Primeiramente,
o que é mosaico? Ao contrário do que muitos já registraram, mosaico não
tem origem em Moisés. Conforme a etimologia dessa palavra já confirmou,
sua origem é a mesma da palavra “museu”. Mosaico é o trabalho feito
através da união de diferentes pedras.
Em
Loja, diz-se que o Pavimento de Mosaico, constituído de pedras brancas e
pretas, simboliza a diversidade do ser humano, mas sempre levado à
dualidade das forças: bem e mal, rico e pobre, sábio e ignorante,
saudável e doente, virtude e vício, feliz e triste. Muitos autores
concordaram sobre isso. Será que essa é a verdadeira interpretação?
Também
se diz que o Pavimento Mosaico está presente em nossos templos porque
assim era o piso do Templo de Salomão. Será mesmo verdade?
Outra
importante questão sobre o Pavimento Mosaico é quanto ao seu formato.
Qual é o correto? Aquele pequeno retângulo na área do Altar dos
Juramentos, ou todo o piso da Loja?
Para
encontrar as respostas corretas para tais questionamentos, deve-se por
um momento esquecer dos nossos Rituais atuais e voltar os olhos para a
história:
Mosaicos
faziam parte da arte e da arquitetura romana. Tem-se no livro João,
Capítulo 19, versículo 13, que os julgamentos do governante romano
Pilatos ocorriam em um lugar chamado pelo termo grego de “Litóstrotos”, e
em hebraico chamado de “Gabatah”. Litóstrotos significa calçado por
pedras, e Gabatah significa pavimento. Plínio utilizava o termo
Litóstrotos para se referir a um Pavimento Mosaico.
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Lenço com franjas e borlas |
Convencionou-se
imaginar que o “Santo dos Santos” do Templo de Salomão, por também ser
um local de juízo, possuía um Pavimento Mosaico. Essa teoria não tem
fundamentos na Bíblia, onde consta que todo o piso do Templo era de
madeira de cedro, mas é baseada em uma breve passagem do Talmud, que
permite uma interpretação de que os lugares mais sagrados dos templos
tinham o Pavimento Mosaico. As escrituras e tradições também dão notícia
de que o Santo dos Santos, mais alto do que o restante do Templo, era
delimitado por véus com franjas e borlas (almiazar). Franjas e borlas
eram usadas em sinal de respeito e devoção na época. Por borlas,
entende-se um adorno pendente. Uma herança dessa tradição ainda está
presente, por exemplo, nos populares lenços palestinos.
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Tapete Pav.Mosaico&Orla Dentada com Borlas nos 04 cantos |
Até
o final da Idade Média, não se sabia quais as cores desses antigos
Pavimentos Mosaicos. Porém, no século XVI, o Rei Henrique VIII autorizou
a confecção de um bíblia em inglês, surgindo então a chamada “Bíblia de
Genebra”, por ter sido feita naquela cidade. Essa versão traduzida
trazia como novidade diversas ilustrações. Entre elas, a do Templo de
Salomão, que era ilustrado com um Pavimento Mosaico de quadrados
intercalados em preto e branco. É evidente que não havia outra forma de
ilustrar um pavimento colorido, pois a impressão na época era apenas em
preto e branco. Porém, com pouco tempo a visão do Pavimento Mosaico do
Templo de Salomão em preto e branco firmou-se como realidade. Dessa
forma, quando do surgimento dos templos maçônicos, inspirados no Templo
de Salomão, o Pavimento Mosaico em preto e branco foi adotado.
Enfim,
as cores não tinham a simbologia da dualidade das forças. As cores eram
apenas porque essa era a ideia que se tinha do piso do Templo de
Salomão. O próprio Mackey, um dos maiores escritores sobre maçonaria de
todos os tempos, confessou isso em sua Enciclopédia Maçônica, declarando
que, apesar de equivocada, é adequada a interpretação do Pavimento
Mosaico como a dualidade entre o bem e o mal.
Você
pode estar se perguntando: “E a Orla Dentada?” Essa é uma questão
interessante. Quando do registro dos primeiros rituais em inglês, o que
era uma orla (borda, margem) com franjas e borlas (adornos pendentes)
nas extremidades… tornou-se simplesmente “indented tessel”
que, em tradução livre, significa “orla dentada”. Mas o que seria então
uma verdadeira “orla dentada”? Trata-se do que hoje vemos sobre o trono
do Venerável Mestre, em que a borda da cobertura do trono possui
“dentes” com franjas, sendo comum atualmente serem feitos de gesso.
Orla Dentada com franjas douradas |
Nos
Ritos que adotam o Pavimento Mosaico como um retângulo central, os
maçons não devem pisar no Pavimento, a não ser aquele que irá abrir e
fechar o Livro da Lei, assim como ocorria no Santo dos Santos, onde
apenas o Sumo Sacerdote podia ingressar e para realizar um fim
específico relacionado ao GADU. A circulação então é feita em ângulo
reto, tendo como parâmetro o Pavimento Mosaico.
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Borlas |
Já
no REAA, prevaleceu o entendimento de que todo o piso do Templo de
Salomão era um Pavimento Mosaico, baseado nas ilustrações medievais. Por
isso, todo o piso nos templos do REAA é em mosaico alvinegro, e a Orla
Dentada, que circula todo o pavimento, está representada pela “Corda de
81 nós”, da qual pendem 04 borlas nos 04 cantos do Templo.
Porém,
com a perda de tal compreensão e do conhecimento da origem de tais
símbolos, além da influência de outros Ritos, é comum encontrar templos
do REAA no Brasil que possuem o Pavimento Mosaico restrito ao retângulo
central, constituído também de Orla Dentada, ao mesmo tempo em que vemos
a Corda de 81 nós sobre as colunas zodiacais, algo totalmente
redundante. Onde se vê Orla Dentada não deveria existir Corda de 81 nós,
e vice-versa. Dessa forma, não é de se surpreender com as dezenas de
significados inventados para cada um desses símbolos:
Rizzardo
da Camino chegou a escrever que o Pavimento Mosaico representa a união
das doze tribos de Israel, os dentes da Orla Dentada são os planetas que
giram no Cosmos, e que a Corda de 81 nós absorve as vibrações negativas
e as transforma em positivas. Castellani preferiu escrever que o
Pavimento Mosaico representa a mistura de raças, a Orla Dentada é a
união dos opostos, e a Corda de 81 nós representa a comunhão de ideias e
objetivos de todos os maçons, tendo suas borlas o papel de representar
que a Maçonaria é “dinâmica e progressista”. Não somente discordaram um
do outro como suas suposições estavam erradas.
Apesar desses dois grandes autores discordarem um do outro em suas teorias, eles têm algo em comum: criatividade.
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