iniciais do Rito Escocês Antigo e Aceito, seguido de um .com.br. O texto do anúncio, que não consegui resgatar (infelizmente) dizia algo como Maçonaria: solicite sua filiação.

É difícil de descrever em palavras o sentimento que experimentei, mas creio que “decepção” seja o termo mais coerente neste momento.

Embora meus leitores me chame  de M.'.I.'. e Comendador, sou do tempo em que Maçonaria era também chamada de Arte Real. Ninguém pedia para entrar na Ordem: os Mestres Maçons é que, quando identificavam um Maçom potencial, é que sugeriam o seu nome em Loja. Aí a Loja designava um Irmão que faria a sindicância, ou seja, uma investigação da vida pública do sujeito, que tinha de ter algumas características morais para ser aceito, bem como atender algumas exigências formais (como não estar sendo processado judicialmente, não ter cometido crimes, etc).

Naquele tempo também a Maçonaria era coisa de homens, de gente de caráter firme e espírito desejoso de melhorar (ou “desbastar a pedra bruta”). A iniciação era uma cerimônia carregada de simbolismo, na qual os Irmãos mais antigos se esforçavam ao máximo, para que o neófito fosse apresentado a todos os símbolos com a devida carga emocional, o que lhe daria subsídios para uma vida inteira de investigação, se assim desejasse.

Naquele tempo honravam-se juramentos, não por nenhum outro motivo senão a própria palavra empenhada: se um homem promete alguma coisa, ele cumpre, e se o faz sob juramento, então nem se fala.

No meu tempo, Aprendizes cumpriam o interstício regulamentar antes de passarem a Companheiros, e estes o mesmo antes de passarem a Mestres. E essa transição, que detinha um cerimonial próprio e quase tão importante quanto a iniciação, só era efetivada depois de o sujeito demonstrar aptidão e mérito para tal.

Hoje não.

Hoje registram um domínio .com.br e fazem uma campanha no AdWords. Abrem a Ordem para “adesões”, num proselitismo absurdo e nonsense. Desconfio até que — dada a observação dos métodos de captação — basta que o neófito mantenha as mensalidades em dia para que seja “promovido”.

É claro que não estou dizendo que as Lojas não devem se modernizar. Não estou dizendo que a as Lojas não possam ter páginas na Internet, ou que não devam levar seu conhecimento ao mundo dito profano. Longe disso.

Contudo, levar a informação acerca da Maçonaria ao conhecimento público, como seria feito em qualquer sessão branca, é algo muito diferente de abrir inscrições na Internet, como se a Ordem fosse um clube esportivo. Em minha concepção, sites maçônicos deveriam ser guardados por senha, e nem precisaria ser cadastrando usuários: há perguntas cujas respostas exatas apenas iniciados saberiam, e um sistema de autenticação simples e eficiente poderia ser criado a partir daí.

Enfim, talvez o problema seja eu mesmo, que ainda acredito na palavra empenhada, no fio de bigode e no valor do juramento. Será que isso já virou romantismo? Espero que não.

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