Esse artigo não representa a palavra
oficial de nenhuma Loja, Potência ou Corpo Maçônico. Trata-se da opinião
e livre reflexão do autor.
Leitura destinada apenas aos Maçons.
PREÂMBULO
- Como vimos nos artigos anteriores de
nossos estudos, os Landmarks e toda a legislação maçônica existente nas
Potências e Obediências regulares, justas, perfeitas e reconhecidas são
decorrentes da CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON, assim chamada as "Constitutions of the FreeMasons of the most Ancient and Right Worshipful Fraternity” publicadas em Londrse no ano de 1723.
Nem tudo que é Constitutions está nos Landmarks; mas tudo o que é Landmark está nas Constitutions.
Aqueles livrinhos distribuídos aos
Aprendizes logo após a Iniciação, contendo pouco mais de meia dúzia de
páginas e uma dezena de preceitos, é um resumo da síntese do sumário do que são realmente as Constitutions. Como já disse antes, As Constitutions de
1723 abarcam 91 páginas contendo a História da Maçonaria, os Deveres,
os Regulamentos Gerais e as canções festivas para o cerimonial. Imaginem
só: partituras e canções para o cerimonial; tempos idos, quando tudo
era levado a sério...
Hoje vou abordar o tema COMPORTAMENTO MAÇÔNICO, ÉTICA e POLÍTICA, pela ótica das Constitutions, começando com minha tradução da página 54 do texto original de James Anderson:
“Podeis divertir-vos com alegria
inocente, desde que vos trateis uns aos outros de acordo com vossos
próprios recursos, porém evitando todo excesso, ou forçando um Irmão a
comer ou beber além de sua inclinação, impedindo-o de ir quando seus
deveres o chamarem - fazendo ou dizendo algo ofensivo - ou que possa
reprimir uma conversação agradável. Pois isso destruiria nossa harmonia e
nossos louváveis propósitos. Por isso mesmo, desavenças particulares ou
brigas não podem ser levadas para o interior da Loja, muito menos
quaisquer discussões sobre religião, sobre as nações, ou política de
estado[...] e somos resolutamente contrários a quaisquer políticas, pois
até hoje elas nunca proporcionaram e nunca proporcionarão bem-estar nas
Lojas” (... we are sesolv’d against all Politicke, as what never yet
conduc’t to the Welfare of the Lodge, nor ever will.) – e reparem que
James Anderson usa a palavra grega politiké para ser mais específico:
política em geral.
ANÁLISE
- As primeiras 81 palavras dizem
respeito à ética e ao comportamento maçônico depois do fechamento da
Loja e antes da despedida dos Irmãos. São, em síntese, o que chamamos de
CAVAR MASMORRAS AO VÍCIO. Não vou me demorar nessa parte das Constitutions. pois todos são experts no combate aos vícios supracitados.
Mas as últimas 31 palavras abordam a polêmica questão de MAÇONARIA & POLÍTICA.
Quero deixar bem claro que essas cento e doze palavras são de James Anderson –reclamem com ele.
O texto diz “política de estado”; eu não saberia dizer se o original (state policy)
pode ser compreendido pela moderna Ciência Política, como o resultado
de uma tomada de consciência da classe política em determinado assunto
que demande a burocracia de mais de uma agência do Estado. Seja como
for, James Anderson (já prevendo a gritaria geral) reforçou a ideia mais adiante: “we are sesolv’d against all Politicke”= estamos decididos contra toda política”.
Como vocês podem ver, o assunto é muito mais complicado do que parece. Das duas uma: ou 1) seguimos a Constitutions de
James Anderson ao pé da letra, ou 2) aceitamos isso e mais aquilo,
rejeitando aqui e ali o que não interessa. No primeiro caso, a Maçonaria
ficaria engessada e nada do que foi feito no passado poderia ter
alcançado êxito: a Revolução Norteamericana, a Revolução Francesa, a
unificação da Itália, os movimentos de libertação na América espanhola, a
Inconfidência Mineira, a Proclamação da Independência, a Abolição da
escravatura, a Proclamação da República, etc. No segundo caso, aceitar
alguns artigos e desprezar outros, seria um delito de Lesa-Constitution, traição grave e abominável cometida contra a Carta Magna.
As ações dos dirigentes maçônicos, para serem justas e perfeitas (fundamentadas na legalidade) têm que estar submetidas às Constitutions in totum (no todo) e não mezzo a mezzo. Não existe meia-obediência, meia-coerência nem meia-verdade.
UMA SOLUÇÃO POSSÍVEL
A ação política da Maçonaria é necessária e DEVE ser exercida, mas de forma DISCRETA,
portanto nunca de forma institucional e muito menos levada para o
interior dos Templos, muito menos quaisquer discussões sobre religião,
sobre as nações, ou política de estado, pois até hoje o envolvimento direto de
nossas ferramentas com o discurso dos políticos proporcionou algum
bem-estar em nosso meio. Pelo contrário - vimos recentemente algumas
Lojas passarem pelo constrangimento ao constatarem, no banco dos réus,
"parceiros" políticos que dias, aproveitando da boa fé dos dirigentes
maçônicos, ocuparam a Tribuna de Honra dos nossos Altares para, do
sacrossanto Oriente pregarem moral e bons costumes. Os maçons caem
frequentemente nessas arapucas por causa de sua boa fé. Nesse
particular, prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém - diria
nossa sábia mãe, a Viúva.
PARTE PRÁTICA (leitura opcional e recreativa)
Nenhum estudo maçônico poderia ser
empreendido sem a aplicação prática ou uma reflexão sobre os costumes.
Vou ao exemplo tirado da vida:
- Em época de eleições é comum as pessoas citarem Aristóteles: “o homem é um animal político”. Certamente o bom e velho Aristóteles estava se referindo à natureza do homem como animal (zoon) que fala, pensa (logikon) e interage racionalmente na cidade-Estado (polis). Daí o zoon politikon, nome chique do tal bicho. Política (a festejada politiké)
é a ciência de governar, de gerir os interesses públicos pertinentes à
cidadania. O dicionário Houaiss joga lenha na fogueira ao registrar um
dos significados de político com sendo “aquele que revela esperteza ou astúcia”. Felizmente para o Brasil, parece que nunca tivemos políticos assim, astuciosos espertalhões & Cia, Ltda.
Deixando de lado as definições, o que
mais me intriga é a facilidade com que certos cidadãos citam Aristóteles
na boca-de-urna, tentando convencer as pessoas, com pseudo-filosofia:
vão encostando nos fregueses, dizendo, no bafo da cerveja, que eles
devem votar no Alce K.Misão nº171, no Epafródito Esca Dabaixo nº121,
Colírio Raro nº155, Beldroengas Perse Gonha nº213 ou Deoscoredes Bar
Riga nº312. (Qualquer semelhança desses números com artigos do Código Penal é mera coincidência).
Se mal pergunto aos filósofos de plantão, em qual livro e capítulo Aristóteles disse isso?
Foram lá conferir, ou citaram por ouvir falar?
Quem estuda o assunto, aprende que o conceito aristotélico de animal político
não é uma definição solta de almanaque para ser usada e abusada por
marqueteiros em proveito daqueles que desejam um emprego no executivo ou
no legislativo. Para Aristóteles, animal político é o homem que se realiza plenamente no espaço físico e mental do bem mais elevado que é a polis. O homem não pode ser descascados como uma cebola até que se descubra um “zoon-eleiton” ou “homo-eleitoralis” implantado no cerne de sua dignidade. Não é possível dar zoom no zoon para o pudor permanecer disponível aos interesses escusos dos partidos PZ, PYC, PX, PQW, POWB ou PF$.
Como vimos no início deste artigo, a
Maçonaria teve o cuidado de orientar seus adeptos no sentido de evitarem
política nas reuniões de Loja. E fez bem nesse particular. Sabemos, por
experiência, que as dissensões entre Irmãos e Lojas podem começar por
algo insignificante –uma discussão sobre o local da ágape, por exemplo;
imaginem se estiver em pauta um arrancatoco politiqueiro!
Assim, agem bem os dirigentes máximos
quando não misturam a liturgia de seus cargos com o troca-troca da vida
política partidária, hipotecando apoio para x ou y. O compromisso da Maçonaria é com as colunas J e B.
(Apenas uma vantagem existe para nossa
Ordem durante os períodos eleitorais do mundo profano: é o retorno
alegre e saltitante para o convívio das Lojas de queridos e poderosos
Irmãos que não vemos há muito tempo. Ambas as colunas ficam repletas de
animais políticos aristotélicos, concentrados e sorridentes. Mas existem os soberbos que seguro de si se canditadam, dão as costas à Maçonaria e perdem a eleição....Por que será????)
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sábado, 24 de novembro de 2012
MAÇONARIA E POLÍTICA
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