domingo, 25 de novembro de 2012

POR QUE 20 DE AGOSTO, DIA DO MAÇOM?



A escolha do dia 20 de Agosto como o Dia do Maçom no Brasil está ligada à tão questionável literatura maçônica brasileira sobre o papel da Maçonaria na Independência do Brasil. Essa data entrou para o calendário oficial brasileiro como o Dia do Maçom por conta de proposta apresentada em 1957 na CMSB (Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil), que congrega as 27 Grandes Lojas brasileiras, proposta que foi posteriormente apresentada e aprovada no Congresso Nacional e promulgada pelo Presidente da República. Na época, vários Municípios e Estados já possuíam lei similar, e a Maçonaria brasileira em geral já comemorava seu dia em tal data.
A razão da Maçonaria Brasileira ter escolhido o dia 20 de Agosto foi por conta de Ata de reunião do então “Grande Oriente Brazílico”, datada do “20º dia do 6º Mês da Verdadeira Luz”. Nessa reunião, presidida por Gonçalves Ledo, os maçons presentes teriam aprovado a Independência do Brasil, sobre a qual D. Pedro seria informado e poderia aderir, tornando-se Imperador, ou voltar para Portugal.
Porém, há quem defenda que o “20º dia do 6º mês da Verdadeira Luz” pode não ter sido dia 20 de Agosto em 1822, atribuindo esse erro ao Barão do Rio Branco, como é o caso do célebre escritor, Irmão José Castellani que, em suas obras “Os Maçons na Independência do Brasil” e “Do Pó dos Arquivos”, defende que essa data correspondeu ao dia 09 de Setembro de 1822. Há ainda a teoria menos comum de que, seguindo o dia e mês judaicos à risca daquele ano, o dia “20 de Elul” pode ter sido o dia 06 de Setembro em 1822.
Assim, tem-se a teoria defendida pela CMSB, de 20 de Agosto; a já afirmada pelo GOB, de 09 de Setembro; e a teoria independente, de 06 de Setembro, apenas 01 dia antes do famoso grito de D. Pedro, às margens do Rio Ipiranga.
Para aprofundarmos um pouco mais no assunto, devemos esclarecer alguns conceitos:
Desde o surgimento da maçonaria especulativa, os maçons procuram imprimir uma ideia de antiguidade à instituição superior à dela mesma e criar formas de diferenciá-la das demais instituições.
Em 1822 houve uma reunião maçônica, presidida por Gonçalves Ledo, na qual a Maçonaria posicionou-se a favor da independência do Brasil. Qual foi o dia dessa reunião? Teria sido antes de 7 de Setembro, e esse ato teria influenciado indiretamente ou diretamente D. Pedro? Ou teria sido depois de 7 de Setembro, e esse ato atrasado não teve qualquer participação na história de nossa independência? A ata dessa histórica reunião apenas informa que foi no “20º dia do 6º mês do ano de 5.882″.
Para desvendar esse mistério, faz-se necessário compreender os calendários maçônicos adotados na época:
Um arcebispo anglicano irlandês, James Ussher, realizou uma série de cálculos no século XVII e determinou que, conforme a bíblia, o mundo teve origem no ano de 4.004 a.C. Seu cálculo dava até hora e data. Quase 100 anos depois, James Anderson, acreditando que a Maçonaria deveria marcar os dias de forma própria, diferente dos calendários adotados e ligados a religiões, criou o primeiro Calendário Maçônico. O Calendário de Anderson arredondava a criação do mundo para 4.000 a.C., então o ano maçônico passava a ser a soma do ano comum e 4.000 e era chamado de “Anno Lucis”.
No caso da França, pioneira da maçonaria latina, adotou-se o sistema de anos de Anderson, com um certo “plus”. O primeiro dia do ano foi tido como 1º de Março e os meses passaram a ser contados pelo número ordinal. Assim, o dia 24 de Junho de 1717 na maçonaria passava a ser “24º dia do 4º mês de 5.717 da Verdadeira Luz”. A maçonaria francesa serviu de modelo quando do surgimento da maçonaria em Portugal e no Brasil, as quais herdaram dela o nome “Grande Oriente”, além dos Ritos, constituição e outras características. Considerando o calendário maçônico francês, o 20º dia do 6º mês de 5.882 é exatamente o dia 20 de Agosto de 1.882. Nesse caso, a CMSB estava certa.
Mas na França também houve um costume de muitos Altos Corpos e até Lojas Simbólicas manterem o acréscimo de 4.000 no ano, sugerido por Anderson, mas usarem os dias e meses conforme o calendário judaico. Isso se deveu à influência da cultura judaica nos rituais e ritos maçônicos, além da relevante presença de judeus na maçonaria francesa. Tal costume pode ser visto até hoje em muitas Obediências, em que o calendário judaico, inclusive com o uso dos nomes dos meses em hebraico (Nissan, Elul, etc), é usado em certificados. Considerando esse calendário “judaico-maçônico”, o 20º dia do 6º mês de 5.882 (ano maçônico) seria exatamente o dia 06 de Setembro de 1.882. Porém, não se tem conhecimento de um maçom judeu entre os membros do então Grande Oriente Brasílico que poderia ter influenciado nesse sentido.
E há também o chamado no Brasil de “Calendário Maçônico Gregoriano”, defendido por Castellani como o sistema utilizado nas primeiras atas maçônicas brasileiras, que fixa o Equinócio Vernal no dia 21 de Março, o qual passa a ser o 1º dia do ano. Considerando esse calendário, o 20º dia do 6º mês de 5.882 seria exatamente o dia 09 de Setembro de 1.882. Mas essa teoria do 09 de Setembro, defendida por Castellani, esbarra em algumas questões. O calendário com início em 21 de março é tido como um calendário historicamente adotado pelo Rito Adonhiramita, rito esse no qual a Loja Comércio e Artes teria trabalhado inicialmente, e por isso defendido por Castellani. Porém, ao que tudo indica, em 1822 as três Lojas fundadoras do Grande Oriente do Brasil já trabalhavam no Rito Moderno, oficial no Grande Oriente da França e no Grande Oriente Lusitano, como o próprio Castellani evidenciou em sua obra “Fragmentos da Pedra Bruta”. Há então uma certa contradição. Outro ponto interessante é que o Calendário com início em 21 de março foi proibido pelo Grande Oriente da França ainda em 12/10/1774, o que leva à conclusão de que o Grande Oriente Lusitano nunca chegou a adotá-lo. Se em 1822 nem a França e nem Portugal o utilizavam, o qual estava em desuso desde 1774, por que o Brasil o teria usado?
Com base nos argumentos apresentados, a conclusão mais plausível é de que se tratou do calendário maçônico usual da época nos países latinos, ou seja, a reunião ocorreu no dia 20 de Agosto de 1.822. Alguns dias antes da independência proclamada.

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