sábado, 24 de novembro de 2012

MAÇONARIA NO BRASIL





Analisando alguns conceitos emitidos por estudiosos da Maçonaria brasileira através dos anos, nota-se que eles são controversos. Alguns deles devem ser citados e comentados.
Um autor refere que o modelo maçônico que foi legado pelos irmãos do passado já não se adapta à Maçonaria atual. Este modelo foi projetado para o homem recém egresso do início da era industrial. Está defasado e anacrônico. A Maçonaria atual não poderia estar inserida nestes moldes. Tem que ser modernizada.
Um gnóstico referiu que a Maçonaria atual tornou-se materialista, pois dentro de seus templos ainda existem símbolos poderosos e mágicos, mas os maçons não os respeitam como tais, pois já não conseguem vislumbrar os seus mais puros significados. Enxerga-os, mas não os sente. Foi por esta razão que a Maçonaria se fragmentou, se confundiu e se perdeu. Mas seu potencial apenas adormece, ele voltará ao seu antigo vigor na hora em que ela for chamada novamente a desempenhar seu verdadeiro papel na história da civilização.
Outra versão refere que o maior objetivo da Ordem e que acalentou gerações de irmãos do século XIX foi a Abolição dos Escravos e a Proclamação da República. Uma vez libertos os escravos e proclamada a República, a Maçonaria brasileira perdeu seu objetivo prioritário. Não foi criada desde então uma motivação cívica, política ou  uma vocação social que seria a mais indicada. A Maçonaria brasileira fragmentou-se em várias potências, cada qual se autodenominando de soberana, verdadeira e única e se dizendo representante da opinião da população maçônica brasileira.
De fato, após ter sido proclamada a República, a Maçonaria do Brasil, pouco fez. Inicialmente, resolveu competir com as religiões cristãs no campo da beneficência, e da filantropia, onde com exceção de lojas de umas poucas cidades, onde a Ordem faz um trabalho filantrópico  social racional muito importante, mas as demais cidades do Brasil fazem uma filantropia amadora, sem planejamento, onerando sempre os seus obreiros. É comum uma loja, às vezes doar cadeiras de rodas para um profano paraplégico e eliminar um irmão por falta de pagamento das mensalidades, sem saber ao certo o que este irmão está enfrentando em sua vida naquele momento.
Neste particular as lojas brasileiras fazem confusão com caridade profana e a caridade maçônica, sem saber que os irmãos de outrora da fase  Operativa e mesmo da Maçonaria Moderna, faziam a caridade ao maçom necessitado, à família de maçons falecidos e jamais para os profanos.
Para profanos, não se deveria a rigor fazer caridade ou filantropia, se fossem seguidos os antigos costumes da Ordem. Entretanto, é o que ocorre no Brasil. O correto é se no quadro de uma loja existem aqueles irmãos que são filantropos por natureza, por índole, e que queiram praticar caridade, que a façam às suas próprias expensas nunca envolvendo a loja em si.
Em realidade a Maçonaria deveria fazer caridade só para maçons e suas famílias. Esta é a regra tradicional, infelizmente não observada em nossos dias.
Do ponto de vista social, a Maçonaria brasileira no século XX trabalhou em prol do divórcio desde 1918, quando ainda era proibido pronunciar esta palavra. Durante muito tempo a Maçonaria através de muitas das suas lojas manteve escolas primárias as expensas destas lojas, nos seus pátios junto ao templo. Mas o Estado chamou para si esta incumbência e as escolas foram desativadas. Hoje algumas lojas fazem a premiação para os melhores alunos de algumas escolas públicas. Isso é muito pouco em prol da educação.
Politicamente calou-se  durante a ditadura de Getúlio Vargas. Durante a ditadura militar imposta pela  Revolução de 1964 também ficou quieta. Manifestou-se em prol do Parlamentarismo, porém não era a opinião unânime de todas as potências. Quer dizer, o século XX foi perdido pelos maçons brasileiros do ponto de vista político, Vários presidentes da República foram maçons, mas em realidade não representando a Maçonaria e sim aos seus partidos políticos.
Mas não foi só do ponto de vista político que ela se perdeu. Também sob o ponto de vista social e educação e ainda piorou a qualidade de seus membros onde às  vezes o critério de indicação deixa a desejar. Aumentou o número de lojas, de potências e consequentemente o número de adeptos. E daí?  Foram bem escolhidos?
Entretanto ela foi, neste século passado, campeã de brigas internas, aparecimentos de novas potências por cisões e dissidências, processos na justiça profana, expulsões da Ordem etc. Verdadeira autofagia maçônica.
Há uma outra versão a mais acertada sobre a Maçonaria brasileira defendida por muitos irmãos pela qual não se pode exigir tanto dela, pois a sua função seria tão somente formar o Homem em si, como líder, como embrião, como uma célula dentro da sociedade. Esta é uma proposição correta. Formar bem o homem-maçom. Ela é uma escola de vida, preparando o adepto para ser um líder na comunidade profana.
À Maçonaria caberia tão somente mostrar corretamente aos seus adeptos os caminhos do seu autoaprimoramento, ensinando-os a serem verdadeiros construtores sociais para que atuem na comunidade como um núcleo em torno do qual estariam agregados os vários segmentos da sociedade. Parece que este conceito é o mais acertado e mais apropriado para o tempo atual. Se a Maçonaria formar um líder seja ele um político, um homem público, empresário, chefe de escritório, ou em qualquer segmento da sociedade ele estará representando a Ordem de uma maneira velada, mas de maneira eficiente e proveitosa como um construtor de uma nova sociedade. A partir daí sua participação na comunidade passa a ser naturalmente político-social.
Mas como andam os problemas flagrantes da Ordem no Brasil?
É claro que estas ponderações não se aplicam a todos os maçons e lojas, pois existe boa uma parte da Maçonaria que não se enquadra neste raciocínio.
Analisando a realidade, e basta apenas querer enxergá-la, sem reservas, sem um véu encobrindo a visão, com coragem pelo que se pode observar no dia a dia, existem situações erradas na Ordem as quais apenas algumas serão abordadas de forma aleatória.
- Falta de conscientização do que vem a ser Maçonaria. As sessões econômicas duram às vezes até duas horas e o período de estudos ou de instrução dura de quinze a meia hora, isto quando algum irmão tem algum trabalho a apresentar. Falta cultura maçônica dentro das lojas. Sessões sem conteúdo, apenas burocráticas sem apresentação de trabalhos e debates.
- Com relação à instrução contínua, e isto não acontece, pois os aprendizes e companheiros perguntam muito, é lógico que queiram saber que queiram aprender geralmente quando fazem uma pergunta a um mestre que poderia ser perfeitamente respondida, a resposta freqüente é “Isso não posso responder” “Tenha paciência você chegará lá”. Esta resposta bloqueia a mente de um aprendiz ou companheiro de forma negativa. O que não se pode dizer a eles são apenas palavras, sinais, e certos símbolos inerentes aos graus 2  e 3. Mas a história, filosofia, doutrina e uma série de coisas referentes à Ordem são conceituais e devem ser transmitidas aos companheiros e aprendizes.
Existem falhas severas desde o primeiro aprendizado. A grande maioria dos maçons cresce na Ordem do ponto de vista de graus e os galga sem conhecer o grau em que está colado.
- A pressa de muitos irmãos para que a sessão acabe logo, para poderem nos chamados “fundões” dos templos sorverem todo o tipo de bebidas disponíveis e ao mesmo tempo se alimentarem exageradamente e neste estado de empanturramento alimentar e sob os eflúvios etílicos tomarem as decisões importantes da loja, tais como quem será e quem não será o próximo venerável, alem de problemas importantes administrativos, qual será o cardápio da próxima semana, fazer bazófias com certos Irmãos que não concordam com eles, e nas “panelinhas” que se reúnem num canto para tramar o poder, enfim uma série de situações que todos sabem, mas fingem não ser nada com eles. Geralmente muitas lojas têm o seu “dono” e os demais Irmãos dizem amém. A democracia nem sempre impera no interior das lojas.
- Veneráveis fracos que não têm personalidade, dominados docilmente por verdadeiras “eminências pardas” dentro de sua própria diretoria. Às vezes são verdadeiros bonecos colocados no cargo para que o “dono da loja” possa continuar mandando nos bastidores. Um dirigente pelo sistema democrático nunca é o dono vitalício do cargo. Ele apenas está ocupando este cargo por um tempo para o qual foi eleito. Ele está. Ele não é.
- Carreirismo político maçônico com falsa liderança. Com freqüência irmãos entram na Ordem e almejam o poder e galgar altos cargos. Usam de toda artimanha para conseguir seus desideratos. Sempre se questiona o que é o tal poder temporal maçônico dentro da Ordem? O que significam os graus?  Ignoram que o poder verdadeiro é saber vencer suas paixões é o autoconhecimento, é a vivência maçônica interior de cada maçom.
- Comportamento antiético e antimaçônico de alguns irmãos, os quais querem prevalecer sobre os demais, muitas das vezes querendo impor seus defeitos como regra para a loja seguir.
- Candidatos para serem iniciados não gabaritados para tal. Existem muitos maçons que indicam candidatos sem conhecê-los adequadamente. E às vezes não sabem discernir se aquele candidato apesar de um uma pessoa de caráter ilibado, tem perfil para ser maçom. Outras vezes, são indicados apenas por ser parente ou amigo do padrinho.
- Os poderes dentro de uma potência, estão em muitas agremiações, desencontrados e comumente Irmãos extrapolam seus direitos não respeitando às vezes o próprio grãomestre que é a autoridade maior.
- As várias potências não se reconhecem entre si, mas utilizam os mesmos ritos, cada qual à sua maneira (Vide REEA no Brasil o qual é uma verdadeira “colcha de retalhos”).
- Desrespeito flagrante aos ritos minoritários. Não se respeita devidamente os ritos que têm um numero menor de lojas. Até as constituições são eivadas de artigos e parágrafos totalmente “escoceses”, ou seja, utilizando a forma de ser do R.EAA em detrimento aos outros ritos.
- A respeitável denominação Grande Arquiteto do Universo virou simplesmente “gadú” pronunciada atualmente de forma banal e sem respeito.
- Especialmente nas cidades de médio e grande porte, um templo de propriedade de uma loja é usado  um dia semanalmente. Fica ocioso o resto da semana, quando naquele templo poderiam funcionar pelo menos mais sete lojas.
Quando um grupo de irmãos, através de uma cisão, geralmente litigiosa por causa da luta pelo poder “enxameia” e funda uma nova loja, a  primeira decisão é construir um novo templo. O dinheiro gasto numa nova construção para esse fim poderia ser usado na construção de lar de apoio, asilo, uma creche e doado para comunidade.
- Falta de patriotismo, com desconhecimento total da história maçônica do Brasil e da participação dos maçons nos maiores eventos pátrios.
- Corrida atrás de graus. Muitos maçons querem ser 33 o mais rapidamente sem conhecer os graus anteriores. A ganância de chegar ao grau 33 é muito grande.
- A grande maioria dos maçons não lê. Não estão atualizados. Não sabem ao certo o que é a Maçonaria.
- Cita-se de passagem, certos irmãos que não honram seus compromissos valendo-se da mal interpretada tolerância maçônica.
Poder-se-ia enumerar mais de cinqüenta itens facilmente.
Entretanto é bom frisar que nem todas as lojas e nem todos os irmãos estão enquadrados neste panorama. Existem lojas tradicionais, bem administradas, bem instruídas, e existe uma parcela razoável de irmãos que são realmente maçons, e que são a esperança de uma Maçonaria melhor no futuro.
Estes flagelos foram mencionados mais em sentido de alerta, pois a Maçonaria tem que ser mudada quer no campo administrativo, histórico doutrinário e moral. Há que ter um replanejamento, um reciclamento urgente. É preciso ter a ousadia e a coragem de citar os males que assolam a Ordem no Brasil e a prudência de sugerir soluções que possam melhorá-la.
Entretanto prosseguindo, parece que tudo vai bem. Fala-se muito em tolerância, todo maçom é livre e de bons costumes. Ledo engano. A maioria dos irmãos não sabe por que está na Ordem e não sabe o que é tolerância. São maçons acomodados e coniventes. Mas, tolerância nunca foi conivência. Uma boa parte dos maçons brasileiros acredita que tudo realmente vai bem. São aqueles irmãos simples, bem intencionados, almas limpas. Não distinguem a maldade, não a vêem dada a sua pouca capacidade de julgamento. Todos são bons para eles e todos são irmãos. Isto lhes basta. Toleram tudo.
Quando um irmão se diz justo e perfeito, porém não é nada disso, os  outros justos e perfeitos fingem não saber do que se trata, pois aprenderam a ser fraternais e tolerantes. Ficam calados pela acomodação, e também pela mente embaçada pelo conformismo. E disso se aproveitam os falsos irmãos.
A Maçonaria era muito mais rigorosa no passado. Havia os conselhos de família, o júri em loja e aqueles que não merecessem a ser chamados de irmãos eram eliminados. Esta análise tem muito de verdade. Se um irmão que sabe discernir o que é tolerável e o que é intolerável, o que é certo e o que é errado. tiver a coragem de denunciar, ele poderá ser considerado um vilão. Há na Maçonaria brasileira uma verdadeira conspiração do silêncio. É um complô da Maçonaria contra ela mesma.
Acredita-se que alem da falta de planejamento que é uma das causas, e também a falta de uma meta racional a ser atingida, um plano de conscientização cultural, e instrução inteligente resolveriam muita coisa. Falta instrução nas lojas. É o mesmo problema da alfabetização. Imaginem se o Brasil numa campanha total e heróica do governo resolvesse acabar com o analfabetismo. Mudaria totalmente a mente dos brasileiros.
Se na Maçonaria, tivéssemos três sessões mensais, onde alem se praticar uma ritualística correta houvesse palestras, conferências, debates, cursos, mesas redondas, simpósios etc. a respeito da filosofia, história da Ordem, ritualística, bem como de Política como ciência o preparo do maçom seria outro. Quanto às sessões administrativas, deveria haver oficialmente uma por mês. A Diretoria resolveria os problemas burocráticos em sessões paralelas, não ritualísticas.
Cada potência deveria manter encontros trimestrais de aprendizes companheiros e mestres para toda a jurisdição onde fossem apresentados trabalhos e fosse estudada a Instituição como um todo.
Os altos corpos de cada potência, especialmente nas simbólicas deveriam manter uma severa vigilância em cima dos responsáveis pela liturgia e ritualística especialmente com relação às alterações achismos, invenções “enxertos” etc. Não pode haver confusões de ritos e confusões dentro do mesmo rito.
Os responsáveis pelas alterações deveriam constitucionalmente ser controlados e os altos poderes da Obediência deveriam aprovar ou reprovar qualquer modificação após um estudo acurado, com razões históricas inclusive. Os grão-mestres não deveriam participar, pois em regra têm sido eles aqui no Brasil, os responsáveis por tantas mudanças, “achismos” e invenções especialmente ritualísticas. Esta seria uma das maneiras de se controlar tanta alteração que pulula na Maçonaria brasileira, especialmente no rito maior que é o REAA.
Como a unificação total da Maçonaria no Brasil é uma utopia, a união, entretanto não é, e ela já está sendo realizada. As principais potências da Maçonaria Tradicional, não se reconhecem, todavia em suas lojas-base está havendo uma intervisitação sistemática que vem a ser uma das maiores conquistas internas da Ordem no país. Este contato entre irmãos de potências diferentes está trazendo resultados muito importantes. Já não são mais irmãos bastardos e nem primos, agora já são irmãos. E em alguns estados há certa união entre os grãomestres das várias potências. encontram-se em eventos maçônicos e em congressos realizados em regime de co-participação. Este sintoma é muito interessante. Deveria ser assim em todos os estados. Mas isto não tem o aval da direção geral destas potências, onde seus poderosos chefes têm medo de perder o poder.
Os grão-mestres das principais potências deveriam em todos os estados sentar-se em torno de uma mesa e decidirem problemas de ordem social e política, mas também problemas da Maçonaria como um todo.
Em se tratando de um mesmo rito que se usasse um único ritual o qual seria organizado por uma comissão de irmãos versados em história e ritualística pertencentes a estas potências.
Nos ritos que tem Palavra Semestral, que ela fosse apenas uma para todas as potências.
Correspondências deveriam ser trocadas e levadas a sério entre as potências a respeito de candidatos não desejáveis para serem maçons. Em cidades em que haja diversas lojas de varias potências, deveria haver um conselho de veneráveis de todas as potências (já existe em várias cidades) uma organização para maçônica, com a chefia de mandato anual, em rodízio de cada potência para tratar de política (não partidária), problemas econômicos, sociais, de segurança que atingem a cidade e a região, filantropia, beneficência e defesa da própria Ordem, a qual é sempre atacada por elementos de algumas religiões ou de inimigos gratuitos. A Maçonaria está muito exposta. Seus flancos estão totalmente desguarnecidos.  E ela nunca se defende.
Estas medidas são viáveis e fáceis de serem aplicadas. Bastaria tão somente os grãomestres descerem um pouco do pedestal de sua autoridade e num gesto de humildade, abrir o seu coração à causa maçônica, e chegarem a um acordo fraternal, racional e transparente e que atendesse o interesse de todos.
O maçom brasileiro necessita com urgência de uma nova vocação, uma meta de um alcance maior, mesmo que pareça impossível, mesmo que seja um sonho, a médio ou até em longo prazo, mas que pudesse unir todos os maçons em torno do mesmo ideal.
O primeiro passo seria através dos mais brilhantes irmãos de cada potência, após estudarem todos os detalhes apresentarem um diagnóstico da Maçonaria brasileira.Este diagnóstico terá que levar em conta o nosso passado, analisando com muito cuidado o presente e estabelecendo metas, e assim planejadas, estabelecer com segurança, o futuro.
O século XX pode-se considerar perdido, mas o XXI está apenas começando, muito embora já tenha transcorrido um décimo do século. Ainda há tempo de salva-lo, porque o verdadeiro maçom não perdeu o seu amor à Ordem.
Ele crê numa Maçonaria diferente, muito melhor que a atual, numa Maçonaria forte, coesa e representativa com um futuro brilhante desempenhando o seu papel social, e tendo seus membros como verdadeiros lideres da sociedade.

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