O trabalhador guerreiro; com a trolha em uma das mãos e a espada na outra.
Denilson Forato
Em qualquer empreendimento,
material ou espiritual, aonde o maçom se lance, há necessidade de
trabalho constante. Daí o afloramento da boa vontade ser eficiente arma
de defesa contra a oposição difamadora dos inimigos. No mínimo exige o
aporte de coragem para enfrentar as vicissitudes da vida, entretanto,
sem a existência de forte espiritualidade é praticamente impossível
conciliar conflitos, sejam estes materiais ou espirituais. É a
característica e desenvolvimento espiritual que dá ao homem a
possibilidade de sobrevivência neste sistema competitivo. Característica
que só desenvolve plenamente se movida pelo heroísmo de vencer a si
mesmo, pelas aspirações e ideias que o diferenciam dos outros animais e
de outros iguais. Sua característica guerreira não é fortuita, aconteceu
em resultado de sucessivas fases de seleção natural, da prevalência do
mais apto. É só olhar ao passado, na história da trajetória do homem até
o presente e verificar que a jornada foi penosa, inclemente.
Protegiam-se em locais lúgubres como florestas e cavernas, ou então, em
encostas e escarpas para escapar aos predadores ou da fúria dos
fenômenos naturais. A luta foi longa e muitos agonizaram para lançar o
homem no atual estágio de desenvolvimento.
É notório que, apenas os
agrupamentos de homens que detinham as mais desenvolvidas
características espirituais progrediram e sobreviveram; os demais
sumiram nas brumas do tempo sem deixar vestígio de suas passagens. Só as
civilizações altamente desenvolvidas em espiritualidade deixaram marcas
indeléveis de suas passagens e podem ser vistas hoje ainda. Estas
características passaram entre as gerações e, de tão significativas,
gravaram-se na estrutura social, passando por herança aos herdeiros,
representando a diferença entre a vida e a morte, felicidade e
sofrimento. Apenas as sociedades que obtiveram maior sucesso em
sustentar características espirituais suplantaram as demais e dominaram
por um tempo, normalmente enquanto primavam por altos valores morais e
espirituais em suas sociedades. Só através da evolução espiritual é que
foi possível obter recompensas de evolução e supremacia e nunca sem o
empunhar da espada para defender-se dos inimigos. Os inimigos visíveis
são mortos pela espada nos campos de batalha que se cobrem com sangue e,
como consequência da derrotas, os seus castelos, templos e cidades são
derrubados e incendiados; em muitos casos não sobra pedra sobre pedra.
Os inimigos invisíveis, aqueles que conspiram para derrubar o templo
interno de cada um, são eliminados por uma espada simbólica com
capacidades de lógica, psicologia e gnosiologia.
A espada de defesa na construção
e reconstrução de templos internos serve-se da lógica. É ela quem
percebe quando o inimigo tenta, por insídia ou ignorância, destruir a
construção. Embora a lógica pareça artificial, ela se impõe por si
mesma. É a aplicação da razão ao pensamento enquanto pensado. É
ferramenta do pensamento enquanto estiver no campo das ideias. Não atua
no Universo físico, apenas no pensamento. O grande inimigo da construção
é construído no pensamento, e é lá que deve aportar a sagacidade da
lógica da espada para matar raciocínios tortos e que conduzem ao erro. É
importante entender claramente o que o orador verbaliza e absorver
corretamente as estruturas das palavras e frases e sua organização
interna. Cabe ao maçom saber falar bem e interpretar corretamente o que
fala, usando com galhardia a linguagem para expressar seu próprio
pensamento e entender o que os outros realmente verbalizam. Não só
ouvir, mas dar sentido lógico e aplicabilidade prática ou sensível. Deve
ir além das palavras e descobrir falhas de raciocínio. Andar armado com
a espada é necessidade em qualquer ambiente onde se reúnem homens.
Todos têm interesses: uns bons, outros não! Que valor tem elogios ditos
de forma a apenas fazer coceiras nos ouvidos dos ouvintes? Não é ofensa
discordar! Desonesto é elogiar quando existe erro em algum raciocínio.
Desgraçada é a construção cujo alicerce é minado pela adulação e
falsidade. É cada um em si quem permite que os outros o atinjam com suas
armadilhas, com seus pensamentos errados, e isto dura até o momento em
que se aplica a fria espada da lógica para derrubar pensamentos tortos. E
onde está a lógica na composição da espada? Ela está no fio. Quanto
mais aguçada a lógica, com mais facilidade ela corta os raciocínios
errados e o derruba inimigo da construção.
A espada que é usada na
construção tem mais uma propriedade: a psicologia, capacidade inata ou
aprendida para lidar com outras pessoas e consigo mesmo, levando em
conta suas características psicológicas. Convém armar-se da espada que
percebe a origem do pensamento expresso e qualificá-lo quanto ao tipo a
que pertence. Qual linha ideológica defende. A lógica é dependente da
psicologia, daí sua importância. A psicologia permite conhecer o
processo de pensamento do homem, senão como saber onde atingir os pontos
vitais do inimigo? Conhecer bem o homem e os pontos fracos e fortes do
seu pensamento é importantíssimo na luta para defender o pátio de obras
de construção ou reconstrução de templos. É aprender a reconhecer onde
se é mais vulnerável, onde as muralhas são mais frágeis e que
eventualmente permitirão um ataque surpresa de vícios e paixões. A
psicologia é a essência do "conhece-te a ti mesmo". Sem conhecer a
maneira como o homem pensa e sente é apenas luta inglória e o templo
pode vir abaixo a qualquer sopro de contrariedades. Se a lógica é o fio
da espada, a psicologia é a sua estrutura, o seu desenho é o que lhe dá
forma.
Podemos associar fé à
psicologia, que endurece o metal de que é feita. Fé é a crença no não
visto. Acreditar na existência daquilo que o maçom representa apenas por
um conceito, ao qual denomina Grande Arquiteto do Universo, é um ato de
fé. É aceitar, mesmo sem ver, a manifestação de uma mente lógica que
apenas cria as leis que dão vida. Este ato de fé é resultado da atuação
de lógica e psicologia.
A esperança dá sentido e razão
do porque lutar para defender o templo interno, aponta a direção para a
espada atingir os pontos vitais do inimigo. É a certeza que o Criador
não o colocou nesta bela nave espacial sem um propósito definido. Para
alguns é indiferente viver em virtude da existência do mal, mas a
maldade é criação do livre arbítrio da criatura e não do Criador. A
intenção do Arquiteto é simples: felicidade.
Uma espada bem afiada, dura, bem
desenhada, manejada com habilidade carece de mais uma característica: a
gnosiologia; teoria geral do conhecimento humano, voltada para a
reflexão em torno da origem, natureza e limites do ato de pensar;
defende o pensamento quanto ao seu valor; estuda as relações entre as
diversas verdades de um pensamento, entre o conhecimento e o objeto
conhecido. Em grosso modo é a psicologia e a lógica atuando juntas para
construir pensamentos corretos, sem falha, onde a gnosiologia apenas os
organiza e classifica. É o conhecimento resultante da interpretação
correta do pensamento enquanto estiver na cabeça. É a organização de
conhecimentos visíveis como visão, gosto, tato, e invisíveis, ou como
fantasia, metafísica e outras. Gnosiologia é necessária ao maçom para
que esteja estruturado com uma espada eficiente, treinada e organizada
para defender a construção de seu templo interior. É a espada do
conhecimento que espanta todo e qualquer inimigo que tenta destruir a
bela construção moral que cada maçom deve ser na construção da sociedade
humana. É o motivo de o maçom estudar em sua loja os mais diversos
assuntos do pensamento, guardando-os para aplicação em sua vida. O
resultado de todo conhecimento é ordenado e organizado pela gnosiologia.
Ela é a espada toda. Está em todos os detalhes, de como este são belos,
ordenados e prontos para o uso. Uma arma desprovida de treinamento,
organização e método são o mesmo que possuir um revólver sem saber
usá-lo, vem o meliante e leva tudo, inclusive a arma.
O maçom que prima pela
reconstrução constante de seu interior, de seu templo vivo, usa a trolha
numa das mãos e empunha a espada na outra, e em virtude desta condição
de permanente alerta é bem sucedido na vida, progride material e
emocionalmente - apesar das dificuldades, é feliz. Aprende a suportar a
visão do ser e do que há de mais luminoso do ser, visão equilibrada que
passa a interpretar como o bem. Só usa da espada para matar os inimigos
que tentam bloquear o caminho para a luz, para intimidar e afastar os
que tentam interferir na sua permanente reconstrução, razão da
sabedoria, manifestação da felicidade. O sumo do bem é encontrar a
felicidade. Está consciente que é pelo valor, perseverança e firmeza com
que trata seus assuntos internos que dependem seu sucesso na sociedade e
constantes momentos de felicidade. Com este repetido trabalho de
reconstrução do templo interno obtém a vitória da liberdade como
consequência da coragem e da perseverança. Está consciente que o caminho
da luz é resultado da repetição que conduz ao hábito, pois quem tem por
hábito repetir práticas virtuosas certamente encontra a felicidade.
Trabalha para construir um ambiente de paz e harmonia onde possa crescer
junto com seus irmãos e cidadãos do mundo, sempre alerta contra os
ataques, os quais são repelidos com coragem e firmeza. O ambiente que
ele constrói internamente reflete-se ao seu redor, contamina aos que lhe
são próximos. Surge o ambiente fraterno onde as pessoas tratam-se como
irmãos, onde se reúnem diversos templos vivos semelhantes que têm
profundo amor entre si, e como consequência, lá naquele local sagrado se
manifesta aquilo que o maçom define pelo conceito de Grande Arquiteto
do Universo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário