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A história da conquista
da liberdade é escrita a tinta sangue e à custa de muito sacrifício.
Oualquer que seja o significado de liberdade, embora aqui me refira a
que tem a ver com a emancipação política, com a soberania. No Brasil foi
assim. Nas colônias espanholas nossas vizinhas, também foi assim. A
independência se construiu com a vida de idealistas e heróis que se
sacrificaram em nome de uma pátria para seu povo.
Não se passe a ilusão
de que a independência nos tenha vindo mansa e pacificamente. Não. O
nosso sofrimento foi muito grande. A qualquer sonho, a reação da coroa
foi impiedosa e imediata. Bernardo de MeIo, em 1710, deu o primeiro
grito de república nas Américas, aqui em Olinda, no senado da câmara.
Não era uma revolução. Era um sonho só... Terminou seus dias no
calabouço do Limoeiro, sede da metrópole.
Felipe dos Santos
também teve suas idéias libertárias. Ganhou a morte com o seu corpo
amarrado a cavalos, dilacerado nos calçamentos de sua cidade. Depois,
ainda em Minas, o grupo da "Inconfidência" que falou alto, marcando
fundo a história da formação da pátria. Não chegou a realizar o sonho,
mas legou às gerações pósteras o exemplo de quanto é sublime lutar pela
liberdade, ressaltando a figura de Tiradentes -Joaquim José da Silva
Xavier - enforcado e seu corpo, em pedaços, espalhado na região.
Todavia, Pernambuco
superou a todos em termos de sacrifício, decerto porque tenha ido mais
longe e mais profundo na busca de uma pátria para os brasileiros. A
Revolução de 1817 não era apenas um feito pela independência. Era a
emancipação política com república. Uma pátria para os brasileiros e por
eles governada. Resultado imediato, segundo o martirológio escrito pelo
padre Martins em 400 páginas (Mártires Pernambucanos, edição de 1853),
628 pessoas oprimidas e sacrificadas.
A Revolução
Pernambucana de 1817 teve seu inicio no século anterior, a partir do
Areópago de ltambé que Arruda Câmara e vários outros brasileiros
intimoratos implantaram, vizinho a Goiana, nos limites com a Paraíba.
6 de março de 1817 -
foi o produto do que se semeou em ltambé, no Areópago. A liberdade
doutrinada por Maçons, sob a orientação de Arruda Câmara que se formara
em medicina e na "arte real" em Montpellier na França. Os sonhos de
liberdade voltaram com ele que fundou o Areópago em 1796, e que teve as
suas portas cerradas em 1801, para que, em seguida, já multiplicado,
ressurgisse nas "academias" (Suassuna dos Cavalcanti de Albuquerque),
nas "universidades" do Recife e lgarassu, no Seminário (Olinda de Dom
Azeredo Coutinho), nos engenhos e nas vilas.
06 de abril - como
estava preestabelecido, não suportou a espera. Antecipou-se para 6 de
março, eclodindo a revolução um mês antes, e, por isto, perdendo a
participação dos baianos e cariocas.
A república sediada em
Pernambuco não ficou no sonho. Implantada, presidida por Maçom,
auxiliada por Maçons, foi uma realidade por setenta dias, sendo-lhe
crudelíssima a vingança do Rei: humilhação da família pernambucana,
prisões e calabouço, matança dos revolucionários inclusive sacerdotes, e
mais a mutilação do território da província. Pernambuco perdeu as
planícies férteis que vieram a ser o Estado de Alagoas.
A revolução não se
exauria aí. O fermento das torturas fazia crescer o pão-de-ló do sonho
de pátria. Em 1824, novas lutas, a Confederação do Equador. De pronto
outras vinganças. Tão cruéis quanto as anteriores, e com elas
completa-se o martirológio, onde se deu o sacrifício de Caneca,
espingardeado, porque os carrascos temeram enforcar o Frei, mesmo
chicoteados. Como os Braganças achassem pouco o sacrifício e o sangue de
tantos brasileiros, outra vez esquartejaram a Província. Presentearam à
Bahia os vales fecundos da Comarca de São Francisco.
A pátria dos brasileiros se construiu, porém, como se percebe, jamais se pagou, por demandar os caminhos da liberdade.
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