A especulação sobre outros mundos
sempre esteve presente em nossas vidas, principalmente em nossas
concepções sobre as escolhas. Falar sobre tais mundos alternativos é um
assunto que sempre gera polêmica, principalmente numa Taverna, numa roda
de amigos.
Durante a nossa jornada, em algum
momento, já pensamos sobre a possibilidade de um (ou mais de um)
universo paralelo, embora alguns interpretem de forma mais religiosa ou
espiritual e outros analiticamente se apeguem às questões científicas
que envolvem o assunto.
Julgar qual é a melhor vertente é
precipitar-se, pois a reflexão que nos esclarece vai muito mais além das
suposições porque está ligada com a ideia do “donde vim e para onde
vou”. Optar por uma dessas vertentes não significa anular outras,
significa escolher quais as histórias que melhor te convencem.
Sempre gostei de mergulhar na história da
humanidade, desde quando essas histórias eram contadas por professores
como contos, nos primeiros anos do colégio. Desde a antiguidade, o homem
se prende à imaginação de como seriam outros mundos, uma mistificação
envolvente que questiona o mundo que vivemos e um mundo pressuposto.
Como arquiteta, afirmo que não era à toa que os egípcios se preocupavam
mais com seus túmulos do que com suas próprias casas, quando acumulavam
riquezas para aproveitá-las apenas num mundo desconhecido que só
conheceriam após a morte.
Esse pensamento sobre universos
alternativos, no entanto, acompanha a humanidade com as descobertas
científicas, um assunto capaz de nos encantar de várias formas, muitas
delas através da literatura, do cinema e da TV, direcionadas tanto à
espiritualidade quanto à ciência.
Cresci ouvindo contos de fadas como
muitas crianças que também tinham dificuldades para dormir e seguravam
os pais até os olhos colarem. Essas histórias, ingênuas e desconexas com
a nossa realidade, compõem de certa forma o que somos e como agimos.
Dentre as minhas histórias preferidas, Alice no País das Maravilhas é a
que mais reflete sobre um lugar alternativo, um país que para existir
precisa estar atrelado ao acreditar. Quando Alice passa acreditar que “A
única forma de alcançar o impossível é acreditar que é possível”, ela
imediatamente penetra num outro universo que pode ser controlado, um
prato cheio para alimentar a imaginação de crianças e adultos.
Alice no País das Maravilhas é referência
para muitas outras histórias. Seguir o Coelho Branco não é só uma
jornada de crianças cheias de imaginação, seguir ou não o coelho virou
uma metáfora presente no mundo adulto e cético relatado principalmente
no cinema, em muitas tramas de ficção científica como na trilogia Matrix
– quando Neo tem a opção de seguir o “coelho branco” e então escolher
entre acreditar na sua vida cotidiana ou ver a realidade de outro mundo.
O cinema traz à tona diversas
consequências sobre descobrir a existência de um universo paralelo, a
trilogia Back to the Future – De volta para o Futuro – e a saga The
Terminator – O Exterminador do Futuro, são filmes clássicos que
influenciaram outros filmes na formulação de enredos sobre o “efeito
borboleta” que se refere à teoria do caos (interpretada pelo poder das asas de uma borboleta que, ao bater, pode influenciar o curso natural das coisas e provocar um tufão do outro lado do mundo).
Essa mistura do coelho branco e da
borboleta também é presente em algumas séries de TV, algumas com êxito e
outras nem tanto. Lost foi uma das séries que se destacou nos EUA e
impactou também outros países com seu episódio piloto em 2004, episódio
que mostrava quase nada do que tinha por vir. A série várias vezes fez
alusão ao coelho branco, em títulos e metáforas dos episódios. Depois de
várias temporadas, e quase um ano depois do fim da série, muito ainda
se discute sobre flashback- flashforward, sobre escolhas e a
pertinência de universos paralelos explorados no roteiro.
Das que não tiveram êxito, ressalto
Journeyman (exibido pela Fox em 2007), um drama de ficção científica que
tem como protagonista um homem comum que começa a voltar no tempo, com
razão desconhecida, e aprende que a cada vez que volta a vida de uma
pessoa é alterada e o destino dele também, para melhor ou pior. Mas,
infelizmente, com a greve dos roteiristas desse ano a série foi
cancelada pelos produtores da rede ABC.
Outra série que retratava um cenário
envolvendo a teoria do caos foi FlashForward que estreou em 2009. Essa
série também um drama de ficção cientifica da ABC / SyFy conta a história
sobre o acontecimento de um evento global que provocou a possibilidade
dos habitantes da terra espiar, por dois minutos e dezessete segundos,
suas vidas seis meses no futuro. Essa série também foi cancelada pela
ABC que se defendeu alegando perda de interesse dos espectadores pela
trama.
Pensar sobre a existência de universos
paralelos é tão encantador quanto seguir o coelho branco. Imaginar outro
mundo, com outras histórias, mas com os mesmos personagens aguçam a
imaginação de criança que todos temos. Alguns acontecimentos e algumas
escolhas na nossa vida desencadeiam consequências que muitas vezes nunca
imaginaríamos, mas olhar para trás ajuda a compreender o que hoje
vivemos. Esses acontecimentos estão sempre presentes, mas nem sempre os
identificamos como encruzilhadas e refletimos sobre as escolhas. Não
consigo me imaginar num universo paralelo, em como seria uma
“Alternatati”, mas consigo identificar possibilidades de outra vida
nesse mesmo universo tão diferente e desafiador quanto a que vivo.
Pensar sobre como seria o desenrolar dessas escolhas me faz viajar num
mundo em que posso controlar e provocar consequências, como num sonho,
como uma arquiteta que constrói uma realidade de acordo com a imaginação
e as escolhas, uma viagem de inserção, como trazida no filme Inception,
gerando uma “realidade fictícia” manipulada para descobrir como seriam
as outras escolhas impregnadas no passado distante ou próximo.
Construa uma jornada! Para viajar, deixo essa semana como sugestão que envolve o tema, “Little Wing” (Jimi Hendrix), interpretada por The Corrs
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