O
maçom é sucessivamente exortado a edificar e restaurar templos.
Reconstruir templos danificados tem na Maçonaria significado simbólico
de grande profundidade filosófica. Isto porque na reconstrução concorrem
valores humanos significativos, bem mais intensos que na sua
construção. Para uma edificação ser reconstruída, esta deve possuir
valor inestimável, e são poucos
os abnegados que se habilitam
na empreitada de reconstruir algo danificado e com alta probabilidade de
ser destruído de novo. Na reconstrução de templos concorrem valores
como firmeza de decisão e perseverança no objetivo para concluir a
reconstrução, bem como, heroísmo no enfrentamento de terríveis e
insidiosos inimigos durante as atividades. A ordem maçônica usa de
ilustrações de reconstruções para provocar o raciocínio de restaurações
constantes de um tipo especial de templo: o homem integral.
Quando em Maçonaria se faz
referência a um templo, este designa o local de reunião dos maçons, e
por extensão simbólica, significa o "grande" Universo e o "pequeno"
Universo, aonde este último constitui a essência do próprio homem, sua
força vital, o seu corpo completo; o homem como um templo vivo.
Entende-se por corpo completo a sua constituição física e a força ativa
que o mantém vivo. Este conjunto complexo pode ser comparado a um
Universo em miniatura composto de: corpo, mente, emoção e
espiritualidade. Na soma total destes elementos, o espírito é
considerado encarnado, parte do corpo físico. A reconstrução deste tipo
de templo ocorre a cada iniciação, a cada nova modificação interior, em
resultado da auto-educação estimulada pela ordem maçônica. Cada pedreiro
trabalha com as ferramentas de que dispõe, em si mesmo e como resultado
de seu desenvolvimento físico, intelectual, emotivo e metafísico. O
sábio percebe a finalidade do desafio de modificar a si mesmo para o
bem. O sublime e principal propósito é levar o homem a conhecer-se
intimamente, de modificar-se, de reconstruir-se ou reorganizar-se
internamente ao templo vivo que cada um é.
No diálogo, "O Banquete", Platão
(428 a. C. - 347 a. C.) afirma que enquanto na juventude prevalece a
admiração pela beleza, no adulto amadurecido descobre-se a verdadeira
beleza na espiritualidade. É na maturidade que o homem desperta e se
considera parte de um templo maior que consiste em toda a vida do
"grande" Universo. Conscientiza-se que concorre para a realização de
todo o esplendor do milagre da vida estabelecido em leis naturais
espantosas, só compreendidas no amadurecimento espiritual adulto.
Entretanto, existem "adultos" que, ao não se modificarem internamente,
continuam menores de idade, dependentes da orientação de terceiros e
ainda não alcançaram idade madura. Neste caso não se trata do período da
vida compreendido entre a juventude e a velhice, ou a meia-idade, mas o
termo último de desenvolvimento humano, a fase de auto realização. É a
liberdade observada quando o homem não é culpado de sua própria
menoridade, de sua heteronomia, de deixar-se conduzir por um terceiro.
Heteronomia refere-se à deficiência onde a dependência não acontece for
falta de entendimento ou limitação fisiológica, mas da falta de coragem
ou preguiça de trabalhar em seu templo, presa de paixões desenfreadas ou
vícios degradantes. Para Platão, o adulto que venceu sua minoridade
reconhece que a beleza emana de sua característica espiritual,
essencialmente quando desenvolvida por si mesmo e em si mesmo. E isto
constitui a liberdade absoluta do homem, pois quando não padece de
heteronomia, é em seu "pequeno" Universo interior, qual templo, que o
homem adulto é soberano e senhor absoluto.
Um templo maçônico é a
representação simbólica do Universo maior, composta de toda matéria
animada e inanimada. É tão incrível a matéria deste "grande" Universo
que, se observada de perto, de bem perto, ao nível atômico e subatômico,
é como se toda a existência material fosse feita com absolutamente nada
de massa, de quase nada, quase que exclusivamente de espaço vazio. As
partículas são tão insignificantes e afastadas umas das outras em
espaços relativos tão grandes que, em essência, resulta apenas espaço
vazio. E é tão somente pela velocidade com que os elétrons giram ao
redor do núcleo que se manifesta a solidez da matéria. Em essência, a
matéria do Universo é feita de nada, de espaço vazio. Ser parte deste
todo e ao mesmo tempo deste nada, deste maravilhoso espetáculo da
matéria inanimada e animada pelo sopro da vida, é o que dá um importante
significado para a vida do homem. É uma distinção impar ser uma
individualidade diante do volume de matéria inanimada que existe. O
homem é feito da matéria inanimada do Universo, a qual recebeu vida de
uma forma ainda incompreensível para o seu conhecimento científico. É
natural que, respeitadas as devidas proporções, se considere o homem
como um "pequeno" Universo de matéria e energias aglutinadas e animadas
por uma energia vital e sobre o qual o intelecto sem heteronomia exerce
poder e comando.
Se as estrelas e planetas
exercem influências gravitacionais de uns sobre os outros, então as
partículas que formam o templo do homem, o seu "pequeno" Universo
interior, estão sob influência energética dos outros corpúsculos
semelhantes espalhados pelo "grande" Universo. É este pertencer que dá
grande significado para a vida do homem. Seu templo faz parte
indissolúvel do Universo e isto promove um maravilhoso significado para
exercer a liberdade com responsabilidade. É uma honra e distinção
impossível de esquecer o fato de ser premiado para viver com liberdade
dando conta de si mesmo no Universo.
Se destruído o corpo, ou parte
dele, ao nível da matéria e com a atual tecnologia disponível ainda é
impossível ao homem reconstruir um templo assim. Resta remendar o corpo
físico e mantê-lo funcionando mesmo que precariamente e em decadência
progressiva. Para viver com qualidade, o sábio cuida bem de sua saúde
física e emocional enquanto os anos lhe vão desgastando a maravilhosa
estrutura biológica, até o instante em que a regeneração química de suas
moléculas se torna impossível e o sopro da vida o abandona. Alguns
parceiros do homem que compartilham a biosfera terrestre têm em si a
capacidade de desenvolverem novos membros que lhes foram arrancados por
acidentes ou predadores, mas ao homem esta faculdade ainda não se
disponibilizou. Já o templo interior do homem é passível de
reconstrução, basta que para isto se parta para a ação com vontade e
perseverança. A capacidade de reconstruir o templo interior, uma vez
destruído, é uma capacidade que cada homem possui em potencial. É só
deixar que esta inclinação espiritual se manifeste e se obedeça ao bom
senso de seguir sempre em frente.
Simbolicamente, a ação nobre da
espada inibe a aproximação e defende do inimigo externo e subjuga e mata
o inimigo interno, enquanto a trolha, na mão do trabalhador da pedra,
participa na edificação e reedificação de templos. A trolha constrói o
templo externo de pedra, assentando as pedras, em cujo interior, ao
alisar as paredes, melhora as relações entre as pedras vivas que estão
construindo e reconstruindo templos vivos. Os maçons reúnem-se num
templo de pedra que representa o Universo, local sagrado onde cada
indivíduo reconstrói seu próprio lugar sagrado, o templo de si mesmo. É
local também onde se provoca e incentiva ao seu irmão a edificar e
melhorar seu templo. Cada um atua num templo de carne que é a
representação em miniatura do Universo dentro de um templo de pedra que
representa o Universo. Os templos melhorados pelo trabalho em si mesmos
agradecem ao privilégio de vestirem ossos com carne, animados pela força
ativa do espírito que exalta o dom da vida. É pelo conjunto de todo o
trabalho de construção e reconstrução, planejado racionalmente, que o
maçom declara a glória do Grande Arquiteto do Universo.
Charles Evaldo Boller
Bibliografia:
1. CAMINO, Rizzardo da, Rito Escocês Antigo e Aceito, Graus um ao Trinta e Três, ISBN 978-85-370-0222-3, primeira edição, Madras Editora Ltda., 302 páginas, São Paulo, 2009;
2. CLAUSEN, Henry C., Comentários Sobre Moral e Dogma, primeira edição, 248 páginas, Estados Unidos da América, 1974;
3. MIRANDA, Pedro Campos de, Os Caminhos da Maçonaria, ISBN 85-7252-216-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 160 páginas, Londrina, 2006;
4. SANSÃO, Valdemar, O Despertar para a Vida Maçônica, ISBN 85-7252-206-9, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 192 páginas, Londrina, 2005;
5. SOBRINHO, Octacílio Schüler, Maçonaria, Introdução Aos Fundamentos Filosóficos, ISBN 85-85775-54-8, primeira edição, Obra Juridica, 158 páginas, Florianópolis, 2000;
6. SPOLADORE, Hercule, O Homem, o Maçom e a Ordem, ISBN 85-7252-204-2, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 194 páginas, Londrina, 2005.
Prezado Ir.'.!
ResponderExcluirAchei magnífico este trabalho, ainda que não tenha conseguido ler muito bem as explicações, dado o tamanho da imagem no computador.
De qualquer forma, questiono se é possível que o Ir.'. repasse-o para que eu aprecie o trabalho e o repasse à minha Loja.
Se for possível, deixo meu email: daniel@agostini.adv.br, daniel.agostini@ig.com.br
TFA,
Daniel Agostini
ARLS Cidade de Montenegro nº 230 - G.L.M.E.R.G.S
Pod.'. Ir.'.,
ResponderExcluirExcelente trabalho e exposição. Pergunto se me é possível obter a imagem com melhor resolução para estudos.
Deixo meu email para contato: rodrigomsilva@gmail.com
TFA.'.
Rodrigo Martins, MI.'.
ARLS Illuminati n°247 - GOMG - COMAB