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À Glória do G.A.D.U.!
É cediço que as últimas décadas foram
palco de consideráveis avanços científicos e tecnológicos, inclusive com
o fenômeno da globalização que literalmente derribou fronteiras. Tal
fenômeno acabou por influenciar a economia e a vida de todo o planeta,
principalmente pela celeridade da circulação de informações de toda
espécie.
No entanto, em que pese a propagação do
conhecimento, tem-se debatido a respeito da degradação que a sociedade
hodierna está sofrendo, principalmente no que tange as instituições que
tradicionalmente a sustentaram.
A família deixou de ser o ponto de
referência dos indivíduos, pois sucumbiu ao egoísmo exacerbado. As
virtudes inerentes ao bom caráter passaram a ter conotação antiquada,
quiçá, jocosa. A aparência prepondera sobre a essência.
É justamente neste emaranhado de
contradições e superficialidades que seletos homens são chamados para
compor as fileiras de uma instituição secular – a Maçonaria –, “para
combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar
o Direito, a Justiça e a Verdade. Para promover o bem da Pátria e da
Humanidade, levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao vício”.1
Assim, o profano ao ser iniciado nasce
para vida maçônica cabendo-lhe inúmeras responsabilidades que, para os
fins que se destina o presente trabalho, limitar-se-á a estudá-las sob
os três aspectos mais importantes: moral, social e institucional.
MORAL
Não é o objetivo se ater a divagações filosóficas com relação a moral2
ou a ética, pois não se entende necessárias à compreensão do tema, vez
que o senso comum, que possui todo homo medius, é suficiente para que o
maçom entenda a dimensão da responsabilidade que lhe cabe.
Obviamente, o estudo da moral não pode
se limitar a um ponto de vista meramente subjetivo, mas, sobretudo, sob
seu aspecto pragmático. Neste último é que o Maçom deve se prender, pois
de nada adiante estudar as instruções e complementos, que estão
repletos de exortações à boa conduta, se não colocá-las em prática.
Portanto, a conduta do maçom é a razão de ser da moral maçônica.
Destarte, o objetivo da Instituição
Maçônica é a construção e o aperfeiçoamento ininterrupto da sociedade
que, para tal, necessita de seus pedreiros afim de que executem este
árduo trabalho. Neste sentido dispõe a Constituição da Grande Loja de
Santa Catarina, em seus Postulados:
(...) a Maçonaria é uma instituição
nascida para combater, com a persuasão e a força moral do bom exemplo,
tudo que atente contra a Razão e o Espírito de Fraternidade Universal.
Nesta força moral, que só se adquire pela Virtude, única proclamada como
legítima, consagrada pela consciência dos povos nos códigos das nações,
como agente supremo do poder soberano, concentra a Maçonaria toda a sua
glória e a ela deve os grandes triunfos que, com tanta justiça, a têm
colocado como a primeira à frente das grandes instituições nascidas do
amor à Humanidade e do interesse pelo bem-estar dos povos. Ciência do
progresso moral, a Maçonaria resume sua ação social nos atributos da
inteligência e do coração – Luz e Verdade, Amor e Filantropia.3
Por sua vez, o artigo escrito pelo
Ir.Luiz Gonzaga Rocha aborda com sucinta precisão a razão de se ter
verdadeiros maçons na sociedade:
Curvo-me à idéia de que a busca da
perfeição e da existência de um mundo melhor, dirigido por homens
iniciados e/ou iluminados, pode muito bem representar uma utopia, mas
sendo este o plano de evolução social, cultural e política da Maçonaria,
e sendo esse entendimento no sentido de que os maçons assumam os
destinos das sociedades, aos maçons impõe-se, antes e depois de toda e
qualquer consideração, serem conhecedores e partícipes desse ideal, e,
para tanto, requer-se que sejam incorruptíveis, instruídos, livres
pensadores e excelentes formadores de opiniões, verdadeiros construtores
sociais e instrumento adequado para efetivar as transformações sociais
requeridas; e, ainda, sejam capazes de aperfeiçoar-se, de instruir-se e
disciplinar-se constantemente na Arte Real, sem prejuízo da conveniência
de conviverem harmoniosamente com centenas de milhares de seres
díspares, e que possam, a
despeito de todas as dificuldades, ser destacados por palavras, obras e exemplos de vida, e sobremodo, que ostentem, sem envergonhamento, o lema mais sagrado da Ordem Maçônica: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.4
Desta forma, o maçom não foi escolhido
apenas para aumentar número de uma determinada loja ou da Instituição no
seu sentido universal; não pode se limitar ao simples recitar dos
manuais, como se a obra que lhe cabe pudesse ser realizada por qualquer
tipo de força transcendental que, através da simples repetição de
palavras durante os rituais, alguma força cósmica cumpra o papel que lhe
cabe junto à sociedade.
Em que pese a Maçonaria Operativa ter
dado azo à Especulativa, a obra do pedreiro ainda continua sendo manual.
Obviamente que o aperfeiçoamento intelectual é necessário e, mais que
isso, é exigido, mas não é um fim em si mesmo, pois tem por escopo a sua
utilização para o bem da humanidade, que de maneira nenhuma poderá ser
limitado ao mundo das idéias, mas externado através de atitudes. Ora,
“(...) não é para que fujamos da ciência do Bem, mas para que possamos
pô-la em prática no meio social. Assim devem os maçons lutar para poder
vencer”.5
Não é à-toa que o maçom utiliza um
avental durante as sessões, “porque ele nos lembra que o homem nasceu
para o trabalho e que todo o maçom deve trabalhar incessantemente para
descoberta da Verdade e para o aperfeiçoamento da Humanidade”.6 Nem, tampouco, os instrumentos utilizados pelos antigos maçons operativos foram incorporados sem razão aparente, mas:
Por serem instrumentos imprescindíveis
às construções sólidas e duráveis, eles nos recordam o papel de
construtor social que compete a todos os Maçons e, ao mesmo tempo, nos
traçam as normas pelas quais devemos pautar nossa conduta: o Esquadro,
para a retidão; o Compasso, para a justa medida; o Nível e o Prumo, para
a Igualdade e a Justiça que devemos a nossos semelhantes.7
No telhamento para elevação de Aprendiz a
Companheiro se pergunta de que maneira os maçons são reconhecidos e, a
seguir, responde que por sinais, toques e palavras. Ora, tais respostas
se limitam ao conhecimento mínimo que um Aprendiz-Maçom deve ter para
visitar uma Loja Maçônica, pois, na realidade, um verdadeiro maçom
deveria ser reconhecido primeiramente pelo seu caráter, equilíbrio,
comportamento, probidade, caridade, humildade, em suma, pela sua
conduta. Obviamente, que se considera que tais exigências não são inatas
ao ser humano, devendo, portanto, o aprendiz utilizar o Maço e o Cinzel
a fim de desbastar sua Pedra Bruta.
Talvez, o grande segredo para a
realização da missão maçônica não esteja no aumento de suas fileiras,
mas na utilização simbólica dos instrumentos de trabalho dos antigos
maçons operativos, a fim de que todo o cabedal de conhecimento adquirido
com o passar dos séculos não se limite elaboração de teorias e
elucubrações, mas extrapolem as lojas e contagiem o mundo.
SOCIAL
Assim como no tópico anterior, a
Maçonaria está repleta de ensinamentos que objetivam aguçar a
sensibilidade de seus membros às necessidades da sociedade. Da mesma
forma, são várias as alegorias que simbolizam virtudes que implicam na
responsabilidade social que deve ser cultivada e praticada no cotidiano.
No painel do Aprendiz-Maçom, vê-se na
Escada de Jacó a taça que tem, entre outros significados, o da caridade.
Nota-se, também, na Abóbada Celeste da loja, a Estrela Flamejante que:
(...) representa a principal Luz da
Loja. Simboliza o Sol, Glória do CRIADOR, e nos dá o exemplo da maior e
da melhor virtude que deve encher o coração do Maçom: a CARIDADE.
Espalhando luz e calor (ensino e
conforto) por toda parte onde atingem seus raios vivificantes, o Sol nos
ensina a praticar o Bem, não em um círculo restrito de amigos ou de
afeiçoados, mas a todos aqueles que necessitam e até onde nossa caridade
possa alcançar.8
Neste sentido, a caridade é somente uma
das facetas de intervenção social que o maçom deve cultivar no seu meio,
mas poder-se-ia enumerar várias outras possibilidades que não se
adequariam ao fito desta peça. No entanto, é oportuno se ressaltar o
ideal de fraternidade, que juntamente com a liberdade e igualdade, forma
uma das mais importantes tríades maçônicas; e, ainda, quanto aos
elementos decorativos da Loja, o pavimento mosaico e a própria orla
dentada, que lembram a necessidade de harmonia entre as diferenças e que
o amor e a união devem começar no meio maçônico e se propagarem para
toda a humanidade.
A bandeira da fraternidade foi abraçada
pela Maçonaria e, através de seus diletos filhos, espalhou-se por toda
cultura ocidental, influenciando não só revoluções, mas até mesmo boa
parte dos estados modernos ocidentais, que a recepcionaram em seu
ordenamento jurídico constitucional como o princípio da solidariedade.
Assim, é imputado ao maçom não só o
dever da boa conduta, mas também que trabalhe, transforme, intervenha na
sociedade na medida de suas possibilidades, a fim de cumprir o seu
papel de construtor social.
INSTITUCIONAL
Realmente, o fardo que Maçonaria atribui
aos seus membros é deveras pesado, vez que além de exigir uma conduta
baseada na retidão de caráter e um papel ativo junto aos seus
semelhantes, incube-lhes a instrução dos neófitos e a responsabilidade
pela manutenção de si mesma.
Felizmente, apesar das críticas de
certas religiões, que se limitam ao plano espiritual, a Maçonaria goza
de elevadíssima reputação. Tal fato, deve-se aos inúmeros trabalhos de
caridade que faz, aos grandes irmãos que no passado fizeram história e,
principalmente, pela relevante contribuição aos ideais democráticos.
Desta feita, a responsabilidade do maçom
é imensa, pois lhe cabe manter ilibada a estampa da Maçonaria,
justamente numa época contraditória e desvirtuada, sucumbida pela
indiferença e pela amoralidade.
Por outro lado, ao irmão recém-iniciado
deve ser dispensado todo o cuidado e apreço, a fim de que desde cedo
possa compreender a importância de seu juramento, e as responsabilidades
que tal ato acarretam.
Por este plano, entende-se de
fundamental importância à realização esmerada dos trabalhos em loja,
para que aquele possa atribuir a seriedade que é devida ao ritual
praticado e, também, compreender mais profundamente o seu significado.
Além disto, considera-se de vital importância à infância maçônica o
apoio, o exemplo e a sensibilidade dos irmãos mais antigos.
O primeiro, pode-se representar pelo
incentivo ao estudo e ao aprendizado, o segundo, pela referência de
homem maçom a quem o neófito pode sempre se espelhar e, a última, pela
percepção em detectar as dificuldades que certamente surgirão e, evitar,
na medida do possível, expor as leviandades e rixas existentes na
Instituição, por força da falta de controle das paixões humanas.
CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que o exercício da
vida maçônica não pode se limitar à loja e ao crescimento intelectual,
pois, além de tantas outras responsabilidades, o maçom deve primar pela
boa conduta a fim de que seja um referencial para uma sociedade
desmoralizada; ter atitudes efetivas que reflitam o papel de construtor
que lhe cabe; e zelar pela integridade da Instituição e sua
prosperidade.
No entanto, não cabe à Maçonaria
mensurar a responsabilidade de seus membros, pois, apesar da referida
construção requerer necessariamente uma intervenção direta, recai na
seara subjetiva da capacidade de que cada um é provido. Assim, a lição
extraída da Bíblia indica exatamente a extensão da responsabilidade de
cada maçom: “(...) Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão”.9
1GLSC. Ritual do Aprendiz Maçom. REAA, Florianópolis, 1998, p. 48.
21.Filos. Conjunto de regras
de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para
qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada.
(Aurélio)
3GLSC. Constituição. Florianópolis: 2000, p.l 813
4 Rocha, Luiz Gonzaga. Maçom e Maçonaria. Revista O Prumo n. 161. Florianópolis: 2005, p. 7.
5 GLSC. Instrução Preliminar Aprendiz-Maçom. Florianópolis: 2003, p. 21.
6 GLSC. 2ª Instrução Aprendiz-Maçom. Florianópolis: 2003, p. 11.
7 Apud, p. 14.
8 GLSC. 1ª Instrução Aprendiz-Maçom. Florianópolis: 2003, p. 12.15
9 BÍBLIA Anotada – Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. ed. rev. e atual. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
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