sábado, 24 de novembro de 2012

MAÇONARIA E POLÍTICA



     


Esse artigo não representa a palavra oficial de nenhuma Loja, Potência ou Corpo Maçônico. Trata-se da opinião e livre reflexão do autor.
Leitura destinada apenas aos Maçons.

PREÂMBULO 

- Como vimos nos artigos anteriores de nossos estudos, os  Landmarks e toda a legislação maçônica existente nas Potências e Obediências regulares, justas, perfeitas e reconhecidas são decorrentes da CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON, assim chamada as "Constitutions of the FreeMasons of the most Ancient and Right Worshipful Fraternity” publicadas em Londrse no ano de 1723.
Nem tudo que é Constitutions está nos Landmarks; mas tudo o que é Landmark está nas Constitutions.
Aqueles livrinhos distribuídos aos Aprendizes logo após a Iniciação, contendo pouco mais de meia dúzia de páginas e uma dezena de preceitos, é um resumo da síntese do sumário do que são realmente as  Constitutions. Como já disse antes, As Constitutions de 1723 abarcam 91 páginas contendo a História da Maçonaria, os Deveres, os Regulamentos Gerais e as canções festivas para o cerimonial. Imaginem só: partituras e canções para o cerimonial; tempos idos, quando tudo era levado a sério...
Hoje vou abordar o tema COMPORTAMENTO MAÇÔNICO, ÉTICA e POLÍTICA, pela ótica das Constitutions, começando com minha tradução da página 54 do texto original de James Anderson:
“Podeis divertir-vos com alegria inocente, desde que vos trateis uns aos outros de acordo com vossos próprios recursos, porém evitando todo excesso, ou forçando um Irmão a comer ou beber além de sua inclinação, impedindo-o de ir quando seus deveres o chamarem - fazendo ou dizendo algo ofensivo - ou que possa reprimir uma conversação agradável. Pois isso destruiria nossa harmonia e nossos louváveis propósitos. Por isso mesmo, desavenças particulares ou brigas não podem ser levadas para o interior da Loja, muito menos quaisquer discussões sobre religião, sobre as nações, ou política de estado[...] e somos resolutamente contrários a quaisquer políticas, pois até hoje elas nunca proporcionaram e nunca proporcionarão bem-estar nas Lojas” (... we are sesolv’d against all Politicke, as what never yet conduc’t to the Welfare of the Lodge, nor ever will.)  – e reparem que James Anderson usa a palavra grega  politiké para ser mais específico: política em geral.

ANÁLISE

- As primeiras 81 palavras dizem respeito à  ética e ao  comportamento maçônico depois do fechamento da Loja e antes da despedida dos Irmãos. São, em síntese, o que chamamos de CAVAR MASMORRAS AO VÍCIO. Não vou me demorar nessa parte das Constitutions. pois todos são experts no combate aos vícios supracitados.
Mas as últimas 31 palavras abordam a polêmica questão de MAÇONARIA & POLÍTICA.
Quero deixar bem claro que essas cento e doze palavras são de  James Anderson –reclamem com ele.
O texto diz “política de estado”; eu não saberia dizer se o original (state policy) pode ser compreendido pela moderna Ciência Política, como o resultado de uma tomada de consciência da classe política em determinado assunto que demande a burocracia de mais de uma agência do Estado. Seja como for, James Anderson (já prevendo a gritaria geral) reforçou a ideia mais adiante: “we are sesolv’d against all Politicke”= estamos decididos contra toda política”.

Como vocês podem ver, o assunto é muito mais complicado do que parece. Das duas uma: ou 1) seguimos a Constitutions de James Anderson ao pé da letra, ou  2) aceitamos isso e mais aquilo, rejeitando aqui e ali o que não interessa. No primeiro caso, a Maçonaria ficaria engessada e nada do que foi feito no passado poderia ter alcançado êxito: a Revolução Norteamericana, a Revolução Francesa, a unificação da Itália, os movimentos de libertação na América espanhola, a Inconfidência Mineira, a Proclamação da Independência, a Abolição da escravatura, a Proclamação da República, etc. No segundo caso, aceitar alguns artigos e desprezar outros, seria um delito de Lesa-Constitution, traição grave e abominável cometida contra a Carta Magna.
As ações dos dirigentes maçônicos, para serem justas e perfeitas (fundamentadas na legalidade) têm que estar submetidas às Constitutions in totum (no todo) e não mezzo a mezzo. Não existe meia-obediência, meia-coerência nem meia-verdade.

UMA SOLUÇÃO POSSÍVEL

A ação política da Maçonaria é  necessária e DEVE ser exercida, mas de forma DISCRETA, portanto nunca de forma institucional e muito menos levada para o interior dos Templos, muito menos quaisquer discussões sobre religião, sobre as nações, ou política de estado, pois até hoje o envolvimento direto de nossas ferramentas com o discurso dos políticos proporcionou algum bem-estar em nosso meio. Pelo contrário -  vimos recentemente algumas Lojas passarem pelo constrangimento ao constatarem, no banco dos réus, "parceiros" políticos que dias, aproveitando da boa fé dos dirigentes maçônicos, ocuparam a Tribuna de Honra dos nossos Altares para, do sacrossanto Oriente pregarem moral e bons costumes. Os maçons caem frequentemente nessas arapucas por causa de sua boa fé. Nesse particular, prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém - diria nossa sábia mãe, a Viúva.

PARTE PRÁTICA (leitura opcional e recreativa)
Nenhum estudo maçônico poderia ser empreendido sem a aplicação prática ou uma reflexão sobre os costumes. Vou ao exemplo tirado da vida:

- Em época de eleições é comum as pessoas citarem Aristóteles: “o homem é um animal político”. Certamente o bom e velho Aristóteles estava se referindo à natureza do homem como animal (zoon) que fala, pensa (logikon) e interage racionalmente na cidade-Estado (polis). Daí o zoon politikon, nome chique do tal bicho. Política (a festejada politiké) é a ciência de governar, de gerir os interesses públicos pertinentes à cidadania. O dicionário Houaiss joga lenha na fogueira ao registrar um dos significados de político com sendo “aquele que revela esperteza ou astúcia”. Felizmente para o Brasil, parece que nunca tivemos políticos assim, astuciosos espertalhões & Cia, Ltda.

Deixando de lado as definições, o que mais me intriga é a facilidade com que certos cidadãos citam Aristóteles na boca-de-urna, tentando convencer as pessoas, com pseudo-filosofia: vão encostando nos fregueses, dizendo, no bafo da cerveja, que eles devem votar no Alce K.Misão nº171, no Epafródito Esca Dabaixo nº121, Colírio Raro nº155, Beldroengas Perse Gonha nº213 ou Deoscoredes Bar Riga nº312. (Qualquer semelhança desses números com artigos do Código Penal é mera coincidência).
Se mal pergunto aos filósofos de plantão, em qual livro e capítulo Aristóteles disse isso?
Foram lá conferir, ou citaram por ouvir falar?

Quem estuda o assunto, aprende que o conceito aristotélico de animal político não é uma definição solta de almanaque para ser usada e abusada por marqueteiros em proveito daqueles que desejam um emprego no executivo ou no legislativo. Para Aristóteles,  animal político é o homem que se realiza plenamente no espaço físico e mental do bem mais elevado que é a polis. O homem não pode ser descascados como uma cebola até que se descubra um “zoon-eleiton” ou “homo-eleitoralis” implantado no cerne de sua dignidade. Não é possível dar zoom no zoon para o pudor permanecer disponível aos interesses escusos dos partidos PZ, PYC, PX, PQW, POWB ou PF$.

Como vimos no início deste artigo, a Maçonaria teve o cuidado de orientar seus adeptos no sentido de evitarem política nas reuniões de Loja. E fez bem nesse particular. Sabemos, por experiência, que as dissensões entre Irmãos e Lojas podem começar por algo insignificante  –uma discussão sobre o local da ágape, por exemplo; imaginem se estiver em pauta um arrancatoco politiqueiro!
Assim, agem bem os dirigentes máximos quando não misturam a liturgia de seus cargos com o troca-troca da vida política partidária, hipotecando apoio para x ou  y. O compromisso da Maçonaria é com as colunas J e B.

(Apenas uma vantagem existe para nossa Ordem durante os períodos eleitorais do mundo profano: é o retorno alegre e saltitante para o convívio das Lojas de queridos e poderosos Irmãos que não vemos há muito tempo. Ambas as colunas ficam repletas de animais políticos aristotélicos, concentrados e sorridentes. Mas existem os soberbos que seguro de si se canditadam, dão as costas à Maçonaria e perdem a eleição....Por que será????)
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